Fernanda Figueiredo se junta a grupo de artistas e curadores brasileiros convidados para eventos do circuito artístico internacional.
A brasileira Fernanda Figueiredo está entre os artistas que participam da 4ª Bienal de Arte Industrial, que acontece entre 13 de maio e 30 de junho na Croácia. Com o tema “Landscapes of Desire”, ou “Paisagens do Desejo” em tradução livre, o evento convidou artistas de todo o mundo para refletir sobre os efeitos da Revolução Industrial sobre a arte e a sociedade locais.
Para criar as obras que participam da Bienal, a artista residente em Berlim fez uma imersão nas pequenas cidades de Rasa, Labin, Pula e Rijeka, que sediam o evento. A partir de referências coletadas nos quatro locais, que incluem prédios de arquitetura modernista, cartazes de publicidade antigos, graffiti e a vegetação regional, surgiram as pinturas da série “Barbaric Protopia” (Protopia Bárbara).
Apesar da distância entre Brasil e Croácia, a artista vê paralelos entre os dois países, principalmente em relação ao significado que a arquitetura modernista teve no passado. “Assim como a arquitetura modernista no Brasil, o projeto da Iugoslávia Socialista (da qual a Croácia fez parte até o início dos anos 90) era um projeto utópico, onde a arquitetura tinha um papel decisivo para o objetivo de projetar um futuro melhor para a sociedade. A arquitetura reflete essa ideia que se tinha do futuro, enquanto as camadas das intervenções humanas revelam suas reais condições atuais”, diz Figueiredo.
Grande parte dessas construções modernistas hoje se encontram abandonadas, contrastando o futuro utópico que um dia representaram e o ressurgimento de correntes autoritaristas e nacionalistas no presente. Ainda assim, o trabalho de Figueiredo deixa espaço para o otimismo: por definição, uma “protopia” não prevê um futuro perfeito nem catastrófico, apenas almeja um amanhã que seja pelo menos um pouco melhor que o presente.
A artista também realizará uma exposição em solo brasileiro em junho deste ano, na OMA, galeria que a representa. Única brasileira a participar da Bienal na Croácia, Figueiredo se junta ao grupo de brasileiros que têm conquistado espaço nos eventos internacionais de arte. Um deles é Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, anunciado recentemente como curador da próxima Bienal de Veneza. Isabella Rjeille, também do MASP, foi convidada para fazer a curadoria da 6ª edição da Trienal do New Museum, museu de arte contemporânea de Nova Iorque, junto a Vivian Crockett, curadora da instituição.
Sobre Fernanda Figueiredo:
Baseada em Berlim, na Alemanha, a artista trabalha principalmente com pinturas, investigando como se deu a formação da identidade nacional brasileira. Fernanda estuda como, no século XX, os artistas modernistas brasileiros olharam para o Modernismo Europeu como um símbolo de progresso, tomando-o como referência para formar uma nova identidade cultural de um Brasil que deveria ser mais desenvolvido e feliz. Esse projeto é confrontado pela artista com o contexto político atual, sob o fenômeno da extrema-direita que ganhou força nos últimos tempos. Participou de salões como o SARP em Ribeirão Preto e o Salão de Abril em Fortaleza; expôs em instituições como o MAM — Rio de Janeiro e MAM — Bahia; Kunsthaus Kannen em Münster; Galerie im Körnerpark e Kunstquartier Bethanien em Berlim. Recebeu diversos prêmios, entre eles Rede Nacional FUNARTE de Artes Visuais, Goldrausch Künstlerinnenprojekt Stipendium do Berliner Senat, e Jakob und Emma Windler Stiftung para uma residência artística na Suíça em 2021.