César Oiticica no Paço Imperial: Exposição “Frente a Frente”

César Oiticica no Paço Imperial: Exposição “Frente a Frente”

César Oiticica, único artista vivo do Grupo Frente – importante movimento artístico criado há exatos 70 anos no Rio de Janeiro e marco do movimento construtivo no Brasil –, inaugura a exposição “Frente a Frente” no Paço Imperial em 13 de novembro de 2024. Com curadoria de Paulo Venancio Filho, a mostra apresenta 20 obras inéditas ou há muito tempo afastadas do público, muitas delas criadas durante o período em que Oiticica fez parte do Grupo Frente, fundado por Ivan Serpa em 1954 e que contou com artistas como Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Rubem Ludolf, entre outros. A exposição também exibe obras recentes, oferecendo um panorama da trajetória do artista.

“O Grupo Frente foi definitivo, um momento importante que levou a nossa geração, pelas mãos do Ivan Serpa, que era um intelectual, um mestre, um visionário, a trilhar o caminho, a ter um entendimento artístico diferente. Ele abriu as portas para uma visão lúdica, abstrata, moderna, transformadora. Foi um momento fundamental para mim, para todos aqueles artistas jovens que estavam ali, revolucionando, sem saber, um olhar para a arte brasileira, e especialmente para o Hélio”, afirma César Oiticica.

Entre 1954 e 1956, César Oiticica produziu os trabalhos históricos — desenhos e cartões — enquanto integrava o Grupo Frente, no qual ingressou aos 16 anos, sendo o mais jovem membro do coletivo. “Em seus desenhos, ele organiza a superfície em sucessivos planos de cor, em perfeita sincronia com as obras de seus colegas do Grupo, artistas já experientes. Ali, já percebemos as motivações que hoje consideramos clássicas dos primórdios da abstração geométrica entre nós; ele explora as relações planas entre forma e cor, rigorosas sequências, repetições e contraposições que manifestam uma livre polirritmia estrutural”, afirma o curador Paulo Venancio Filho no texto da exposição.

César participou da 2ª e da 4ª exposição do Grupo Frente e da 1ª exposição de Arte Concreta no MAM Rio, em 1955.

“Nos seus desenhos e cartões, sentimos o clima de uma época e a decidida intenção construtiva de um jovem no primeiro momento de sua trajetória; a livre estruturação das articulações, combinações e relações formais que caracterizava a abstração geométrica do Grupo, antecipando o neoconcretismo”, diz o curador.

O artista participou, ainda, das últimas exposições do Grupo, que ocorrem em 1956, em Resende e em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, organizada pelos concretos de São Paulo com a colaboração do grupo carioca, em dezembro de 1956 no MAM São Paulo e em fevereiro de 1957 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro. Após a mostra, o Grupo Frente começa a se desintegrar. Dois anos depois, alguns de seus integrantes iriam se reunir no Movimento Neoconcreto, um dos mais importantes da arte moderna brasileira.

O artista também apresentará relevos espaciais recentes na exposição “Frente a Frente”. Essas obras, estruturas tridimensionais geométricas e monocromáticas, exibem tons solares, como amarelos, vermelhos e laranjas, e se desenvolvem no espaço. César Oiticica começou a criar esses relevos a partir de 2015, quando retomou seu trabalho artístico após quase 50 anos atuando como arquiteto em Manaus, onde dirigiu a Companhia de Habitação do Amazonas (COHAB-AM) e se dedicou ao Projeto Hélio Oiticica, associação sem fins lucrativos fundada em 1981, após a morte de seu irmão, para preservar, estudar e divulgar sua obra.

“Sessenta anos mais tarde, observamos um salto. É de se pensar e analisar como uma pulsão artística permanece viva, capaz de retornar intacta depois de longa interrupção. Intacta, mas transformada, pois percebemos nos relevos de Cesar Oiticica, realizados a partir de 2015, uma espécie de eclosão do espaço bidimensional impulsionada pela cor, tal é a energia cromática insubmissa quanto à forma, exigindo uma expansão e desdobramento no espaço – são relevos que se expandem como o disparo de uma mola”, diz Paulo Venancio Filho sobre os trabalhos recentes. “Tantas décadas depois de sua participação no Grupo Frente é uma determinação preservada que irrompe nessas obras tridimensionais dando um salto no tempo para se reencontrar com as de seus contemporâneos nos últimos momentos do neoconcretismo”, ressalta.

As obras históricas e recentes dialogam na exposição, apresentando um completo panorama da trajetória do artista. “Tanto nos trabalhos históricos quanto nos recentes, encontramos explorações plásticas neoconcretas, o seu momento histórico e os desenvolvimentos ulteriores”, afirma o curador Paulo Venancio Filho.

SOBRE O ARTISTA

César Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1939, onde vive e trabalha, É artista, arquiteto e diretor do Projeto HO no Rio de Janeiro dedicado à preservação e divulgação da obra de seu irmão Hélio.  Começou seus estudos de pintura em 1954 no Curso Livre de Pintura de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Integrante do Grupo Frente, César participa da segunda exposição do Grupo realizada, em 1956, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, da terceira e quarta do Grupo, realizadas em Itatiaia e Volta Redonda e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta que ocorre em dezembro de 1956 no MAM SP e, em 1957, no MAM Rio. Em 2015 retoma seu trabalho artístico.

Como curador, foi responsável pelas exposições “José Oiticica Filho: Fotografia e Invenção” (Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2007) e “Hélio Oiticica: Penetráveis” (Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2008), além de ter sua obra exposta, desde 1984 até 2017, em inúmeras exposições em importantes instituições no Brasil e no exterior.

Serviço: César Oiticica – Frente a Frente

Abertura: 13 de novembro de 2024, das 14h às 19h

Exposição: até 2 de fevereiro de 2025

Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial

Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ

Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h.

Entrada gratuita

marramaqueadmin

MAM São Paulo inaugura 38º Panorama da Arte Brasileira
Ele se chama Bilibeu. Ou Santo Bilibeu, ou ainda Bilibreu. Esculpido em madeira e retinto como o breu, o santo é festejado todos os anos, na Baixada Maranhense, entre as cidades de Viana, Matinha e Penalva. As pessoas que o cultuam foram por décadas chamadas de ‘caboclos’ e apontadas pejorativemente como ‘os índios’. Foi em novembro 2014 que “os índios” passaram a reivindicar perante o Estado e a sociedade envolvente uma identidade indígena específica (não mais genérica). Os Akroá Gamella sempre esteveram ali, demarcando suas terras com os pés, como eles mesmo dizem, e utlizando os recursos naturais, sob regras específicas, com o intuito de preservar a natureza e manter a sua subsistência físisca e simblólica. Foi em segredo mantiveram vivos Entidades que sobreviveram à censura identitária e ao racismo. Bilibeu foi um deles, o mais conhecido de todo os Encantados locais. São Bilibeu perseverou ao silenciamento e permaneceu preservado publicamente porque ficou mimetizado dentro das comemorações do carnaval. Nesse período em que “tudo pode”, Bilibeu pode existir e sair às ruas num festejo que dura 4 dias, no qual dezenas de crianças e adultos pintados de carvão, marcham durante dez ou doze horas, incorporando os ‘cachorros de Bilibeu’ que, de casa em casa, de aldeia em aldeia, caçam. A matilha de cachorros e cachorras, sob orientação de um chefe, o ‘gato maracajá’, caçam comida e bebida para oferecer ao santo que em um determinando momento do ritual morre, é enterrado, sob o choro de mulheres, e renasce na manhã seguinte para continuar dando fartura e fertilidade ao povo Akroá Gamella. Se antes, era celebrado no carnaval, hoje o povo Akroá Gamella, escolheu outra data para o ritual. O dia 30 de abril é, desde de 2019, a data em que Bilibeu é cultuado. Bilibeu definitivamente não é uma festa, é um rito. Um rito que agora marca um evento de muita dor, tristeza e revolta. Pois foi nesse dia, no ano de 2017, que