As mulheres de Tijucopapo

Marilene Felinto
PREFÁCIO Beatriz Bracher
POSFÁCIO Leila Lehnen
TEXTOS COMPLEMENTARES Ana Cristina
Cesar, João Camillo Penna, José
Miguel Wisnik, Marilena Chaui,
Viviana Bosi
160 pp.
R$ 54,90
Livro de maio do Circuito Ubu.
Em pré-venda no site da Ubu a
partir de 16/5.
Nas livrarias em 1/6.
Sobre o livro
“Vou ter que ver por que minha mãe nasceu lá em Tijucopapo. E, caso haja uma guerra, a culpa é dela.” A potência da linguagem da escritora e tradutora Marilene Felinto se mostra mais atual do que nunca. Romance emblemático da autora, As mulheres de Tijucopapo ganha edição crítica, com novo prefácio da escritora Beatriz Bracher, posfácio da pesquisadora Leila Lehnen e fortuna crítica com ensaios e resenhas de Ana Cristina Cesar, João Camillo Penna, José Miguel Wisnik, Marilena Chaui e Viviana Bosi.
Escrito em 1982, quando a autora tinha 22 anos, o livro narra a viagem de retorno da narradora Rísia a Tijucopapo, localidade fictícia onde sua mãe nasceu, que evoca a história real de Tejucupapo, no Pernambuco. No século XVII, a cidade foi palco de uma batalha entre mulheres da região e holandeses interessados em saquear o estado. Nas entrelinhas de As mulheres de Tijucopapo, conta-se a história das mulheres guerreiras de Tejucupapo.
O livro se constrói como um fluxo de consciência literário cujo teor histórico, feminista e antirracista se evidencia no trajeto que a narradora faz de volta a essa terra mítica, iluminando as contradições inerentes à sociedade e à cultura multirracial brasileira. Nas palavras da poeta Ana Cristina Cesar, a
narrativa autobiográfica é “traçada em ziguezague, construída toda em desníveis, numa dicção muito oral, atravessada de balbucios, repetições, interrupções, associações súbitas”.
Em trajeto reflexivo, a personagem vai em busca das origens, para assimilar as experiências da infância e a dor da diferença vivida na capital paulista. Quanto mais ela se aproxima de Tijucopapo, mais perto chega de se tornar, ela própria, uma mulher de Tijucopapo. A força das guerreiras pernambucanas é a imagem invertida da fraqueza de Rísia, menina pobre de muitos irmãos, que se refugia na gagueira por impossibilidade de exprimir seu ódio.
A obra rompe com definições normativas, ocupando um espaço novo entre a narrativa ficcional, o depoimento pessoal e o discurso poético. De acordo com Caio Fernando Abreu, “com voz inconfundível, sensibilidade, talento e precisão, a autora demarca um território novo na literatura brasileira”.
O que falam desta obra
“Obra de trauma e triunfo, criança recém-nascida […] que esperneia e estraçalha o céu em um canto temerário. [Marilene tem] a força inaugural de quem é capaz de se impor como escritora e de ser a primeira a atiçar as energias que poderão desencantar literariamente a sua geração.” – José Miguel Wisnik
“A história de Rísia é a história de uma mulher – ou mesmo de muitas mulheres – pobres, negras, nordestinas, retirantes. Mulheres que sofrem a violência interseccional e que revidam esta violência com a força de sua criatividade.” – Leila Lehnen
“literatura é de um material como que estrangeiro, que nos separa dessa proximidade do sentimento bruto, nos descola de nós e da língua das nossas pessoas. Não é preciso […] ‘androgenizar-se’ (como queria Virginia Woolf) para fazer grande literatura. A trip de Marilene terá direção: literária.” – Ana Cristina Cesar
“[A obra] possui o raro valor de unir força de sentimento e de linguagem. É um livro comovente […], que alterna ritmos pesados e leves, em cadência de arrebentação: espraia e reflui, arreganha ou alarga.” – Viviana Bosi
“Embora seja um primeiro livro, Marilene já nasce com identidade própria. Não é uma ‘estreia promissora’, mas um autor com face definida, guardando em seus traços certa rispidez como a de Graciliano Ramos, aliada à paixão de dizer até o fundo (e dizer de forma cristalina o aparentemente indizível) que caracterizava Clarice Lispector.” – Caio Fernando Abreu
Sobre Marilene Felinto
Marilene Felinto nasceu em Recife, em 1957, e foi criada em São Paulo, para onde sua família se mudou em 1968. É formada em Letras pela FFLCH-USP, escritora de ficção e crítica. Seu primeiro romance, As mulheres de Tijucopapo (1982) lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Autor Revelação (1983) e o prêmio de melhor romance inédito da União Brasileira de Escritores (1982) e foi traduzido para o inglês, o francês, o holandês e o catalão. Tem outros romances publicados, coletâneas de contos e ensaios diversos, entre eles Autobiografia de uma escrita de ficção, ou: porque as crianças brincam e os escritores escrevem (sua dissertação de mestrado, ed. da autora, 2019); Fama e infâmia: uma crítica ao jornalismo brasileiro (ed. da autora, 2019); Contos reunidos (ed. da autora, 2019); Sinfonia de contos de infância (ed. da autora, 2019); Obsceno abandono (Record, 2002); Jornalisticamente incorreto (Record, 2000); O lago encantado de Grongonzo (Guanabara, 1987); Outros heróis e este Graciliano (Brasiliense, 1983). É também
tradutora do inglês (Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, Ralph Ellison, Tom Wolfe, Richard Burton, entre outros). Foi escritora convidada da Universidade da Califórnia de Berkeley, nos Estados Unidos, (1992), da Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, na Alemanha (1994), do Ministério da Cultura da França (1998), da Universidade de Utrecht, na Holanda (2012) e da Universidade de Coimbra, em Portugal. Atuou em órgãos de imprensa como a Folha de S. Paulo e na revista Caros Amigos. Foi autora convidada da Festa Literária Internacional de Paraty de 2019 e do Festival de Literatura Latino-Americana de 2019, em Houston e San Antonio, nos Estados Unidos. Site: marilenefelinto.com.br.