Cartas para o Futuro | Fotógrafo Marcelo Oséas inaugura nova exposição

Cartas para o Futuro | Fotógrafo Marcelo Oséas inaugura nova exposição

Com olhar interno para a vida caiçara, fotógrafo Marcelo Oséas apresenta a nova exposição Cartas para o Futuro, a partir do dia 15 de abril, em Paraty

Abril de 2023 — Compartilhando o fascínio pelo mar, as vivências com os povos caiçaras e os sonhos sobre o tempo porvir, o fotógrafo Marcelo Oséas inaugura, na sexta-feira (14), a exposição Cartas para o Futuro, em parceria com a Fazenda Bananal, em Paraty (RJ). Além de ocupar o casarão tombado pelo Patrimônio Histórico da fazenda com a mostra central, uma versão pocket da exposição acontecerá na galeria do artista, localizada no centro histórico da cidade.

“Precisamos falar do futuro”, afirma o fotógrafo e curador Oséas, envolto nas 20 obras que compõem a nova mostra, sendo 17 fotografias inéditas, que percorrem as formas de viver e os espaços ocupados pelas comunidades caiçaras de Paraty. Coletivos que convivem em harmônia com o mar, o mangue e a fauna e a flora da Mata Atlântica — hoje, menos de 12,5% do bioma original está preservado.

“Nossas escolhas — as minhas e as de cada um de vocês — definirão a possibilidade da nossa existência daqui para frente”, lembra Oséas, enquanto apresenta imagens que convidam à reflexão sobre a vida das comunidades que estão em comunhão com a natureza e os caminhos necessários para a continuidade desse equilíbrio. Para o artista e, antes, para o ambientalista e líder indígena Ailton Krenak, o futuro é ancestral.

Inclusive, a parceria com Fazenda Bananal para viabilizar a exposição — que será itinerante e que contará com compensação ambiental — é parte daquele futuro que Oséas busca. Ocupando uma área de 187 hectares, o parque ecológico de imersão na Mata Atlântica preserva 70% da floresta nativa e oferece diversas experiências envolvendo questões como sustentabilidade e cultura paratiense.

Exposição Cartas para o Futuro

Através das 20 obras selecionadas, o fotógrafo foca na cultura e nos espaços ocupados pelas comunidades caiçaras de Paraty. Mais do que isso, Oséas expande o imaginário de quem está de fora para essa forma de vida. A mostra é um convite para ver o que eles veem em suas rotinas, antes de se lançarem ao mar. São as flores, singelas ou exuberantes, as árvores, os barcos, as montanhas da baía, o mar e o horizonte, preenchido pelos futuros possíveis.

O fascínio e a relação com a cultura caiçara, que é uma das mais diversas do país, começou ainda na primeira infância do fotógrafo, quando Oséas morou em Ubatuba, cidade localizada no litoral norte de São Paulo e próxima ao Rio, onde a presença do povo que vive do mar é muito viva.

Unindo memórias da infância e as vivências da vida adulta, Oséas mimetiza um jardim caiçara na expografia da mostra, permeada pelo aroma da flor jasmim-de-leite, das pitangueiras e das folhas secas, comuns na região. Fitilhos de algodão cru, tingidos naturalmente, preenchem o ambiente em alusão à diversidade da Mata Atlântica. No espaço, formam sinuosas curvas e divisórias que remetem aos caminhos internos das tantas comunidades que colocam Paraty como um dos grandes centros da cultura caiçara brasileira. Posteriormente, os retalhos serão usados nas embalagens da galeria.

Construídas a partir das madeiras que já integraram os barcos que cruzam a Baía de Paraty, as molduras das obras são um detalhe à parte. Fora de uso e abandonado nos estaleiros, o material teria como fim a fogueira, se não fosse ressignificado pelo artista. Na mostra, tornam-se uma espécie de moldura-escotilha, focando o olhar para os modos de vida caiçara.

Responsabilidade social e ambiental

Como parte do processo artístico de Oséas, está a questão socioambiental. Na exposição Cartas para o Futuro, um terço do valor de cada fotografia vendida será destinado para a comunidade fotografada. Em paralelo, cada venda possibilita o plantio de uma nova árvore, ampliando as atividades de reflorestamento na região. O plantio das mudas é feito através da organização The Nature Conservancy (TNC), responsável por selecionar espécies nativas de cada bioma beneficiado.

Serviço:

Exposição Cartas para o Futuro

Quando? A partir do dia 14 de abril, com data final indefinida.

Onde? Fazenda Bananal – Estrada da Pedra Branca – Paraty – RJ.

Horário? Todos os dias, das 10h às 18h. É possível entrar até às 17h.

Quanto? Valor de entrada na fazenda, incluindo a exposição e outras atividades, é de R$ 60,00, com meia-entrada para grupos específicos. Os moradores da cidade têm entrada livre às quartas-feiras.

Mais informações: https://fazendabananal.com.br/

Exposição Cartas para o Futuro | Versão pocket

Quando? A partir do dia 14 de abril, com data final indefinida.

Onde? Marcelo Oséas Galeria – Rua Dr. Pereira, 125 – Centro Histórico de Paraty – RJ.

Quanto? Gratuita.

Sobre Marcelo Oséas @marcelooseas

Fotógrafo documental, Marcelo mora entre as cidades de Paraty e São Paulo. Estudou Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP) e atuou por nove anos em grandes companhias brasileiras, assim como no terceiro setor. Migrou integralmente para a fotografia em 2012.

Sua produção está relacionada às expressões artísticas autóctones brasileiras, assim como culturas tradicionais, como a indígena, caiçara e sertaneja. Mantém como campo de pesquisa os processos de assimilação da sociedade de consumo dos elementos culturais nativos, com sua consequente integração ou eliminação.

Destaques dos últimos anos:

2019: Exposição individual na Galeria Yankatu, intitulada “Uma Crônica Munduruku”;
2019: Exposição Duas Crônicas no Museu A Casa, compartilhada com a designer Maria Fernanda Paes de Barros;
2020-22: Expedição pelo projeto de livro BrasisQueVi do arquiteto Gabriel Fernandes, para 12 Estados brasileiros;
2022: Inauguração da Marcelo Oséas Galeria na cidade de Paraty/RJ;
2022-3: Exposição solo – Tivoli Mofarrej – Quase Dez Anos.

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MAM São Paulo inaugura 38º Panorama da Arte Brasileira
Ele se chama Bilibeu. Ou Santo Bilibeu, ou ainda Bilibreu. Esculpido em madeira e retinto como o breu, o santo é festejado todos os anos, na Baixada Maranhense, entre as cidades de Viana, Matinha e Penalva. As pessoas que o cultuam foram por décadas chamadas de ‘caboclos’ e apontadas pejorativemente como ‘os índios’. Foi em novembro 2014 que “os índios” passaram a reivindicar perante o Estado e a sociedade envolvente uma identidade indígena específica (não mais genérica). Os Akroá Gamella sempre esteveram ali, demarcando suas terras com os pés, como eles mesmo dizem, e utlizando os recursos naturais, sob regras específicas, com o intuito de preservar a natureza e manter a sua subsistência físisca e simblólica. Foi em segredo mantiveram vivos Entidades que sobreviveram à censura identitária e ao racismo. Bilibeu foi um deles, o mais conhecido de todo os Encantados locais. São Bilibeu perseverou ao silenciamento e permaneceu preservado publicamente porque ficou mimetizado dentro das comemorações do carnaval. Nesse período em que “tudo pode”, Bilibeu pode existir e sair às ruas num festejo que dura 4 dias, no qual dezenas de crianças e adultos pintados de carvão, marcham durante dez ou doze horas, incorporando os ‘cachorros de Bilibeu’ que, de casa em casa, de aldeia em aldeia, caçam. A matilha de cachorros e cachorras, sob orientação de um chefe, o ‘gato maracajá’, caçam comida e bebida para oferecer ao santo que em um determinando momento do ritual morre, é enterrado, sob o choro de mulheres, e renasce na manhã seguinte para continuar dando fartura e fertilidade ao povo Akroá Gamella. Se antes, era celebrado no carnaval, hoje o povo Akroá Gamella, escolheu outra data para o ritual. O dia 30 de abril é, desde de 2019, a data em que Bilibeu é cultuado. Bilibeu definitivamente não é uma festa, é um rito. Um rito que agora marca um evento de muita dor, tristeza e revolta. Pois foi nesse dia, no ano de 2017, que