“Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado” – Explorando a Arte e o Feminino

No coração da efervescente cena artística brasileira, a exposição “Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado” se destaca como uma ode à arte feminina e à técnica do bordado. Com curadoria da renomada antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz, a mostra apresenta uma rica coleção de 53 obras de 47 artistas mulheres, incluindo seis coletivos de bordadeiras de diversas regiões do Brasil. Ao examinarmos essa exposição em detalhes, mergulhamos em um universo de expressão artística que transcende gerações, raças e regiões, explorando o potencial estético e político do bordado como uma forma de manifestação única e poderosa.

Um Olhar Abrangente sobre a Arte do Bordado

A exposição “Andar pelas bordas” oferece uma visão panorâmica da rica produção artística em bordado, celebrando o trabalho de 41 mulheres artistas e seis coletivos de bordadeiras. Cada peça é um testemunho vivo da habilidade artística e do cuidado dedicado a essa técnica ancestral. A curadoria meticulosamente selecionou artistas que abrangem uma ampla variedade de contextos, gerações, raças e regiões, demonstrando a importância do bordado na história da arte brasileira. Desde a tapeçaria de Madalena dos Santos Reinbolt, uma artista negra cujo legado foi recentemente reconhecido em uma retrospectiva no Museu de Arte Assis Chateaubriand (Masp) em 2022, até obras contemporâneas como as de Vivian Caccuri e Rebeca Carapiá, a exposição é uma celebração da diversidade artística.

Desconstruindo Estereótipos e Valorizando a Expressão Feminina

Uma das missões centrais da exposição é desnaturalizar a associação entre trabalho feminino e a técnica do bordado. O bordado, muitas vezes considerado “naïf” e ligado à domesticidade, é agora apresentado como uma forma complexa e profunda de expressão artística. Lilia Schwarcz, a curadora, destaca que o bordado não apenas serve ao afeto e à estética, mas também é um meio de reivindicação política e social por direitos. O trabalho da artista Lívia Aquino, por exemplo, ressalta o caráter político do bordado ao bordar a palavra “Canalhas” sobre uma bandeira de tecido, inspirada na obra de Waldemar Cordeiro. Além disso, “Cada conta, um rio…” de Hariel Revignet explora símbolos de culturas afro-brasileiras, entrelaçando religiosidade e identidade em uma obra acrílica costurada com guias de Lágrimas de Nossa Senhora.

Rompendo Hierarquias e Redefinindo a Arte

“Andar pelas Bordas” desafia as hierarquias tradicionais no mundo das artes, abrindo espaço para uma diversidade de expressões artísticas que transcendem classificações rígidas de gênero. A exposição destaca artistas que trazem reflexões existenciais e subjetivas em suas obras, como Guga Szabzon e Júlia Panadés. Ao explorar novas abordagens do bordado, as obras destes artistas emergem como formas de expressão genuínas, representando uma transformação das narrativas tradicionais.

Bordado: Mais que uma Técnica, uma Narrativa

O bordado vai além de uma técnica artística; é uma linguagem em si mesma. Ele conecta mulheres ao longo do tempo e do espaço, construindo redes de cuidado e expressão. Ao desafiar estereótipos e preconceitos arraigados, a exposição “Andar pelas bordas” coloca o bordado como uma forma de expressão, reivindicação e luta, contribuindo para a economia política, social e afetiva. O bordado também encontra espaço como uma manifestação de identidade cultural e religiosa, como evidenciado pelos colares de orixás de Nádia Taquari e pelas tapeçarias de algodão de Maria Ayuni Huni Kuni e Tamani Huni Kuni, que dialogam com a arte contemporânea.

Celebrando um Legado e Explorando Novos Caminhos

A exposição “Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado” não apenas celebra o legado das mulheres artistas na história da arte brasileira, mas também abre caminhos para novas perspectivas e narrativas. Com uma curadoria cuidadosa e um conjunto diversificado de obras, essa exposição reforça a importância do bordado como uma forma de expressão rica e multifacetada. Ao questionar estereótipos, desconstruir hierarquias e valorizar a expressão feminina, a mostra reafirma o bordado como uma linguagem que transcende o tempo e o espaço.

Conclusão

“Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado” é mais que uma exposição; é um testemunho do poder transformador da arte feminina e do bordado como forma de expressão. Ao mergulhar na riqueza das obras apresentadas, somos convidados a refletir sobre a importância do cuidado, da identidade e da reivindicação política na produção artística. Essa exposição desafia narrativas preconceituosas e coloca o bordado no centro do palco como uma manifestação autêntica e profunda. Ao fazer isso, ela redefine a arte, o feminino e o cuidado como partes essenciais do tecido da sociedade e da história.