1. O alcance d’As Januárias ultrapassou a marca de 15 milhões de visualizações, aproximando o forró de públicos globais. Como vocês avaliam o papel das redes sociais como novo palco para o forró, e de que forma essa linguagem digital transformou a trajetória do trio?
R. As redes sociais mudaram tudo pra gente. Foi lá que a gente conseguiu passar de 15 milhões de visualizações e chegar em pessoas que, muitas vezes, nem tinham tanta proximidade com o forró. Hoje, a internet é um palco gigante. A gente percebeu que, quando mostramos nossas músicas, instrumentos e energia ali, do nosso jeitinho mesmo, o público abraçou. A linguagem digital ajudou muito porque deixa tudo mais rápido, mais direto e mais próximo. A gente conversa com gente do Brasil inteiro, e até de fora, todos os dias. Então, pra nós, as redes sociais não são só divulgação, são parte da nossa história. Foi onde o trio cresceu, onde a gente entendeu nossa força e onde o nosso forró ganhou um espaço global.
2. Vocês citam Marinês, Nádia Maia, Anastácia e Cristina Amaral como referências. Qual é o legado mais importante que vocês buscam carregar dessas pioneiras, e como o trio projeta o futuro do forró feminino nesta nova geração?
R. Essas mulheres são nossas referências da vida! Cada uma nos dá de presente ensinamentos que a gente tenta carregar com muito carinho. Força, coragem, identidade, generosidade e continuidade. E nosso sonho é ajudar a construir um futuro onde ter mulheres no forró não seja exceção, mas normalidade. Queremos que mais meninas se vejam no palco, no estúdio, no microfone, na produção… e pensem: “Eu também posso”.
3. O álbum audiovisual se apoia nas Matrizes Tradicionais do Forró (baião, xote, xaxado, etc.). Qual o desafio e a responsabilidade de se conectar a essa tradição, que é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, ao mesmo tempo em que a renovam com uma estética contemporânea?
Para nós, o maior desafio, e também a nossa maior responsabilidade, é honrar algo que faz parte da história do Brasil. As Matrizes Tradicionais do Forró são Patrimônio Cultural Imaterial, e a gente sabe que está lidando com um legado que vem de muitas gerações. Ao mesmo tempo, somos mulheres jovens vivendo o forró de hoje, em diálogo com o piseiro, a vaquejada e novas estéticas. O equilíbrio está em respeitar a base, sem abrir mão da nossa identidade. A gente traz o baião, xote, xaxado com muita verdade, mas também com arranjos e narrativas que refletem quem somos agora. É como manter o chão firme enquanto abrimos janelas para o futuro.
4. O repertório inclui as faixas inéditas “Forró no Interior” e “Cangaceira”. Como essas duas músicas aprofundam a estética do grupo e quais elementos regionais vocês fizeram questão de reafirmar nelas?
R. “Forró no Interior” e “Cangaceira” aprofundam muito a estética do nosso trio porque mostram dois lados que representam quem nós somos e de onde viemos. Essas duas faixas reafirmam elementos que a gente faz questão de carregar: a vida no interior, o humor, o amor pelo forró, a força feminina e a identidade nordestina vivida de forma verdadeira. São músicas que juntam nossas raízes com o jeito contemporâneo que a gente gosta de contar histórias.
5. A gravação em formato audiovisual reafirma o compromisso com a preservação da memória cultural. Qual a importância da imagem e da performance para a mensagem d’As Januárias, e o que o vídeo adiciona à experiência do ouvinte?
R. Gravar em formato audiovisual foi uma decisão afetiva. A imagem guarda aquilo que o áudio não registra: o brilho do olho, o corpo dançando, a entrega, a mágica que só o ao vivo mostra. Nossa mensagem é muito ligada à performance e à energia que a gente consegue transmitir quando tocamos nossos instrumentos e cantamos. O vídeo adiciona camadas de memória, mostrando como a gente vive o forró. É uma forma de preservar o hoje para as próximas gerações.
6. A identidade do trio nasceu em Nazaré da Mata e se desenvolveu em Olinda, passando pela Escola Técnica de Criatividade Musical. De que maneira as vivências nesse território do canavial e nas manifestações culturais do Recife Moldaram a estética e o som do álbum?
R. Nossa estética nasceu do território. Nazaré da Mata é a terra do maracatu, do canavial e da força do interior. Olinda nos deu calor humano, mistura e liberdade criativa. E a Escola Técnica de Criatividade Musical, assim como a UFPE, ampliou nossos horizontes: nos ensinou técnica, mas também nos colocou no meio de uma efervescência cultural única. Esses lugares moldaram o som do álbum porque moldaram a gente: o rural, o urbano, o tradicional e o contemporâneo convivendo em harmonia no nosso jeito de fazer música.
7. O projeto foi lançado no mês de aniversário de Marinês. Qual o significado dessa homenagem e qual ensinamento específico da Rainha do Xaxado vocês aplicam diariamente no trabalho do trio?
R. Marinês é uma referência para nós não só musicalmente, mas como figura feminina que abriu caminhos. Lançar o projeto no dia do aniversário dela é uma forma de agradecimento. O ensinamento dela que levamos todos os dias é: firmeza e dedicação no palco e na vida. Como primeira mulher a liderar um trio de forró no Brasil, ela mostrou que a gente pode inovar e pode fazer história dentro do forró.
8. O álbum reúne 15 músicas, sendo 13 releituras. Qual o critério de curadoria utilizado para selecionar as canções que marcaram a história do trio e que deveriam ser imortalizadas neste primeiro audiovisual?
R. A gente decidiu reunir no álbum as 15 músicas que marcaram nossa trajetória nesses oito anos de estrada. Todas autorais e escritas pelas três Janus. Esse foi o critério principal da curadoria: registrar e imortalizar aquilo que nasceu da gente, das nossas vivências e da nossa identidade enquanto
grupo. Ao longo dos anos, fomos lançando essas canções separadamente, cada uma com sua fase, sua história e suas estéticas do momento. Agora, quisemos dar a elas uma unidade: gravar tudo ao vivo, com a mesma identidade sonora, com a roupagem que representa quem somos hoje. Foi uma forma de respeitar nosso passado, mas também de apresentar ao público a essência atual das Januárias. Escolher apenas músicas nossas fez toda diferença, porque deixa o trabalho inteiro com a nossa cara. É como se este audiovisual fosse um grande capítulo que fecha um ciclo e abre outro, reunindo tudo que construímos até aqui de forma verdadeira, afetiva e totalmente autoral.
9. A banda que acompanha vocês é composta por mulheres como Waleska Andrielle (bateria) e Karol Maciel (sanfona). Quão importante é ter essa força e protagonismo feminino também na instrumentação de palco e estúdio?
R. É extremamente simbólico e poderoso ter mulheres como Waleska e Karol na nossa banda. A presença feminina na instrumentação ainda é uma conquista recente no forró. Ter essas mulheres no palco e no estúdio mostra que a força feminina está em todas as áreas da música, não só no microfone. Isso inspira outras meninas a ocuparem esse espaço também.
10. O projeto busca garantir acessibilidade para pessoas com deficiência através de legendas. Qual a importância de pensar a cultura popular e a tradição do forró com essa inclusão desde a concepção do álbum?
R. A cultura popular é de todos. Se a gente quer preservar o forró, ele precisa ser acessível. As legendas garantem que pessoas com deficiência auditiva possam compreender e sentir o projeto com a mesma profundidade. É um passo simples, mas com impacto importante: incluir desde a concepção é um ato de respeito e responsabilidade cultural.
11. O nome As Januárias tem alguma referência direta à história do forró ou ele representa um simbolismo de força e resiliência feminina que vocês querem transmitir?
R. O nome é uma referência à Seu Januário, pai de Luiz Gonzaga. E pra gente carrega um simbolismo forte. “Januária” evoca força, resistência, ancestralidade e identidade feminina nordestina. Queríamos um nome que soasse tradicional e, ao mesmo tempo, empoderado.
12. Qual é a mensagem principal que vocês esperam que os novos ouvintes, que conheceram o forró através d’As Januárias, absorvam sobre a cultura nordestina e a força feminina na música?
R. A gente deseja que quem nos conhece agora entenda que o forró é muito mais que um ritmo: é cultura, história, afeto e resistência. E que sintam a força da mulher nordestina, que dança, canta, cria, lidera e transforma. Se o nosso trabalho conseguir despertar orgulho da nossa terra e abrir portas para mais mulheres no forró, já valeu a pena.
Com carinho e gratidão,
Mayra, Mayara e Sidcléa (As Januárias)
