Artista confronta memórias de medo para produzir obra fotográfica

Artista confronta memórias de medo para produzir obra fotográfica

O artista visual Wilame Lima, 41, está prestes a expor suas obras na Galeria Azur, em Berlim, na Alemanha. O que poucos sabem é que as fotografias que serão exibidas são fruto de um processo doloroso e libertador da exploração de sua própria história.

Wilame nasceu em Aracaju, Sergipe, e viveu uma infância e adolescência modestas. A demissão de seu pai, tesoureiro de um banco, na esteira das medidas econômicas do governo Collor, impactou financeiramente a família. O artista recorda que tinha vergonha de onde morava e do que não tinha, o que se agravou por ter estudado em uma escola particular.

Outro marco em sua vida foi a compressão de sua homossexualidade. Wilame cresceu em um ambiente religioso, o que contribuiu para que internalizasse a culpa por sua orientação sexual. “Eu desenhava o tempo inteiro, porque não podia falar sobre o que eu sentia com ninguém”, conta.

Um episódio marcante foi quando, após receber a notícia de uma tentativa de suicídio de uma pessoa próxima, Wilame foi recebido na escola com um “corredor polonês” de meninos gritando “viado”. “Esse acontecimento me marcou bastante, porque foi a partir daí que eu comecei a sentir cada vez mais medo de ir à escola”, diz.

O nomadismo também é um aspecto definidor para a história de Wilame. Após terminar a faculdade de jornalismo, em 2005, o artista começou a se deslocar geograficamente. Passou por Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e, por fim, imigrou para a Suíça, onde conheceu seu marido.

Em solo estrangeiro, Wilame sentiu mais fortemente o preconceito sofrido por algumas “categorias de estrangeiros”. “Contudo, na Suíça, eu passei pela grande imigração, ao apartar-me totalmente da minha terra”, diz.

O artista enveredou-se por outras áreas, fez um curso de tecnologia da informação e trabalhou na Nestlé. Em 2015, foi transferido para a filial brasileira da empresa, acompanhando o marido em mais uma mudança. Nessa época, adotaram uma criança.

Em 2019, Wilame descobriu que seu amigo – com quem havia dividido moradia no Rio de Janeiro – havia sido assassinado em São Paulo por motivações homofóbicas. “Comecei um processo de crise de pânico, que me impossibilitou de sequer ver a foto do meu amigo por dois ou três anos”, conta.

Foi na terapia que Wilame foi incentivado a se explorar e deu início ao processo de sua formação como artista. “Comecei desenhando, tal qual eu fazia quando era criança, depois fiz fotocolagens e até mesmo experiências com inteligência artificial, mas descobri que a melhor forma de me manifestar é através de fotografias”, relata.

O seu projeto de conclusão de curso, intitulado “Drag Queen”, foi uma homenagem ao seu amigo assassinado. Neles destacam-se dois autorretratos: “O tiro” e “Desencarnado”, que farão parte da primeira exposição de sua obra, a ser realizada na Galeria Azur, em Berlim, na Alemanha.

Após esse projeto, o artista embrenhou-se por um caminho mais intimista, buscando se entender melhor como pessoa. Dessa fase, destaque para dois projetos: “Pintura de Guerra”, baseado naquilo que já ouviu das pessoas por ser gay, racializado e nordestino, em que mistura fotos e a escrita; e “Tudo que tem luz”, em que queima uma fotografia híbrida de seu rosto, coberta de purpurina, como forma de marcar uma mudança drástica em sua trajetória.

A exposição de Wilame Lima na Galeria Azur, em Berlim, na Alemanha, marca um momento importante na sua carreira como artista. Suas obras são um testemunho da sua força e resiliência, e da sua capacidade de transformar experiências dolorosas em arte inspiradora.

Não perca a oportunidade de conhecer a obra de Wilame Lima!

marramaqueadmin

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