- O título “Um Novo de Nós” é o principal mote do projeto. O que, especificamente, representa essa “nova fase de amadurecimento” e como vocês sentem que a essência de Felipe & Ferrari evoluiu neste álbum em relação a trabalhos anteriores?
Felipe: “Um Novo de Nós” é muito literal pra gente. Não é que apagamos o que fizemos até aqui, pelo contrário: é como se tivéssemos pegado tudo o que vivemos nesses mais de dez anos de dupla e colocado num lugar mais maduro. Hoje a gente escolhe repertório com mais calma, pensa mais na mensagem, na sonoridade, em como aquilo conversa com a nossa história. A essência continua romântica, sofrida, contando relacionamento do jeito que o público gosta, mas agora com um olhar mais seguro, mais consciente de quem é Felipe & Ferrari.
- A produção musical é assinada por Dudu Oliveira, nome de peso no sertanejo. Como foi a dinâmica de trabalho com ele em Goiânia, e de que forma o toque de Dudu contribuiu para a nova sonoridade e a identidade do álbum?
Ferrari: Trabalhar com o Dudu foi uma experiência incrível. A gente se trancou no estúdio em Goiânia por horas e horas, ouvindo música o dia inteiro, testando ideias, mudando arranjo, fazendo e refazendo até chegar onde queríamos. O Dudu tem uma escuta muito apurada e uma sensibilidade gigante pra entender quem a gente é. Ele conseguiu modernizar a nossa sonoridade sem tirar o que é a essência de Felipe & Ferrari.
- O álbum traz a participação especial do grupo Traia Véia em “Da Água Pra Nada”. Como surgiu essa colaboração e o que o encontro com a Traia Véia representa no diálogo entre diferentes estilos e gerações dentro do sertanejo?
Felipe: Essa parceria com a Traia Véia nasceu de uma verdadeira admiração. Quando escutamos “Da Água Pra Nada”, a gente sentiu que ela pedia uma participação com muita personalidade, e o Traia tem isso de sobra. Eles carregam uma energia diferente, um estilo próprio, e isso somou demais com a nossa sofrência.
- Com faixas já queridinhas como “Provavelmente” e “Chorei no Mudo”, quais são as expectativas para as duas inéditas, “Mal Apaixonado” e “Raiva Cega”? Qual delas vocês acreditam que melhor resume a “sofrência moderna” do álbum?
Ferrari: Essas duas inéditas são dois lados da mesma moeda da sofrência. ‘Mal Apaixonado’ fala daquela pessoa que criticava o ‘cara errado’ e agora tá ali, completamente rendida por ele. Já ‘Raiva Cega’ traz aquele ciúme impulsivo que quase todo mundo já viveu: conversa antiga, print fora de contexto e briga à toa. As duas têm muita verdade, mas se for pra escolher uma que resume o álbum, eu fico com ‘Mal Apaixonado’, porque ela traz essa emoção forte e aquele romantismo que é muito a nossa cara.
- Vocês afirmam que o álbum é feito de “histórias reais e sentimentos que o público reconhece”. Existe alguma história pessoal ou momento específico que serviu de grande inspiração para a composição ou a escolha do repertório deste projeto?
Felipe: A gente sempre fala que, se não for verdade, não entra. Nem sempre é uma história 100% nossa, mas é sempre algo que já vimos de perto: amigos, família, coisas que a gente já sentiu. Teve música que escolhemos porque lembrava uma conversa de bar, outra parecia uma situação de show, de fã desabafando com a gente. Esse projeto é muito isso: pegar histórias reais e transformar em canção de um jeito que a pessoa escute e pense “cara, parece que estavam dentro da minha casa quando escreveram isso”.
- O lançamento do álbum completo é acompanhado da estreia do DVD na íntegra no YouTube. Qual é a importância do formato audiovisual para a estética moderna de Felipe & Ferrari, e o que o público pode esperar da intensidade e emoção registradas ao vivo?
Ferrari: Hoje o público não quer só ouvir, quer ver também. O DVD no YouTube é onde dá pra sentir nossa verdade inteira: expressão, olho cheio d’água, sorriso, energia da banda, reação dos convidados. Esse projeto foi pensado para ser visto. A estética mais moderna, o cenário, a forma como a câmera acompanha a interpretação… tudo isso ajuda a contar a história da música junto com a gente.
- Com uma década de carreira, vocês acumulam mais de 18 milhões de visualizações e 440 mil ouvintes mensais. Como vocês avaliam essa conexão sólida com o público e de que forma a resposta dos fãs nas plataformas digitais influencia as suas decisões artísticas?
Felipe: Esses números todos – milhões de visualizações, centenas de milhares de ouvintes mensais – representam gente de verdade, histórias de verdade. E isso pesa na hora de decidir tudo. A gente observa muito o que o público abraça: qual música eles cantam mais alto no show, qual vira trend, qual enche a gente de mensagem. Isso vai guiando nossas escolhas de single, de repertório, até de tema. Mas, acima de tudo, o que mais fala alto é ver o povo emocionado na nossa frente, cantando como se a música tivesse sido escrita pra eles.
- O álbum foi gravado em Goiânia, o coração do sertanejo. A escolha do local tem um simbolismo específico e de que forma o ambiente goiano contribui para a energia e a produção do disco?
Ferrari: Goiânia sempre foi um sonho pra nós. É uma cidade que respira sertanejo: compositor em cada esquina, músico de altíssimo nível, produtores, estúdios… Tem uma energia que te puxa pra dar o melhor. Gravar em Goiânia foi tipo dizer pra nós mesmos: “estamos prontos pra esse novo passo”. O ambiente, as pessoas e até o clima da cidade entram no disco, você sente isso na vibração das músicas.
- O release destaca que vocês colocaram “toda a nossa verdade e emoção” em cada música. Qual é o maior desafio em traduzir essa verdade pessoal em letras que sejam, ao mesmo tempo, sinceras e comercialmente atrativas?
Felipe: O maior desafio é não se perder. Tem muita tendência passando o tempo todo, e a gente poderia tentar seguir tudo, mas aí deixaria de ser Felipe & Ferrari. Então, a nossa régua é: primeiro vem a verdade, depois a estratégia. A música precisa emocionar a gente antes de pensar em número. Ao mesmo tempo, a gente entende que precisa de refrão forte, frase marcante, algo que grude. Então é um casamento: letra sincera, sentimento real, mas com uma embalagem que faça a música chegar longe.
- O álbum busca um “equilíbrio perfeito entre romantismo, intensidade e o toque de irreverência”. Como vocês trabalham em dupla para balancear esses elementos de forma que a personalidade de ambos se manifeste na medida certa?
Ferrari: Isso acontece muito naturalmente porque somos pessoas diferentes, mas muito complementares. Tem hora que um puxa mais pra dor, pro drama, e o outro traz aquele comentário mais leve, quase uma ironia dentro da sofrência. Na escolha das músicas, a gente sempre pensa: ‘esse projeto tem que fazer chorar, mas também tem que fazer rir — nem que seja de nervoso (risos). Tem que ter música pra lembrar do ex e música pra virar a página’. Esse equilíbrio é a soma dos nossos pensamentos e sentimentos.
- Sucessos antigos como “A Carta de Larissa” e “A Menina de Fone” consolidaram a carreira da dupla. Qual o sentimento de revisitar esses sucessos e como eles se integram à narrativa de amadurecimento de “Um Novo de Nós”?
Felipe: Toda vez que cantamos “A Carta de Larissa” e “A Menina de Fone” é como se a gente voltasse pro começo, mas com a cabeça de hoje. Essas músicas abriram muitas portas, marcaram a vida de muita gente e da nossa também. No contexto de “Um Novo de Nós”, elas lembram pra gente que dá pra amadurecer sem renegar o que te trouxe até aqui. É bonito ver o público cantando essas antigas e abraçando as novas como se fizessem parte de uma mesma história.
- Qual é o novo capítulo que vocês esperam escrever na história do sertanejo com este álbum? E o que vocês diriam que é a principal marca que Felipe & Ferrari deixam na sofrência moderna?
Ferrari: Com esse álbum, a gente quer escrever um capítulo que fale muito sobre sentimento de verdade. Homem, mulher, todo mundo sente, todo mundo sofre, todo mundo erra – e a gente tenta colocar isso nas músicas sem filtro, mas com cuidado. Nossa marca na sofrência moderna é essa mistura de emoção forte com histórias muito reais e um toque de irreverência. Se no futuro lembrarem da gente como a dupla que cantava a dor de um jeito verdadeiro, que ajudava a curar rindo e chorando ao mesmo tempo, já vai ter valido a pena.
