Entrevista: Rian Semy, cantor e compositor

Entrevista: Rian Semy, cantor e compositor

1. Rian, você pode nos contar mais sobre o processo de criação do seu EP “Solar”? Como foi essa jornada?

O processo de criação do Solar começou em 2022. Eu tinha uma música chamada “Liniker”, ainda em versão demo. Essa música, mais tarde, se tornou a “Golden Hour”, faixa 4 do EP. Em junho do ano passado entrei em estúdio, estava pronto para um projeto mais denso do que apenas alguns singles soltos, como eu havia feito antes. Eu passei por alguns momentos turbulentos na minha vida pessoal e a minha forma de superar e me curar foi através da música. Eu sabia qual a narrativa desse projeto desde o dia 1: mostrar que o caminho para sair de momentos ruins é encontrar um caminho solar. E eu fiquei feliz de ter encontrado, das músicas terem tido esse papel de superação na minha vida e espero que isso consiga refletir nas pessoas que ouvem também. 

2. Qual foi a inspiração principal por trás das canções inéditas como “Vinhozinho” e “Golden Hour”?

A “Vinhozinho” surgiu junto com a “Copão”, basicamente na mesma semana. Foi na minha casa, sentado no sofá e com um violão na mão que eu e o GB Honorato começamos a rascunhar essa faixa. A ideia da Vinhozinho é amar alguém que é um lar, que é um amor que te acolhe e que você não quer deixar partir da sua vida. A faixa é bem romântica, mas por incrível que pareça, não foi feita pra ninguém em específico. É mais sobre a forma como eu e o GB vemos o amor. A música era pra ser solo, porém, quando entramos em estúdio, fizemos a parte do GB e ela ganhou uma nova forma, que ao meu ver enriqueceu muito a faixa. 

Já a “Golden Hour” foi completamente diferente. Eu compus em 2022, no meu quarto, com um ex amor em mente. É uma faixa muito visual, porque ela conta uma história, ambienta o ouvinte conforme a música vai acontecendo. Ljniker tocava muito na TV durante esse momento da minha vida e eu estava apaixonadinho, haha! Mas deixei essa faixa guardada até o momento certo. E acho que ‘Solar’ fala muito disso, desse reencontro com o amor também. Seja um amor próprio, seu o amor dos amigos, seja o amor romântico. Todos os caminhos levam à luz, haha! 

3. Como foi trabalhar com NIV1 e GB Honorato na produção e composição deste EP?

Tanto o GB quanto o NIV1 foram parceiros muito generosos durante o processo do EP. O GB trouxe muitos instrumentos orgânicos para as faixas e o NIV1 é um mestre na produção musical. Esse projeto não seria o mesmo sem os dois. 

4. Você mencionou que o EP reflete momentos de superação pessoal. Pode compartilhar algum desses momentos que mais impactaram sua música?

O ‘Solar’ reflete um dos anos mais difíceis da minha vida, que foi em 2022. Eu estava passando pelo luto pela primeira vez, vendo a minha vida totalmente fora de perspectiva. Mas foi quando eu também precisei encontrar mais luz dentro de mim pra conseguir continuar. E eu acredito que a gente só encontra a luz vivendo a sombra. Então o ‘Solar’ só foi possível por conta desses momentos de tristeza. Pra mim, esse EP é um remédio, é uma cura. Fala sobre intenção, sobre a vontade de viver novamente, sobre ter brilho nos olhos de fazer o que se ama. Ao mesmo tempo que são coisas banais, também são coisas que eu não tinha naquele momento, mas eu queria ter, eu queria construir em mim. Eu estava triste, por isso cantei sobre querer viver os melhores dias da minha vida. Eu estava sem amor, por isso cantei sobre querer viver o amor. Eu estava desanimado e, por isso, cantei sobre aproveitar a vida. É sobre intenção e desejo. Eu tinha o desejo em mim, então fiz esse desejo de escada para de fato chegar onde eu cheguei, num lugar mais tranquilo e feliz comigo. Hoje eu estou bem e gosto de ver o ‘Solar’ como um retrato de um momento da minha vida, principalmente de superação e de afago comigo mesmo. 

5. “Solar” flerta com diversos gêneros musicais, incluindo R&B, pagode e funk. Como você equilibrou essas influências no seu trabalho?

Eu vim de São João de Meriti, Baixada Fluminense/RJ. O meu município já foi chamado de Formigueiro das Américas, por conta da densidade demográfica. Então você imagina crescer num lugar onde em cada esquina tem uma música diferente tocando, onde cada bar tem uma vibe. Ao mesmo tempo que tocava muito funk em todos os lugares, havia um bar que tocava pagode a noite toda embaixo da casa da minha mãe. Somado a isso, cresci vendo DVDs de Hip Hop Vídeo Traxx, onde eu aprendi a gostar do R&B da gringa. Então acho que foi um processo natural misturar as coisas, porque está muito em mim e no artista que eu me tornei. Quando eu compus a “Copão” eu sabia que queria misturar um pouco do R&B dos anos 2000 com um pagodinho. Tem um cavaquinho tocando nessa música, que só percebe quem está bem atento. O Funk ficou por conta da “Sem Love”, última faixa do EP porque eu sabia que surpreenderia as pessoas e os fãs. Eu estava vindo numa pegada muito R&B e acho que foi um caminho que não era tão óbvio. No final das contas, funcionou muito bem e eu adoraria ver essas músicas ganhando o mundo e tocando em versões de funk, pagode, forró, etc. Costumo dizer que essas músicas são da rua, porque elas foram pensadas para isso.

6. Como foi o processo de gravação dos videoclipes para as músicas do EP? Tem alguma história interessante dos bastidores?

Os videoclipes foram dirigidos por Max Chagas, um amigo de longuíssima data. Eu já havia feito alguns visuais de sustentação para “Copão” e “Groove Pelo Ar”, mas queria muito amarrar todo o EP em cima de uma ideia maior. Foi quando a gente pensou num conceito visual amarrado pelos looks, beauty e narrativa. Todos os vídeos se complementam de alguma maneira e o fio condutor sou eu, que carrego as histórias. 

Sobre histórias engraçadas e diferentes, existem algumas! Como, por exemplo, a gente não tinha modelo pro vídeo da ‘Vinhozinho’ até um dia antes do clipe, então o Rômulo, amigo de um amigo meu, foi super solícito e topou participar. O queijo gorgonzola da tábua estava bem ruim e a gente só percebeu depois de já estar na mesa. Porém a gente fingiu bem, haha! Um dos figurinos de Groove Pelo Ar só chegou no dia da filmagem, então eu quase participei sem ele, haha! Produzir vídeos de forma independente é sempre um desafio, mas foi bem divertido! 

7. Você acha que a indústria musical brasileira dá o devido valor aos artistas independentes?

Acho que nós temos artistas incrivelmente talentosos aqui no Brasil, mas acho que ainda precisamos abrir mais espaço para os artistas independentes. É preciso ocupar os lugares, sabe? As rádios ainda são todas voltadas para artistas de gravadoras, é raro ver artistas independentes na TV… Então assim, sempre há mais portas para abrir. A indústria está crescendo e, com ela, também os artistas independentes. Mas sempre há mais a ser conquistado. 

8. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou na sua trajetória musical?

Acho que os maiores desafios sempre vêm de dentro, né? A gente precisa se autorizar, precisa se permitir. Acho que as portas se abrem a partir do momento que a gente se autoriza a abrir essas portas. Fora isso, já tive muitos problemas em encontrar produtores musicais que acreditem no projeto, principalmente mais no começo na carreira. Já tive músicas que gravei e nunca foram finalizadas, já tive faixas que ficaram ruins e os produtores não quiseram fazer o recall, já tive faixas que os produtores não quiseram produzir e nunca me entregaram… O início é sempre mais desafiador. Mas, agora com um EP lançado, com uma narrativa e identidade artísticas mais nítidas, creio que fique mais fácil de conseguir suporte. 

9. Onde você se vê daqui a cinco anos em termos de carreira?

Daqui a cinco anos eu me vejo tocando nas rádios, caixas de som e na vida das pessoas. Eu gosto de imaginar que minha música pode ser um canal de expressão de felicidade, de momentos de acalanto, de momentos importantes, sejam eles felizes ou tristes, na vida das pessoas. Acho que o papel da música é esse, de abraçar a gente. Claro, espero estar tocando e fazendo shows em teatros cheios e ter lançado o meu primeiro álbum também. Tenho muitos sonhos e muita vontade de realizar, então espero que sejam cinco anos incríveis!

marramaqueadmin

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