Entrevista: Luciene de Oliveira, jornalista e escritora
1. Luciene, contar histórias infantis que abordam questões sensíveis é um desafio. Como você decidiu abordar a chegada de um novo irmão na família de uma forma lúdica?
Max, penso que o processo foi bem intuitivo. Minha mãe sempre contou que minha irmã não me aceitou logo de cara. Vi ciúmes também no meu filho mais velho quando o irmão nasceu. Tereza representa o que muitas famílias passam. Eu aproveitei para colocar tudo isso em amor e rimas… rs
2. Você mencionou que a inspiração para o livro veio durante uma noite de insônia na pandemia. Como foi esse momento de inspiração e como você transformou essa experiência em uma história tão cativante?
Um processo depressivo e insônia trouxeram à tona algo que sempre tive dentro de mim: amor a crianças e o dom de escrever. Me coloco no lugar da personagem e vivo as aventuras com ela. Isso me relaxa e motiva. Já tenho outro escrito.
3. A perspectiva de contar a história do ponto de vista do irmão mais velho é interessante. Como você acha que essa abordagem pode ajudar outras crianças que estão passando pela mesma situação?
Isso vai depender de como a família vai encarar o processo junto com a criança. Tem que ser lido junto. A criança sozinha talvez não tenha a compreensão. As ilustrações estão lindas demais. Tereza foi reproduzida por inteligência artificial, de modo a encantar os pequenos. Mas a primeira leitura tem que ser feita junto com o pai ou a mãe e tem que vir junto com: – olha só, a Tereza ficou com ciúmes, olha só, a Tereza é amada e nem consegue perceber… mais ou menos isso…
4. Lidar com emoções complexas como alegria, ciúmes e tristeza em uma história infantil é delicado. Como você equilibrou esses sentimentos para que fossem compreensíveis para o público infantil?
Falando como minha mãe falaria. Com amor. Descrevendo a emoção de forma lúdica, de maneira que a criança a sinta, sem perceber.
5. Você mencionou que após a leitura do livro, seu filho mais velho iniciou uma conversa aberta sobre o assunto. Como você percebeu que a narrativa do livro realmente impactou a percepção dele sobre a chegada do irmão mais novo?
Eu disse para ele: olha, acho que a Tereza não entendeu que ganhou amigas para a vida toda, assim como você ganhou o seu irmãozinho. Ele ficou feliz ao ver o sentimento retratado. Sentiu-se parte da história. Lindo de ver.
6. Receber relatos de outras mães sobre como o livro ajudou na comunicação com seus filhos mais velhos deve ser gratificante. Você esperava esse tipo de resposta quando decidiu escrever “A Chegada de um Irmão e um Monte de Confusão”?
Sinceramente, esse livro era algo para ficar “dentro de casa”. Não imaginei que impactaria outras pessoas. Tomara que esse impacto seja cada vez maior, que os pais, tios, avós, amigos, se interessem por livros que falam de sentimentos.
7. Você mencionou que pretende desenvolver outros projetos similares. Pode nos dar uma prévia de quais temas sensíveis você pretende abordar em suas próximas obras?
O próximo será sobre bullying e já estou escrevendo o terceiro, que fala do divórcio dos pais. Mas tem tanta coisa ainda por vir… Olavo, Marco Aurélio, Mariana, Sophia… minhas crianças imaginárias ganharão vida!
8. Como você acredita que a literatura infantil pode ajudar as crianças a lidarem com questões emocionais e sensíveis durante o processo de crescimento?
Livro é vida. Assim como Monteiro Lobato, Maurício de Souza, Ruth Rocha, me ajudaram no autoconhecimento, quero falar com as crianças através delas mesmas. Ou seja, qual será o Mistério de Marco Aurélio? O que tem por trás do Jardim de Olavo? Eles irão entender, quando tiverem os livros.
9. Além da literatura, você tem experiência como jornalista e assessora de imprensa. Como essa bagagem influenciou sua abordagem na escrita de livros infantis?
Eu tudo! Me comunico muito bem através da escrita. É minha melhor forma de demonstrar afeto. Minha profissão faz com que eu exercite isso diariamente, o ato de escrever. Mente ativa, fica criativa!
10. Qual mensagem você gostaria de deixar para os pais e educadores que estão buscando maneiras de abordar questões sensíveis com as crianças por meio da leitura?
Por favor, ensinem as crianças a amarem os livros. Isso é terapêutico. Use os temas em favor dos sentimentos, pois assim, aprenderão a gerenciá-los de maneira mais assertiva.