Nepo Babies e o glamour da disfunção emocional

Nepo Babies e o glamour da disfunção emocional

Por que filhos de celebridades estão redefinindo estilo e mídia com traumas visíveis e distanciamento elegante

Durante décadas, filhos de celebridades tentaram mascarar seus privilégios. Hoje, em vez de negá-los, eles os transformam em ativos culturais. Os Nepo Babies e a disfunção emocional não apenas definem o tom da moda e da narrativa digital, mas também personificam uma estética melancólica que captura o espírito da época.

Quando o sobrenome se torna símbolo de caos fashion

Antes, era comum ver celebridades mirins tentando se distanciar da fama herdada. Agora, a lógica se inverteu: quanto mais visível for o drama familiar, maior o fascínio. A dor virou linguagem estética. O caos, cuidadosamente embalado, virou tendência. A herança deixou de ser fardo — e passou a ser performance.

Lily-Rose Depp: a musa do colapso fotogênico

Estrela da HBO em The Idol, Lily-Rose Depp canaliza fragilidade emocional e traumas implícitos com perfeição desconfortável. Não por acaso, ela veste Chanel como se fosse armadura emocional. “Há algo de hipnotizante em ver alguém tão bela parecer tão danificada,” afirma Livia Gueissaz, analista cultural.

Lourdes Leon: selvagem, articulada e ingovernável

Filha de Madonna, Lourdes não busca aprovação — ela desafia. Com looks propositalmente bagunçados, sobrancelhas raspadas e um olhar sempre enigmático, ela desconstrói a noção de herdeira conformada. “Ela não nega o sistema. Ela o subverte com charme selvagem,” diz Gueissaz.

Apple Martin: desconforto como statement fashion

A aparição de Apple Martin na primeira fila da Chanel surpreendeu pela tensão silenciosa. Seu desconforto virou pauta. A dúvida em seu olhar foi mais impactante que qualquer look. “Essa hesitação transforma figuras públicas em personagens que queremos acompanhar,” explica Gueissaz.

Maya Hawke: tristeza como identidade de marca

Filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, Maya encarna a nepo baby intelectual. Com presença etérea, fala pausada e repertório literário, ela se conecta a um público que vê na introspecção uma forma de sofisticação emocional. Seus traços de vulnerabilidade não são fraquezas — são sua estética.

Clara McGregor: disfunção como roteiro autoral

Clara, filha de Ewan McGregor, escolhe projetos que espelham traumas reais. Ao produzir e atuar em obras sobre vício e abandono, ela desafia a narrativa da infância perfeita. O público não quer ilusão — quer cicatrizes editadas com bom gosto.

Disfunção como moeda simbólica da geração Z

Vivemos uma era onde vocabulário terapêutico é trend, e a dor, quando bem enquadrada, gera mais engajamento do que felicidade. O sofrimento, se performado com estética, torna-se valioso. Esses jovens não querem apenas espaço — querem redefinir o que é ser relevante.

Por que o público se conecta mais com o caos do que com o sucesso?

Autenticidade — ainda que coreografada — é o novo luxo. Quando os Nepo Babies tropeçam, o público assiste, comenta e se identifica. “A disfunção é o que há de mais identificável,” afirma Gueissaz. “Todo mundo tem uma família bagunçada — ver isso nos famosos cria um espelho.”

Entre o real e o roteirizado: onde termina o trauma e começa a tendência?

É impossível dizer. E talvez nem importe. No final das contas, o que vemos é uma geração que não se desculpa por sua dor, nem tenta escondê-la. Ela a transforma em conteúdo, moda, influência. E isso está funcionando.

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