Alunos da rede pública de Camaçari criam curta metragem que participará de festival internacional na Alemanha

O filme foi produzido na oficina de cinema do Programa Imagens em Movimento que atende escolas da região

No dia 1º de junho, embarcam para a Alemanha duas estudantes da rede pública de ensino do Brasil com o objetivo de integrar o encontro internacional “À nous le cinéma!“, em Frankfurt, Alemanha, que reunirá estudantes, educadores e cineastas integrantes de organizações de 15 países, dedicadas à pedagogia do cinema e do audiovisual. Entre as presenças já confirmadas está o diretor alemão Wim Wenders.

Uma das alunas é Talita Santos, da Escola Municipal Virginia Reis Tude (Camaçari, Bahia), que junto com Letícia da Silva, da Escola Estadual Armando Dias (Várzea Paulista, São Paulo), vão representar o PIM neste evento internacional, que reunirá cerca de 500 crianças e adolescentes aprendizes do cinema.

Em 2023, o Programa Imagens em Movimento (PIM) renovou sua parceria com a empresa Elekeiroz e passou a ministrar oficinas de cinema em quatro escolas da rede pública de ensino na cidade paulista. As escolas estaduais Armando Dias, Lavínia Ribeiro Aranha, Idoroti de Souza Alvarez e Irmã Maria de São Luiz foram os selecionados para receber, por mais um ano consecutivo, a iniciativa. 

Em Camaçari os alunos da Escola Municipal Virginia Reis Tude realizaram coletivamente o filme “Alice”, que conta a história de uma adolescente de 14 anos que está tendo dificuldades de lidar com as mudanças de seu corpo e conta com a ajuda de sua irmã para superar esse momento.

O curta-metragem baiano fará parte da programação do Encontro de Rede “Cinema, cem anos de Juventude”, que acontece este ano pela primeira vez fora da França. Os filmes terão suas estreias nacionais em novembro, junto aos outros 21 curtas metragens que serão produzidos este ano no âmbito do PIM em uma Mostra Itinerante de Curtas na cidade. 

O PIM é fruto de uma parceria pioneira na América Latina com uma rede de 16 organizações internacionais, chamada  Cinema, cem anos de juventude,  fundada pelo cineasta e professor francês Alain Bergala, referência mundial no campo da pedagogia do cinema. O objetivo do projeto é trazer para o currículo escolar da rede pública brasileira a experiência crítica e criativa das artes, em oficinas gratuitas, desenvolvidas no horário extracurricular, que se baseiam em metodologias de vanguarda.

“Esse projeto surgiu de um desejo que poderia ser considerado utópico, de colocar os estudantes de escolas públicas brasileiras em situação de igualdade com alunos de outros países como França, Alemanha ou o Japão. É claro que eles vivem realidades absolutamente distintas, inclusive no que diz respeito ao contexto da educação pública de cada lugar. Mas através da experiência criativa do cinema e do encontro com essa arte, tem sido possível, sim, realizar este sonho”, conta Ana Dillon, diretora do Programa Imagens em Movimento e fundadora da ONG Raiar.

O programa nasceu no Rio de Janeiro em 2011, e desde 2022, passou a alcançar outros quatro Estados. Alunos do Ensino Médio e Ensino Fundamental de Camaçari (Bahia), Várzea Paulista (São Paulo), Vitória (Espírito Santo), Macaé e Duque de Caxias (Rio de Janeiro) participaram este ano de oficinas de Cinema que resultaram na produção de curtas metragens concebidos e realizados por eles – do roteiro à edição final -, a partir de desafios audiovisuais comuns, frutos de uma metodologia pedagógica compartilhada internacionalmente.

Ana complementa que esse trabalho “surge de um desejo de atuar em rede desde o princípio, baseado na troca intercultural, no encontro de paisagens sociais e geográficas distintas, vistas pela perspectiva das crianças e adolescentes. Então faz todo o sentido ver esta ação ganhando uma dimensão de rede também a nível nacional, criando trocas de experiências de vida através do cinema, entre jovens de São Paulo, da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro”.

Ao todo, cerca de 3 mil alunos e 200 educadores já se beneficiaram do programa ao longo de seus 12 anos de história, trazendo ao mundo mais de 200 filmes nas oficinas, oferecidas para grupos de 15 a 20 estudantes no contraturno escolar.

“A cada ano elaboramos de forma colaborativa uma metodologia de iniciação ao cinema, junto à rede de parceiros internacionais, e compartilhamos também os resultados destas propostas, em um grande intercâmbio de experiências culturais e audiovisuais. Além disso, o PIM desenvolve os seus próprios eixos temáticos que, neste 2023, muitos dos 21 filmes produzidos estão voltados à identidade, ao território, à cultura afro-brasileira e à questão de gênero”, explica a coordenadora geral Clarissa Nanchery.

A pedagogia do PIM é baseada no incentivo ao protagonismo das crianças e dos adolescentes ao longo do processo de experimentação artística, que objetiva proporcionar um ambiente de acolhimento e reflexão que as estimule a produzir conteúdos audiovisuais a partir de suas próprias histórias, sonhos, questionamentos, favorecendo a representatividade, a noção de pertencimento e a intervenção na realidade.

O projeto oferece equipamentos audiovisuais para a realização dos filmes e os exercícios e as aulas são conduzidas por educadores audiovisuais e integrantes da equipe do Imagens em Movimento. No período de filmagem dos curtas-metragens, toda a logística de deslocamento e alimentação dos alunos também ficam a cargo do projeto.

O Programa Imagens em Movimento é uma iniciativa da ONG Raiar (Rede de Ações e Interações Artísticas), cuja missão é promover a arte e a cultura no âmbito da Educação Pública, com foco em experiências criativas e artísticas vivenciadas através da linguagem audiovisual, contribuindo para o desenvolvimento de práticas educativas inovadoras no ambiente escolar.