Entrevista: Glênio Bohrer, compositor
- O título “Embaraço” remete a algo que é ao mesmo tempo nó e afeto, confusão e conexão. Como surgiu esse nome e de que forma ele traduz o espírito do projeto?
Embaraço vem do título da música que dá nome a esse trabalho, que na língua portuguesa tem um espectro realmente muito rico e envolve coisas até contraditórias: afeto, nó, indecisão. Mas, também, no nosso trabalho, envolve uma questão de outra dimensão relacionada a Embarazo na língua espanhola, que representa gravidez, traduz a ideia da gestação. E essa música fala realmente de uma separação e de um envolvimento que deixa esse “embaraço” na trajetória da mulher primeiro, depois na resposta masculina. Acho ainda que Embaraço representa um novelo e um envolvimento eterno, para sempre, e talvez isso esteja também refletindo o nosso processo criativo que, com os meus parceiros de praticamente 50 anos, o Claudio DusSantos, o Aldo Votto, estamos “embaraçados” afetivamente, intelectualmente e emocionalmente nessa vida. Então, há uma costura de envolvimentos e depois agregando outras pessoas que também se juntam para fazer esse trabalho, que refletem bastante bem o conceito desse trabalho levado pelo título.
- O álbum é apresentado em dois volumes e traz um repertório composto ao longo de quase duas décadas. Como foi o processo de reunir essas canções e dar a elas uma unidade narrativa e sonora?
O álbum, na verdade, reúne canções de uma produção de mais do que duas décadas. Tem músicas como Lamento ao Rés do Chão e Tema de Soninha, que foram compostas lá nos anos 1980. Acho que tínhamos 19, 20 anos quando fizemos essas composições. Mas a questão da unidade tem duas vertentes, o que faz com que essas músicas não sejam estranhas no seu tempo em relação às que foram compostas muito recentemente, algumas até durante a própria produção do trabalho. E que envolvem a ideia de que esse trabalho tem claramente uma inspiração tributária na Música Popular Brasileira dos anos 70, 80 até 90, com referências claras a Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco, Aldir Blanc, todo esse elenco de talentos que, de certa forma, moldaram o nosso entendimento de arte e música durante a nossa adolescência e depois até a maturidade.
Então, me parece que existe um eixo condutor da ideia da importância da palavra, da importância do ênfase na questão do texto e de uma musicalidade diversa em ritmos que também se encontra nessa base da Música Popular Brasileira, e representada por esses expoentes e outros. E, no segundo momento, a ideia de que esse trabalho é conduzido pela direção artística, os arranjos do Cristian Sperandir, que é um talentoso e premiado arranjador, e que, evidentemente, buscou, dentro do que havia de material, a ideia de criar uma linha condutora que desse essa noção de unidade para os 16 temas que foram gravados.
- Há uma simbologia forte entre “Embaraço I” e “Embaraço II”, duas músicas que dialogam entre si por meio de perspectivas masculina e feminina. Como nasceu essa ideia de construir um “dueto espelhado”?
A ideia de ter duas músicas espelhadas, a manifestação feminina e depois a resposta que conclui o disco, é uma história que tem várias facetas. Inicialmente, Embaraço é uma música na versão feminina que foi composta pelo Claudio DusSantos. Então, é a única música das 16 que não tem a minha participação como compositor e foi feita há cerca de 20 anos, talvez mais. O Claudio me entregou essa música para que eu fizesse a resposta masculina, e eu achei a música tão linda, tão bonita que eu não me senti capaz de fazer essa resposta à altura, mas tentei e travei pela dificuldade que me impus. Fiquei com isso na cabeça por muito tempo. Fiz várias tentativas e, apenas 15 anos depois, em um momento de retomar esse tema, eu consegui fazer uma letra que me agradou e que eu achei que estava à altura do que ele tinha me oferecido. Levei para o Claudio DusSantos para que ele examinasse. A resposta foi a que só um amigo tem condições de dar com tanta sinceridade: ele entendia que a música já tinha uma unidade, um espírito que terminava em si, na alma feminina, e que não cabia uma resposta masculina.
Eu tive que concordar, porque acho que perderia o impacto da mensagem, mas, mais tarde, ao iniciar a ideia de um novo trabalho, consultei se ele acharia razoável que nós usássemos a mesma melodia e tendo a resposta masculina separada. Ele concordou e, a partir disso, na minha vertente de arquiteto como profissional, eu sempre penso que é importante que as coisas tenham um conceito. Este trabalho sempre foi pensado com a ideia de iniciá-lo com a versão feminina e ter a conclusão do trabalho com a resposta masculina no fim, ou seja, com uma ideia de fechamento de ciclo – como ideia também de distanciar as duas versões que têm a mesma melodia, apesar de arranjos muito distintos, que às vezes até podem separar melodicamente as duas versões. Essa foi a questão e a história dessa composição.
De outro lado, esse trabalho também tem outras histórias em termos de trajetória. Ele estava praticamente gravado e concluído com 12 composições, mas fui assistir a um show de Indira Castro, uma cantora cubana radicada em Porto Alegre. Naquele momento, ela estava iniciando a fazer apresentações, e eu fiquei absolutamente encantado com o talento e a interpretação. Eu tinha uma música que não havia entrado no repertório, Vozes da Liberdade, feita em, não sei se é homenagem o termo exatamente, mas referente à questão dos imigrantes, das pessoas que são obrigadas a deixar sua terra, seus vínculos, sempre contra a sua vontade, em geral, ou por questões políticas ou econômicas. Me parece que é sempre uma questão muito extrema, deixar o seu lugar, os seus países, os seus vínculos. Envolve uma história de dor e de riqueza e de luta pela vida muito intensa. Eu queria muito que essa música fosse gravada por um imigrante, não importava qual a nacionalidade, mas que fosse cantada por um imigrante em português, com o sotaque da sua nacionalidade, visivelmente. E, ao vê-la, resolvi que não podia perder a oportunidade e mandei pra ela a música. Ela se interessou, gostou e quis gravar.
A partir disso, entendi que 13 músicas estava ficando grande demais. Doze já é grande para os tempos de hoje. Aí resolvemos então gravar mais 13 e fazer esses dois blocos de 8 músicas, talvez mais adequado para o tamanho dos trabalhos de hoje. E reunindo depois em uma gravação física com as 16, que de certa forma montam a trajetória e a história de todo esse trabalho. E a questão do CD também é uma coisa talvez pela minha idade, mas também o desejo de ter um registro. Ainda que poucas pessoas adotem o CD como forma de ouvir a música, entendo que a questão das plataformas omite quem fez os arranjos, os músicos que tocam, quem são os compositores, enfim, tudo aquilo que é fundamental, está presente num trabalho artístico que nunca é feito apenas por uma pessoa, mas é resultado de um empreendimento coletivo.
- A lista de 16 intérpretes convidados impressiona. Como foi o processo de escolher cada voz para cada faixa, e o que esses artistas trouxeram de singular às suas composições?
Bom, a questão de ter tantos cantores nesse projeto primeiro decorre da minha condição de que eu não sou nem músico, nem cantor. Evidentemente, eu preciso contar com outras pessoas. Isso, que às vezes pode parecer uma dificuldade, no fim das contas se torna uma grande alegria, que é poder chamar gente de tanta qualidade, de tanta sensibilidade artística e musical para participar no processo criativo. Já havia ocorrido no meu primeiro trabalho, Um Quarto de Si. Seis desses cantores que estão neste trabalho participaram daquele, cantando duas músicas cada um. Foi um processo interessante, rico. Naquela situação, eu completamente desconhecido como compositor, tive uma grande dificuldade na forma de distribuir essas músicas. Havia um certo receio de que as pessoas talvez não quisessem gravar, e eu acabei oferecendo mais de uma música para que pudessem escolher e fiz uma grande confusão. Criou uma dificuldade na trajetória de conclusão do trabalho, mas no fim ficou tudo muito bem arranjado e as músicas muito aderentes às características de cada cantor.
Este trabalho já foi um pouco mais fácil. Essa condição ficou mais clara para mim, conhecendo os intérpretes e, pela natureza da música, um direcionamento mais claro do que nos parecia. Isso também discutindo junto com os outros compositores, com Claudio, com Aldo e principalmente com Cristian Sperandir, quais características de uma trajetória de trabalho, por timbre, por tipo de interpretação, seria mais interessante para a natureza de cada composição. Acho que nós fomos muito felizes nessa escolha de passar as músicas. Tivemos quase que aceitação direta dos compositores, porque elas estavam realmente direcionadas para uma característica. Muitos desses compositores eu já conhecia e tinha relação; muitos foram apresentados por Cristian, que transita no universo da música de uma forma muito mais abrangente do que eu. Conheci muita gente maravilhosa do ponto de vista artístico e do ponto de vista do afeto, que também é uma das coisas que compõem de forma importante esse trabalho.
- O disco passeia por gêneros como samba, afro-samba, foxtrot, influências caribenhas e música praiana. Essa diversidade é fruto de experimentações recentes ou reflete uma trajetória musical de longa data?
A diversidade rítmica e de gêneros desse trabalho vem um pouco na esteira do que eu já comentei, dos vínculos tributários à Música Popular Brasileira, que tem em si essa riqueza, essa experimentação que é natural desse período da música brasileira e talvez em toda sua trajetória. A outra questão relacionada é que há muitas composições que eu participo com a letra e que elas vêm já também do Claudio ou do Aldo, que também tem essa fonte de inspiração. Do meu lado, como eu não sou músico, eu não domino nenhum instrumento, as minhas composições na parte melódica são feitas mentalmente na cabeça e transcritas depois para um gravador do celular e eu vou montando os pedaços até entender que a melodia está pronta e adequada. Muitas vezes, vem até sendo um input de estar ouvindo uma determinada música, e aquele ritmo ficar na minha cabeça e me inspirar para uma construção de uma melodia, depois até vou olhar a referência. Não tem nada a ver a frase, as frases melódicas são completamente diferentes, mas existe uma provocação de seguir por esse caminho. O foxtrot, por exemplo, que tem esse fundo de “big band”, de Dança dos Anéis, foi composto na saída de um espetáculo que fui assistir no Espaço 373 (casa de shows de Porto Alegre) e que tinha uma “big band” com 21 membros, uma coisa fantástica e inusitada até pela dificuldade que é montar um set desse tamanho. Eu saí do show cantarolando uma melodia que ficou na minha cabeça e que tinha no fundo uma orquestração musical. Em geral, essas coisas quando vêm na cabeça já vêm com uma ideia de arranjo de voz muito preliminar, evidentemente, mas que traduzem o espírito do que está vindo em termos de inspiração. Então, me parece que vem por essas fontes, pelos inputs históricos e do que está construído dentro do nosso acervo de conhecimento musical tanto quanto pela provocação externa do dia a dia que acaba se canalizando e, às vezes, se transformando numa composição.
- Você e seus parceiros, como Claudio DusSantos e Aldo Votto, mantêm uma amizade criativa de quase 50 anos. O que mudou — e o que permanece — nessa parceria desde as primeiras composições?
A questão desse núcleo de amizade e de criação que se mantém por 50 anos com Claudio e com Aldo é, para mim, fundamental e um esteio emocional, afetivo e de condução da minha vida. Acho que as grandes amizades, muitas vezes, nascem justamente nesse período da vida, da adolescência, onde a gente está se descobrindo e descobre coisas juntos e busca apoio em quem está do lado, cria laços e vínculos que permanecem ao longo da vida, indiferente até da construção e de caminho de cada um. Às vezes, o entendimento de mundo intelectual e as trajetórias se tornam muito diversas, mas o afeto e o vínculo permanecem. No nosso caso, não tanto, nós continuamos, ainda, comungando de uma visão de mundo que é muito parecida e que, principalmente, na questão estética, conceitual, de arte, de produção musical, seguimos unidos numa mesma vertente, numa mesma linha. E o processo criativo de parceria, que é, hoje em dia, eventual, porque nós convivemos não necessariamente na mesma cidade, acontece de uma forma que não é sistemática e nem é combinada, numa certa eventualidade. Aliás, muitas dessas músicas que aí estão foram compostas no período da pandemia, onde uma das coisas que nós conseguimos foi começar a interagir através da internet. Houve uma troca na qual Continente, Fogo no Canavial e outras músicas são oriundas desse período, parcerias a distância.
Diria que enxergo esse trabalho quase como se fosse um pequeno movimento, porque integra um núcleo de três compositores que não são profissionais, mas que se mantêm em uma linha e durante um período grande e que querem, individualmente ou coletivamente, transmitir uma ideia de permanência de valores de uma Música Popular Brasileira que tem na questão da diversidade de melodia e ritmo, mas também na importância da palavra um dos seus esteios fundamentais.
- Embaraço vem após o disco “Um Quarto de Si” (2021). O que evoluiu artisticamente e emocionalmente entre esses dois trabalhos?
A relação entre o primeiro trabalho, Um Quarto de Si, e agora Embaraço, me parece que não existe. Assim, eu não identifico necessariamente uma ideia de distinção ou de progressão no tempo, de uma diferença exploratória no ponto de vista da composição. Eles estão no mesmo universo, talvez alguma diferença de linguagem na questão dos arranjos. O primeiro trabalho é conduzido pelo Toneco da Costa, que é um violonista e tem o violão como uma base da sua sustentação daquele trabalho e talvez uma pegada mais acústica. E o Cristian, que tem piano e talvez, vamos dizer, um espectro mais moderno, até, às vezes, se utilizando de alguma coisa sintetizada para complementar. Mas, de certa forma, os dois trabalhos estão no mesmo universo conceitual, e também carregam composições que misturam o momento atual com composições que têm um pouco mais de tempo. Também eu, como compositor, já que não domino instrumentos e não tem também essa condição de ter um trabalho exploratório do ponto de vista de buscar vertentes ou de buscar referências e explorações no ponto de vista do campo harmônico e outras questões que são mais reservadas para quem domina a música num campo mais completo. Na verdade, eu vejo assim os dois trabalhos: de um mesmo universo, com datas diferentes.
- O projeto recebeu quatro indicações ao Prêmio Açorianos de Música. Como você recebeu esse reconhecimento e o que ele representa para um artista independente?
As indicações ao Prêmio Açorianos representaram uma satisfação imensa. Recebi com muita alegria e surpresa até, com o número de indicações que foram dedicadas a esse trabalho. E uma certa estranheza, talvez porque, no fundo, eu ainda tenho uma dificuldade de me entender como um compositor. Apesar de estar consolidando um trabalho, como sempre foi uma atividade paralela, talvez eu não me permitisse ter esse tipo de entendimento. Até porque me sinto um arquiteto, porque eu recebo uma encomenda de Arquitetura e tenho condições, ferramentas, para sentar e fazer uma entrega. No caso da composição, não tenho essas ferramentas. Se me encomendarem, não tem como eu sentar e produzir uma música. Ela acontece no momento em que sou instigado externamente, existe uma sugestão, uma linha que vem e se transforma em um trabalho desenvolvido a partir de “input”. Eu não tenho ferramentas para sentar e compor, então, talvez, isso me faça sentir um pouco um “invasor” nesse meio. Talvez, essas indicações e a própria premiação que foi conferida me levem a me entender um pouco diferente e, quem sabe, até abrir outros horizontes. Não sei, fica para entender isso mais adiante.
- A produção e os arranjos de Cristian Sperandir parecem ter papel central no resultado final. Como foi o diálogo entre vocês na construção da sonoridade do álbum?
A participação do Cristian, sem dúvida, é fundamental. Ele fez toda a condução, dos arranjos e produção artística, buscou os intérpretes, montou a equipe e a banda, junto também com Adriano Sperandir, que comanda o estúdio, que toca guitarra, violão, cavaco e também participou intensamente, opinando e participando na construção dos arranjos, mas é um trabalho coletivo. Enxergo como um trabalho coletivo. Cada intérprete também trouxe a sua contribuição e, no caso, o Claudio DusSantos, ele participou de todas as gravações e também trouxe a sua visão e seu olhar para esse conjunto, mas o Cristian é um brilhante arranjador, é um instrumentista talentosíssimo e se dedica imensamente a entender o espírito da música e do compositor. Então, ele não traz a sua visão externa e seu conhecimento para colocar a música dentro do seu entendimento, mas ele busca com as suas ferramentas, com o conhecimento, com o seu repertório, enriquecer a essência do que ele está recebendo como composição. E isso faz com que o trabalho tenha essa unidade, dada pela condução artística dele, tenha também a preservação genuína do espírito, da origem da composição. Nós trocamos, claro, informações, mas a minha condição de interferir e de palpitar em arranjos é bastante limitada. Apesar de eu ter discutido em diversos momentos e ter sugerido algumas questões que foram, inclusive, absorvidas no trabalho, a condução do Cristian é importante e definitiva nesse trabalho. E fico muito feliz, porque é um envolvimento que não é só artístico, é uma conjunção de afetos. A gravação dos estúdios em Osório (cidade do litoral gaúcho), eram, na verdade, consagrações de afeto, de carinho e de prazer pelo convívio e pela música.
- Você menciona que o álbum foi pensado para ser descoberto aos poucos, “como quem desfaz um nó com cuidado”. Qual seria a melhor maneira de o público escutar e se relacionar com Embaraço?
A ideia ou a figura de que o trabalho necessita ser ouvido com cuidado também deriva de uma questão geral do nosso tempo, e que vale, talvez, para todos os trabalhos artísticos e não exclusivamente é o que eu estou entregando nesse momento, mas a nossa velocidade dada pela internet, pela rapidez da troca de informação faz com que as pessoas, para elas, às vezes, ouvir uma música durante três, quatro minutos se torne quase que uma eternidade. Toda a informação é muito rápida, muito sintética, muito concisa, e está se perdendo aí, talvez, a oportunidade de ter na música um instrumento de enriquecimento pessoal, de aprofundar externamente dentro de si mesmo. Se perdeu um pouco a questão da música como arte, não digo na produção, mas um espírito do momento, de que ela é muito mais entretenimento do que arte. Então, a ideia de mergulhar e entender uma letra como eu fazia quando recebia e comprava os discos que tinham os encartes e entender as diversas facetas de interpretação possíveis que há numa letra de música, entender a riqueza da métrica, combinada com a métrica da palavra, com a métrica musical, as ênfases, da sonoridade com a ênfase, do recado e da palavra, um entendimento de mensagem ou de mensagens que pode haver numa composição. E isso não vale só para esse trabalho, mas para uma imensa gama de produção que é feita tanto localmente quanto no Brasil e que talvez pelo espírito do momento esteja passando um pouco batida, já que toda a mensagem hoje parece que precisa de uma rapidez, do impacto imediato, mas também são coisas que acabam e tendem a se evaporar no tempo. Então, talvez seja um pouco um chamamento no sentido de dar uma volta da música como um momento de criação e arte, nesse sentido.
- O show de lançamento reunirá boa parte dos intérpretes e uma grande banda no palco. O que o público pode esperar dessa celebração ao vivo?
O show, realmente, reúne quase todas as pessoas que participaram do álbum, com exceção de três intérpretes que moram fora do Rio Grande do Sul. Seria uma complexidade muito grande poder conseguir a participação de quem mora distante, ainda que a Danny Calixto esteja conseguindo vir a Porto Alegre para participar do trabalho e por outras razões, mas também por um desejo muito grande de estar junto com toda a equipe. Acho que vai ser um momento de celebração. Nós tivemos um período de gravações que foram muito emocionantes do ponto de vista individual, pela entrega dos intérpretes, dos músicos, na construção de cada uma das músicas. Mas nós não tivemos um momento em que todos estivessem presentes, escutando a arte do outro, a interpretação do outro e acho que vai ser um momento muito especial conseguir reunir assim tanta gente. É uma banda de oito músicos fantásticos, serão 12 intérpretes. Então, o envolvimento de 20 pessoas num projeto que me deixa muito feliz e muito orgulhoso de conseguir reunir tanta gente talentosa, e que tem os seus trabalhos consagrados, não só como intérpretes, praticamente todos também são compositores de obras maravilhosas. Acredito que vai ser um momento de uma energia muito boa, muito positiva, de celebração da música, da arte, do encontro (porque a música e a arte representam mais até do que a celebração do próprio trabalho). Eu tenho expectativa grande de que essa energia toda contamine também quem estiver presente e a gente possa deixar gravado esse momento na memória. Na minha certamente estará, mas como um momento em que o coletivo ganhe uma dimensão especial e diferenciada.
- Por fim, olhando para sua trajetória, o que esse trabalho representa para você em termos de maturidade artística e de legado musical?
Eu acho que esse trabalho tem uma importância do ponto de vista de concluir uma primeira etapa de músicas junto com o primeiro trabalho, Um quarto de Si, do que eu tenho para trazer do meu mundo como compositor. É um retrato bastante completo do que penso, do que sinto e do que posso oferecer do ponto de vista de uma produção artística. Ele conclui um registro de como eu me sinto como compositor e do que eu posso ofertar com o meu trabalho. Eu me sinto bastante realizado com a conclusão dessa etapa. Ele também trata de uma maturidade, de como produzir um trabalho, na condução do entendimento de o que é uma produção artística. Enfim, não sei o que ele representa como marco futuro. Acho que é importante também ele ter tido esse reconhecimento. Mas, no momento, não tenho nenhum plano futuro traçado. Eu estava muito empenhado e dedicado no esforço de concluir essa etapa com a produção de gravação das músicas, do próprio CD que está sendo lançado e da montagem do show. Vamos ver o que o futuro reserva, mas eu posso dizer que do ponto de vista dessa parte da minha vida, me sinto muito realizado com a conclusão dessa etapa, e espero que, se quiserem conhecer, tenham acesso e transitem um pouco nesse universo que não é só meu. Cada interpretação de artistas, da dimensão dos artistas que estão participando, traz um recado da sua arte e acho que esse trabalho tem essa virtude de como é possível unificar um recado com tantas vozes e com tanto talento diverso em uma única obra.

