Entrevista:Emil Sou_toS, escritor

Entrevista:Emil Sou_toS, escritor

1. Emil, podemos começar falando sobre a inspiração por trás de “Dois Estranhos”? O que o levou a escrever esta história tão única?

São muitas e muitas inspirações, tanto de experiências pessoais e principalmente de diversas obras artísticas, como livros, quadrinhos e cinema. Algumas inspirações são citadas no livro, outras estão no livro como easter eggs, e nas redes sociais apresento outras.

Algumas obras que gosto de dar como exemplo são; Daytripper, O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, O Fantástico Mundo de Bobby, Scott Pilgrim Contra o Mundo, e os livros do Saramago e Jonathan Safran Foer.

Mas o argumento inicial da obra nasceu da vontade de contar uma história cotidiana com elementos fantásticos, depois de ler Daytripper dos quadrinistas brasileiros Moon Bá. Mas queria contar uma história mais caricata e divertida, uma fábula psicológica com fundo dramático e real.

Ai nasceu o argumento: Dois neurodivergentes se conhecem numa capital, sem conhecer seus “problemas” mentais e pessoais, expostos de forma lúdica.

2. O livro aborda temas como a saúde mental e a neurodiversidade de maneira profunda. Pode nos contar como esses temas se entrelaçam na narrativa?

A saúde mental e a neurodiversidade são temas importantes na trama, mas não são os únicos, e não são tratados de forma paradidático, mas como elementos de composição da narrativa ficcional. Outra temática importante abordada são o trabalho e relacionamento na modernidade.

Estudei muito as neuroatipicidades, e mais do que isso a vida dos neuroatípicos. Não quis trazer a neuroatipicidade como vilão ou rotulo/resumo dos personagens. Pessoas neuroatipicas não se resume a sua “atipicidade”, são pessoas, e possuem desejos, ambições, paixões, defeitos e qualidades, vitórias e decepções. Os dois “estranhos” protagonistas possuem tudo isso, ao mesmo tempo que precisam trabalhar e com sorte se apaixonar.

3. Tom e Flora são personagens complexos. Como você desenvolveu esses protagonistas e qual mensagem deseja transmitir por meio de suas jornadas?

Foi um longo desenvolvimentos antes e durante a execução da obra. Me baseei em muitas referências artísticas e pessoais para compor ambos personagens, desde sua aparência, nome e apelidos, neuroatipicidade, passado, profissão e ambições. Como Dois Estranhos é uma história de personagens, com o desenvolvimento da obra os próprios personagens iam se desenvolvendo mais e amadurecendo.

Essa jornada de amadurecimento é necessário autoconhecimento e empatia, que é obvio no papel, mas na vivência (mesmo que ficcional) é pavimentada com muitos erros e decepções.

4. “Dois Estranhos” apresenta uma variedade de elementos narrativos, como versos poéticos e diálogos em mensagens de texto. Como esses elementos contribuem para a experiência do leitor?

A obra começou como um roteiro para HQ, os dois primeiros capítulos foram escritos nesse formato, e infelizmente o ilustrador não pode continuar o projeto.

Então decidi escrever como livro. E logo no início do livro já utilizei um storyboard do roteiro como prólogo da história.

Com desenvolvimento da obra, e até pelas diversas inspirações multimidia, fui incluindo outros elementos artísticos na obra, a tornando também multimidia, mas com o objetivo de trazer impacto emocional no leitor em momentos chave.

Roteiro de filme foi inserido para flashbacks e flashforwards, onomatopeias e balões de HQs para representar sons de impacto, versos poéticos para descrever sentimentos profundos como paixão e tristeza, prosa poética para ditar ritmo em momentos profundos, conversa em mensagem de texto para descontração, QRCode/Link de músicas como trilha de cenas engraçadas ou dramáticas, contos fabulosos para representar as neuroatipicidades.

É uma salada, mas bem composta e interligada, que traz uma dinâmica única para obra, e uma experiência inovadora para o leitor.

5.  Sua própria jornada como escritor autista é inspiradora. Como sua experiência pessoal influenciou a escrita deste livro?

Na verdade foi o inverso, como o livro influenciou meu diagnostico, literalmente. Por conta de toda pesquisa sobre neurodiversidade, e conversa com profissionais e amigos que descobri neuroatipicos, me influenciou procurar um especialista depois que escrevi o original em 2022.

Suspeitava que tinha TDAH, e depois de 4 meses de investigação, recebi o diagnostico de Autismo e Depressão. Foi um baque inicial muito forte, tanto que desencadeou uma crise depressiva. Mas por conta do auxilio psiquiátrico, terapêutico e principalmente essa abertura prévia de conversar com amigos e familiares, me ajudou a superar a crise e aos poucos a “me” entender como autista.

6. Podemos esperar que seus outros trabalhos futuros também explorem temas relacionados à saúde mental e à neurodiversidade?

Sim e não. Quero fazer outras obras abordando neurodiversidade mas como escritor quero contar outras histórias interessantes e divertidas. O cotidiano moderno com essa roupagem fantástica é algo que me cativou, e certeza que vou criar outras obras nessa pegada, quem sabe para o público infantil e juvenil.

7. Algumas pessoas acreditam que a literatura não deve abordar temas tão sensíveis como a saúde mental. O que você diria a essas críticas?

Sinto pena por opiniões que apequenam e restringe. A vivência é plural e diversa, e a arte sempre vai além na representação da vida e sentimentos. Felizmente a sociedade tem aos poucos quebrando preconceitos e se tornando mais inclusiva, dando espaço para além do discutir e retratar, mas dando voz aos neurodiversos, pessoas com deficiência, negros, mulheres, LGBTQIA+, povos originários.

Consumir qualquer arte, entretenimento e informação plural e diversa é fundamental para construir a empatia de nossa sociedade para alcançar uma qualidade de vida melhor para todos.

8. “Dois Estranhos” tem sido elogiado por sua representação honesta da bipolaridade. No entanto, alguns críticos argumentam que pode estereotipar. Como você responde a essas preocupações?

Procurei estudar muito o tema, mais do que isso, tive acompanhamento de um professor de escrita que é Bipolar, para abordar o tema de uma forma honesta e não leviana, e creio que consegui.

Mas a obra não tem medo de utilizar de estereótipo e caricaturas, que são ferramentas narrativas, principalmente para literatura de entretenimento que a obra se propõe. O problema é o mau estereótipo, que pode chegar ao ponto de preconceituoso, esse eu naturalmente evitei, mas também tive o trabalho critico pessoal e de terceiros para garantir isso.

9. Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao escrever “Dois Estranhos” e como superou esses obstáculos?

Primeiro o tempo, pois tenho um trabalho formal para me sustentar (como qualquer proletário, hehe). Utilizei do tempo livre para escrever, consumindo finais de semana e férias para tal. O problema que a escrita se tornou um segundo trabalho, e me consumiu bastante. Mas consegui me dar uma dupla folga durante o processo, para não surtar.

Segundo a carga emocional, eu tenho uma mente muito fantasiosa, talvez até por conta do Autismo, então meu processo de escrita se assemelha ao dos atores, eu adentro mentalmente na cena e vivencio a vida dos protagonistas. Isso me carregou bastante durante o processo, mas também foi como uma terapia.

10.   Para nossos leitores que estão ansiosos para ler o livro, onde eles podem encontrá-lo e quais são os detalhes sobre os eventos de lançamento?

Podem encontrar o livro físico no site da Editora Flyve (https://flyve.com.br/380/dois-estranhos), e a versão em eBook na Amazon (https://www.amazon.com.br/gp/product/B0B781SJ3X/)

Farei eventos de lançamento em Outubro e Novembro em Brasília, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e Muriaé/MG (minha cidade natal), para saber detalhes de locais e datas, só me seguir no Instagram @emil.soutos (https://www.instagram.com/emil.soutos/)

marramaqueadmin

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