Saúde mental em cena: espetáculo teatral aborda vício em jogos de azar 

Saúde mental em cena: espetáculo teatral aborda vício em jogos de azar 

‘Não venderemos Ferdinando’ convida o público para um papo sério com humor 

A comédia teatral Não venderemos Ferdinando?! aborda a temática da saúde mental em torno do vício em jogos de azar. Tendo jovens e adultos como público-alvo, a peça busca provocar reflexão ao chamar atenção da plateia para os muitos efeitos desse distúrbio ainda tão pouco falado na nossa sociedade. O espetáculo, com texto e direção de Weverson Yachuva, esteve em cartaz em 2021 na Cidade de São Paulo, encenado pela Cia Filhos de Dionísio, e tem previsão de retorno aos tablados em 2023. 

Alguns móveis desaparecem da casa de forma misteriosa e a acusação acaba caindo sobre um dos membros da família, a partir disso conflitos internos e externos revelam-se como as causas do comportamento compulsivo de Ferdinando por jogos de azar. Essa é uma história fictícia baseada em fatos tristes e reais. No Brasil, há cerca de 2 milhões de Ferdinandos, o que corresponde a 1% da nossa população viciada em jogos de azar, de acordo com o departamento de psiquiatria da Universidade de São Paulo.  

Caça-níqueis, bingo eletrônico, pôquer e corrida de cavalos estão entre os jogos que mais viciam, enquanto a banalização desses dados segue comprometendo a saúde mental e a qualidade de vida dos brasileiros. O jogo compulsivo consta no Código Internacional de Doenças, assim como a dependência do álcool e outras drogas, contudo, ainda se debate muito pouco políticas de combate a esse mal. Por consequência da falta de informação, temos o seguinte quadro desastroso: de um lado jogadores compulsivos sofrendo com a doença durante um período médio de dez anos sem buscar ajuda médica; e do outro, a família sendo afetada e afetando ainda mais, sem saber lidar com seus entes adoecidos.  

O autor, diretor e ator da peça, Weverson Yachuva Zared, revela como o seu interesse em escrever sobre o tema foi despertado: 

“Ao iniciar um estudo sobre finanças, passei a saber de histórias de muita gente que ganhava na loteria e em, no máximo dez anos, já havia perdido tudo. Fui pesquisar mais sobre isso e acabei descobrindo casos graves de pessoas viciadas em jogos, pessoas que vendiam os móveis da casa para ter a chance de ganhar. Essas pessoas, às vezes, ganham prêmios pequenos, mas carregam sempre consigo a certeza de estarem perto de alcançar o grande prêmio e, assim, acabam se afundando cada vez mais, acumulando dívidas e destruindo famílias. Isso me tocou. Como um vício tão sério passa tão despercebido?” 

No espetáculo, o jogador é humanizado e seu comportamento patologizado, contribuindo para a desconstrução do preconceito pautado na desinformação a respeito de doenças mentais. Weverson relata que a reação do público da peça é, na maior parte das vezes, empática com o protagonista, compreendendo que o personagem, interpretado pelo ator Gabriel Leite, representa uma pessoa que precisa de ajuda médica, muito mais do que de dinheiro.  

Não venderemos Ferdinando?! tem duração de 50 minutos. Em 2021 circulou pela Cidade de São Paulo, passando por bairros como Pirituba, Freguesia do Ó e Brasilândia, além da participação na 22ª edição do Festival Satyrianas. A dramaturgia é escrita por Weverson Yachuva Zared, fundador, diretor e ator da Cia. Filhos de Dionísio, premiado pelo ProAC LAB 2020 em “Histórico de direção teatral”.  A Cia. Filhos de Dionísio foi fundada em 2014, como companhia independente de teatro, e tem realizado atividades de maneira ininterrupta, sempre com dramaturgias autorais que buscam levar a reflexão sobre questões sociais no cotidiano do indivíduo. 

Acompanhe a agenda da Cia. Filhos de Dionísio nas redes sociais: @ciafilhosdedionisio

marramaqueadmin

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *