Entrevista: Flávio Silva, músico

Entrevista: Flávio Silva, músico

1.   Flávio, o que motivou o nome “EKO” para o seu novo álbum?

EKO significa “lição” em Yorubá, nos ultimos anos eu tenho me conectado a minha ancestralidade Afro-Brasileira e, ao me deparar com essa palavra, encontrei o significado perfeito para o album que foi composto durante a pandemia.

2. Como foi o processo de composição das músicas autorais deste álbum?

O meu processo de composição é bastante orgânico. Algumas vezes, enquanto estou praticando, me deparo com um groove e fico nele por um tempo para solidificar aquela idéia, costumo gravar no telefone e depois volto pra desenvolver aquela idéia. Da mesma forma, as idéias podem começar por um fragmento melódico ou harmônico. Também busquei criar melodias do tipo “chiclete”, que ficam no ouvido e que sāo cantáveis, usando um elemento de música pop, porém para temas instrumentais.

3.   Qual a importância das suas raízes afro-brasileiras no desenvolvimento deste trabalho?

As minhas raízes afro-brasileiras estão presentes no processo criativo, principalmente no aspect ritmico. Músicas como Motaba e Eko, que possuem grooves marcantes tem uma relação grande com essas raízes, por exemplo. Tenho buscado essa conexão cada vez mais na hora de compor.

4. Pode nos contar um pouco mais sobre a escolha de “Don Quixote” para uma releitura?

Escolhi Don Quixote por que me apaixonei por essa música quando a escutei pela primeira vez. A melodia é maravilhosa e, na gravação original, Herbie Hancock faz um solo de cair o queixo, que inclusive eu transcrevi, pra aprender um pouco…

5.   Como foi trabalhar com Cuca Teixeira, Sidiel Vieira e Gabriel Gaiardo neste projeto?

Somos amigos a muito tempo, e escolhi eles por saber exatamente como eles soariam nesse projeto, a sensibilidade e musicalidade de cada um deles fez as músicas criarem vida e, soar exatamente como eu tinha imaginado. Eles são alguns dos maiores músicos do Brasil e eu tenho a alegria de ter eles como companheiros de grupo e como amigos.

6. O que você espera que os ouvintes tirem ao escutar EKO?

Espero que os ouvintes se conectem com as músicas, que eles cantem as melodias e que elas fiquem rondando as suas mentes, mas o mais importante, que os ouvintes se divirtam ao escutar o álbum

7.Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao produzir este álbum?

O maior desafio foi o bloqueio criativo durante a pandemia. Demorei para terminar as músicas e também para finalizer o disco pq a cabeça não tava muito boa, como a da maioria das pessoas

8. Como foi a experiência de gravar no Artsy Club Studios em São Paulo e mixar em Nova York?

O Artsy club é um studio muito bom, e tem algumas pessoas maravilhosas trabalhando por lá, como meu amigo e dono do studio,  Dilson Laguna, Sidnei Souza, que foi o técnico de gravação, me sinto muito a vontade nesse lugar, com tantas pessoas queridas ao redor.

Mixar em Nova York também foi algo muito legal, tive o mestre Dave Darlington mixando o disco, ele já trabalhou com Wayne Shorter, Herbie Hancock, Sting, George Benson e tantos outros, e consegue mixer com uma qualidade altíssima e com muita facilidade, além de ser um cara maravilhoso, cheio de histórias pra contar.

9. Quais são as suas faixas favoritas do álbum e por quê?

A faixa favorita é “Pare de saranhar o meu cabelo, menino”, que era uma expressão usada pela minha avó Therezinha, quando eu brincava com ela e tentava desarrumar o seu cabelo. Essa música foi escrita em homenagem a ela, que faleceu em 2019

10. Pode falar sobre o significado pessoal deste álbum, especialmente considerando que ele nasceu de um momento difícil em sua vida?

O significado é grande, pois o album é o resultado das dificuldades encontradas e que consegui achar uma maneira de lidar, trazendo mais arte pro mundo, mesmo com todo o bloqueio criativo, a coisa aconteceu e deu certo!

11. Após tantos anos no exterior, o que te trouxe de volta ao Brasil?

Estar mais próximo da minha mãe, e, de alguma forma, as vezes a gente cansa e só quer voltar pra casa, haha. Vivi muitas coisas legais nos meus anos na Europa e Estados Unidos, acho que senti a vontade de viver esses momentos também no Brasil.

12. Como você vê a evolução da sua música desde o lançamento do seu primeiro álbum em 2013?

A evolução é grande, a maturidade tanto nas composições quanto no play são evidentes e isso me alegra.

13. Como foi trabalhar com artistas renomados como Victor Wooten e Seamus Blake?

Tive a oportunidade de tocar com Victor Wooten na Musik Messe, e ele é um cara muito gente fina além de ser um mestre no contrabaixo. Já com o Seamus, tocamos juntos em diversas situações em Nova Iorque, fizemos um show em São Paulo no final de Dezembro do ano passado e também tive a alegria de ter ele no meu Segundo album, Break Free. Sou fā da música dele por muito tempo e tocar e ter ele como amigo é um grande privilégio.

14. Você acredita que a indústria musical brasileira valoriza adequadamente seus artistas de jazz e instrumental?

Nem um pouco. O Brasil é esse caldeirão de culturas e de grandes músicos, porém, o foco está sempre no que é mais vendável. Mas, ao mesmo tempo, é bacana de ver que o interesse pela música instrumental também aumenta, em especial em gerações mais novas, afinal de contas a palavra Jazz, hoje em dia, pode significar uma grande mistura de estilos.

15. Como foi sua experiência lidando com as diferenças culturais e musicais entre os países onde viveu?

Olha, não foi fácil. Sair do Brasil, um lugar com um povo quente, e chegar na Bélgica, que tem pessoas mto legais, mas bastnte frias, foi duro. Precisei aprender a ser mais direto, e a não levar as coisas de maneira pessoal, mas esses foram ótimos ensinamentos.

Musicalmente, tive acesso a novas experiencias e isso foi muito legal, conheci músicos de diversas partes do mundo e isso agregou demais à minha música.

16. Na sua opinião, o que falta para a música instrumental brasileira ter mais reconhecimento internacional?

Talvez um investimento maior? Assim como todo artista pop de sucesso, sempre há uma grande quantia de dinheiro investido, porém, com a música instrumental brasileira, não conseguimos o mesmo tipo de investimento.

Algo também importante, é o serviço de acessorias de imprensa internacionais, essas empresas podem nos ajudar a ter a nossa música melhor divulgada, consequentemente, abrindo portas para novas empreitadas e shows internacionais

marramaqueadmin

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