Clássico contra o autoritarismo, ‘O Arquiteto e o Imperador da Assíria’ se apresenta gratuitamente em São Paulo neste mês

Com assinatura do grupo Garagem 21 e atuação de Helio Cicero e Pedro Conrado, peça espanhola de Fernando Arrabal discute os caminhos do totalitarismo

Cena do espetáculo – Foto: Bob Sousa

O Arquiteto e o Imperador da Assíria, do Grupo Garagem 21, se apresenta gratuitamente em teatros de São Paulo em maio. Neste final de semana as apresentações acontecem de 05 a 07 de maio, no Teatro Cacilda Becker, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Na sequência a montagem será apresentada no Teatro Arthur Azevedo, entre os dias 12 e 14 de maio, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h.

As apresentações são gratuitas, basta retirar o ingresso com uma hora de antecedência na bilheteria ou na Sympla. Mais recente montagem do clássico escrito em 1967 pelo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, a obra é uma das peças fundamentais da reflexão sobre o pós-guerra e o totalitarismo que culminou no confronto. Na temporada atual, Helio Cicero segue na interpretação do Imperador, enquanto o personagem do Arquiteto passa a ser interpretado pelo ator Pedro Conrado. A direção é de Cesar Ribeiro

Situada em uma ilha deserta, a peça se inicia com um desastre aéreo que leva seu único sobrevivente a entrar em contato com um nativo que jamais teve contato com outro ser humano. A partir dessa interação, o sobrevivente busca impor ao outro suas ideias de cultura e civilização, retratando a violência cultural inserida no processo de formação da sociedade. 


“Utilizando a cultura para seduzir o Arquiteto sobre as supostas maravilhas da civilização, além da construção da linguagem, há o processo de formação do Estado e do conhecimento de toda a estrutura social, em que entram conceitos como política, religião, família, relações afetivas, artes, filosofia e a própria noção de humano, termos desconhecidos pelo nativo e sempre apresentados pelo Imperador de modo distorcido, trazendo conexões com as ideias de fake news e pós-verdade”, analisa o diretor.


Apesar de preservar o texto original de Arrabal na adaptação, o grupo inseriu trechos de obras de outros autores, como do dramaturgo irlandês Samuel Beckett e o editorial do dia seguinte ao golpe militar de 1964. Segundo o diretor, trata-se de inserções pontuais que complementam frases de Arrabal e reforçam as semelhanças que regimes totalitários têm entre si. 

O cenógrafo J. C. Serroni optou por criar um terreno distópico próximo a uma estética contemporânea que remete a jogos eletrônicos e HQs. O desastre também deixa rastros, a cabine e a poltrona do avião, que se tornam, respectivamente, a cabana e o trono do Imperador. 

A inspiração para esse cenário apocalíptico é múltipla. Há elementos da saga japonesa Ghost In The Shell; do artista plástico suíço H. R. Giger, reconhecido pela estética metalizada e futurista de Alien; do cinema expressionista alemão; e das propostas cênicas do encenador polonês Tadeusz Kantor. O figurino de Telumi Hellen também responde à uma estética futurista fundida à moda elisabetana, com influências do estilista britânico Gareth Pugh. 


“O encenador [Cesar Ribeiro] não economiza tintas para explorar e aprofundar as características do Teatro do Absurdo, numa estética dura, escura e asfixiante. A ilha nada paradisíaca e devassada reforça o desalento das personagens e como o colonizador apenas se interessa por dominar, mesmo diante da escassez. – Celso Faria, no site E-Urbanidades


Com elementos narrativos contra o autoritarismo e críticas ao governo de Jair Bolsonaro, o diretor Cesar Ribeiro pontua que a obra segue atual. O ponto central da encenação é abordar como determinados modos da narrativa, que representam uma visão da realidade, servem a um projeto totalitário de poder que se pretende salvador, mas que, para exercer essa ideia de salvação, constrói a destruição do outro, do divergente, seja por meio de crimes diretamente executados por agentes do Estado ou por diversos mecanismos de coerção e perseguição.


“Vivemos um momento de tentativa de superação do trauma e de reconstrução dos afetos e do país como um todo. Infelizmente, reestrear agora não modifica em nada a necessidade do texto do Arrabal porque, apesar da mudança de governo, ainda há uma grande parcela da população que opta pelo autoritarismo para que sua visão de mundo seja imposta ao outro. Imagino que serão quatro anos de busca de criação de uma nova perspectiva de país, mais includente e com um foco na diminuição da injustiça social, como no belo discurso de posse de Silvio Almeida”, pontua.


SOBRE O GRUPO GARAGEM 21

O grupo Garagem 21 surgiu em 2009, na cidade de São Paulo, fundado por Cesar Ribeiro. Desde o princípio, centra suas pesquisas na investigação da ideia de poder e suas extensões no corpo social. Do ponto de vista estético, procura um híbrido do teatro com outras linguagens, como quadrinhos, videogames, desenhos animados e dança contemporânea, em busca de uma forma de fazer teatro relacionada à transformação social propiciada pelas novas tecnologias e capaz de fomentar um público contemporâneo e alheio ao teatro, além da continuidade do público usual.

Neste período, encenou as seguintes peças: “O Arquiteto e o Imperador da Assíria (2021), “Esperando Godot” (2016), “Cigarro Frio em Noites Mornas” (2012), “Fim de Partida” (2011), “Fodorovska” (2010), “Somente os Uísques são Felizes” (2009) e “Sessenta Minutos para o Fim” (2009).

“O arquiteto e o imperador da Assíria” foi selecionado no Prêmio Zé Renato de Produção do segundo semestre de 2019, no Prêmio Zé Renato de Circulação do primeiro semestre de 2022 e no edital ProAC de Circulação do mesmo ano. “Esperando Godot” foi indicado ao Prêmio Shell de Figurino e selecionado no Edital ProAC de Circulação de 2017. O Grupo Garagem 21 ainda prepara para 2023 a montagem de “Dias Felizes”, texto de Samuel Beckett com atuação de Lavínia Pannunzio e Helio Cicero.

A companhia apresentou-se também em diversos festivais, como: Festival Nacional de Teatro de Ribeirão Preto (SP), Festival de Teatro de Curitiba (PR), Funalfa – Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora (MG), Floripa Teatro (SC), Festival de Teatro de Lages (SC), Festival de Teatro de Campo Mourão (PR), Festival de Teatro de Catanduva (SP), FestCamp (Campo Grande/MS), Festival Nacional de Teatro Pontos de Cultura (Floriano/PI), Mostra Jacareiense de Artes Cênicas (Jacareí/SP), Festival de Teatro da Unicentro (Guarapuava/PR), Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba (São José dos Campos/SP) e Festival Nacional de Comédia (Alegre/ES). Apresentou-se ainda na primeira e na segunda edição da Festa do Teatro e na edição 2010 da Virada Cultural.

SINOPSE

Em uma ilha isolada, um desastre aéreo conduz ao relacionamento entre o único sobrevivente do acidente e um nativo que nunca teve contato com outro ser humano, em que o primeiro tenta impor ao outro sua ideia de cultura e civilização.

FICHA TÉCNICA

Este projeto tem apoio da 15ª Edição do Prêmio Zé Renato para a Cidade de São Paulo

Texto: Fernando Arrabal

Direção, tradução e adaptação: Cesar Ribeiro

Elenco: Helio Cicero e Pedro Conrado

Direção de produção: Kiko Rieser

Cenário: J. C. Serroni

Desenho de luz: Aline Santini

Figurinos: Telumi Hellen

Sonoplastia: Raul Teixeira e Mateus Capelo (efeitos sonoros) e Cesar Ribeiro (músicas)

Visagismo: Louise Helène

Assistência de produção: Lara Paulauskas

Arte gráfica: Patrícia Cividanes

Fotos: Bob Sousa

Registro em vídeo: Nelson Kao

Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques

SERVIÇO
O Arquiteto e o Imperador da Assíria

TEATRO CACILDA BECKER
05 a 07 de maio, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h
Endereço:  R. Tito, 295 – Lapa, São Paulo – SP

TEATRO ARTHUR AZEVEDO
12 a 14 de maio, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo – SP

TEATRO ALFREDO MESQUITA
02 a 04 de junho, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h
Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 – Santana, São Paulo – SP