Para especialista, essa subordinação forçada é comum no ambiente de trabalho e deve ser combatida pelos gestores
O BBB23 mal começou – o primeiro episódio da temporada foi ao ar nesta segunda-feira (16) -, e um dos brothers já escorregou feio e corre o risco de ser o primeiro cancelado do programa. Ao expor um caso de racismo, Fred Nicácio, que é médico, fez uma fala que foi interpretada por muitos, dentro e fora da casa, como uma diminuição à profissão de enfermagem.
À beira da piscina, conversando com outros brothers, Fred disse ter dito em um ambiente hospitalar que gostaria de entubar um paciente e recebeu como resposta de uma enfermeira branca que o procedimento era ”só para médico”.
“Sete anos depois, amor, eu voltei lá, e ela foi minha enfermeira. É, tô aqui, doutor Fred Nicácio, e aí? Agora eu vou entubar e você vai me ajudar. Porque a gente trata racista assim, expondo, porque quem criou o constrangimento que lide com ele”, contou Nicácio.
Cézar Black, que é enfermeiro e participava da conversa, se sentiu incomodado pela declaração e desabafou com outros confinados. Até o Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) entrou no debate e partiu para o ataque contra o médico.
“A enfermagem é uma profissão regulamentada e autônoma e não está subordinada a nenhuma outra, uma vez que todas as categorias da saúde têm atribuições devidamente estabelecidas”, diz nota emitida pela entidade.
Para Tábata Silva, gerente do Empregos.com.br, um dos maiores portais de recolocação profissional do país, esse tipo de subordinação forçada, infelizmente, é uma realidade comum no ambiente profissional e não está restrita aos hospitais.
“Relatos como este não são raros e podem ser encontrados em outras profissões. De certa forma, eles reproduzem uma luta de classes, na qual um profissional com uma remuneração inferior deve subordinação a outro mais bem remunerado, mesmo que esta relação hierárquica não esteja formalmente estabelecida”, explica a especialista.
“Esta é uma cultura de soberba que ainda vemos enraizada em alguns profissionais. É algo estrutural, que deve estar no radar dos departamentos de recursos humanos das empresas e ser desconstruído junto aos colaboradores”, explica Tábata Silva.