Entrevista: Benny Briolly, vereadora
1. Benny, como foi o processo de escrever suas memórias? Quais foram os momentos mais desafiadores e os mais gratificantes durante esse processo?
Foi um processo muito intenso e emocionante de expressão das minhas experiências como mulher da vida. Acredito que seja inevitável não se sentir desafiada quando relembro traumas do passado e as questões mais profundas do meu emocional. Mas poder compartilhar minha história, luta, esses desafios que passei e inspirar outras pessoas é muito gratificante.
2. Você mencionou a importância da educação em sua vida. Como você vê o papel da educação na luta pelos direitos das pessoas transgênero no Brasil?
A educação em si tem um papel fundamental nas nossas vidas. Eu vejo que a educação inclusiva é uma ferramenta poderosa para promover a igualdade e a aceitação; além de fazer a gente entender e defender os nossos direitos, quebrando preconceitos e estereótipos.
3. Sua trajetória política tem sido marcada por desafios e ameaças. Como você se mantém resiliente diante dessas adversidades?
Cultivando o amor, esperança e coragem. A minha força maior está na minha história e, por isso, não permito que essas ameaças me impeçam de continuar a lutar pelos direitos das pessoas trans, justiça social e liberdade religiosa.
4. Em seu livro, você aborda temas como religião e espiritualidade. Como esses aspectos influenciaram sua jornada pessoal e política?
A minha fé é um elemento muito importante na trajetória da minha vida pessoal e profissional. É onde encontro conforto e força para enfrentar as batalhas e desafios diários.
5. Você mencionou sua identificação com a militância progressista e sua proximidade com Marielle Franco. Como essas influências moldaram sua visão política e suas ações como vereadora?
A Marielle teve um papel importantíssimo na construção da minha visão e feitos políticos. Como disse no livro, ela é uma protagonista grandiosa na luta feminina no cenário político e uma influência para mim. O carinho que ela tinha comigo era um sinal de força, que me ajudava a me levantar e estar sempre de cabeça erguida para enfrentar o que vinha.
6. Como você vê o papel da representatividade política na luta pelos direitos das pessoas transgênero no Brasil? Quais são os principais desafios enfrentados por essa comunidade?
Ter a representatividade de pessoas trans na política nos ajuda a dar um tom a mais no volume de nossas vozes e lutar pelos nossos direitos. Mas a falta de recursos e oportunidades deixam uma lacuna nesse processo. As pessoas trans precisam ter seu espaço na política, para garantir que seremos ouvidos e atendidos.
7. Você se tornou a primeira parlamentar travesti no Rio de Janeiro. Como essa conquista impactou sua vida e sua visão sobre o futuro da política brasileira?
Essa conquista foi como uma ferramenta forte que me ajudou a quebrar barreiras e que me auxiliaram a fazer reformas que mudam o cenário político. Acredito que essa conquista é uma imagem de inspiração para outras pessoas que farão parte de um futuro melhor e mais acessível na política.
8. Em seu livro, você compartilha momentos preciosos de sua trajetória, incluindo suas relações familiares e sua espiritualidade. Como esses aspectos influenciaram sua identidade e sua atuação política?
A minha família e minha fé são minhas bases de apoio, que me incentivam a buscar os meus direitos e os direitos do próximo, também. É o que me fortalece.
9. Como você enxerga o papel da arte e da cultura, como o cinema, a música e o Carnaval, na promoção da diversidade e no combate à discriminação?
A arte e a cultura possuem um espaço muito interessante quando o assunto é expressão de si. São o espaço em que você se encaixa de acordo com o que gosta e mostra de onde você é, e que, especialmente com a cultura, ajudam na construção do nosso eu. O contexto artístico atual, seja no cinema ou na música, possui um grande espaço gigantesco para a diversidade; hoje em dia vemos uma maior representatividade LGBTQIA+ e, assim, identificamos.
10. Você foi eleita vereadora com uma expressiva votação em Niterói. Quais são suas principais metas e projetos para o seu mandato em prol dos direitos humanos e da comunidade LGBTQIA+ na cidade?
Ter um vínculo parceiro com líderes e organizações comunitárias ajuda muito a compreender melhor o que os cidadãos da comunidade LGBTQIA+ estão buscando e necessitando, então, garantir que essas pessoas sejam tratadas com respeito e dignidade e criar políticas mais inclusivas são, com certeza, metas do meu mandato.
11. Alguns críticos argumentam que a representatividade política de pessoas trans pode alienar outros grupos. Como você responderia a essas críticas?
É muito importante reconhecer o quão enriquecedor pode ser um debate democrático quando ele possui diversidade.
12. Algumas pessoas acreditam que a religião não deveria ter espaço na política. Como você justifica sua abordagem que integra religião e ativismo político?
Quando utilizada para impulsionar a compaixão e justiça social, a religião na política também é uma forma de inspiração.
13. Com o aumento da visibilidade de pessoas trans na mídia, alguns afirmam que isso pode banalizar a luta por direitos. Qual é a sua opinião sobre essa perspectiva?
A mídia é o lugar ideal para combater o preconceito. Um lugar amplo e de grande alcance, de pessoas que buscam referências e também são inspiradoras. É importante trazer essa visibilidade com muito respeito e autenticidade, evitando sensacionalismo e trazendo a transparência das nossas lutas.
14. Benny, como foi sua transição da militância social para a política institucionalizada?
Foi um passo muito natural na minha jornada de ativismo. A política institucionalizada oferece um espaço de mudanças sistêmicas e influência das políticas públicas em prol dos direitos humanos.
15. Como você equilibra sua atuação como vereadora com suas outras atividades, como escritora e ativista?
Equilibrar tudo isso requer dedicação e organização. Busco priorizar as questões mais urgentes, que possuem relevância dentro da minha comunidade, mas também busco contribuir com causas que também são importantes para mim. A escrita coloca meu ativismo em palavras.
16. Quais são os principais desafios que você enfrenta como a primeira parlamentar travesti no Rio de Janeiro?
Ser mulher, trans e negra me fizeram superar obstáculos como a discriminação, injustiça e a falta de apoio. Trazer esse desafio para o cenário político, vem junto de uma determinação para bater de frente e representar dignamente a minha comunidade e promover a igualdade e justiça para todos.