Entrevista: Guilherme Dantas, cantor e compositor

1. O que te motivou a lançar “Como Seria” e qual a importância desse projeto para a música nordestina?
“Como Seria” surgiu da nossa vontade de fazer com que cada vez mais pessoas possam apreciar o nosso forró, da nova geração até gerações passadas. Além de lembrar o quanto o forró é bom para ouvir e para dançar. O objetivo é fazer com que as pessoas escutem música boa em um estilo que é tão querido no Brasil inteiro.
2. Como foi o processo de escolha das músicas para os medleys? Alguma delas tem um significado especial para você?
O processo de escolha foi muito natural, nós optamos por gravar músicas que eu já escutava nos meus momentos de lazer, músicas que fizeram parte da minha vida, infância, adolescência… de vários artistas diferentes. Nesse primeiro EP colocamos um pouco de axé, o forró, além de uma música da MPB. A maioria das músicas têm um significado, porque fizeram parte de muitos momentos da minha vida e desbloqueiam memórias boas.
3. O EP traz uma fusão entre forró e axé. Como você vê a relação entre esses dois ritmos e sua importância para a cultura nordestina?
Não só o forró e o axé, mas acredito que praticamente todos os estilos musicais têm uma conexão muito boa, porque tudo fica fácil quando se coloca no forró, principalmente quando é um forró bem tocado, onde tem musicalidade… fica fácil. Eu vejo que a música só tem a ganhar com isso, porque hoje vivemos em um mundo muito plural, de pessoas que ouvem de tudo. Para mim, é um orgulho poder colocar axé e música popular brasileira dentro do forró.
4. Você mencionou que “Como Seria” é um convite para que a juventude se aproxime da música nordestina. O que acha que falta para que o forró ganhe ainda mais espaço entre os jovens?
Eu acho que tudo é questão de tempo e, também, sobre falar a língua do povo, do que a galera quer ouvir. Como esse trabalho tem muitas músicas diferenciadas, de outros estilos, de outros artistas, estamos a um passo de conectar os jovens e as pessoas de novas gerações a essa nossa batida. Já é algo testado, aprovado, agrada muito fácil, então acredito mesmo que seja questão de tempo e de acertar nas músicas certas para conquistar essa turma.
5. Como foi a experiência de gravar os clipes para as faixas do EP? Alguma história curiosa nos bastidores?
Foi uma experiência muito bacana, muito leve. Nós gravamos em um lugar maravilhoso, que deu um “rosto” para o nosso projeto, casou muito. A história boa é que foi muito rápido gravar essas músicas. Foram faixas que eu não ensaiei com a banda e nem fiz uma seleção minuciosa, apenas cheguei e cantei aquilo que eu gostava, aquilo que eu acredito… de uma maneira muito natural.
6. Você começou sua relação com a música muito cedo. Como foi esse processo de aprendizado e descoberta da sanfona?
O forró sempre esteve presente na minha vida, eu sou consumidor de forró do mais tradicional até o mais atual e eu nunca tinha tocado sanfona até os 18 anos. Toquei sempre teclado e piano. Mas, pelo fato de sempre ouvir tanto e sempre consumir, cheguei em um período no qual eu decidi que pararia um pouco com os outros instrumentos e me dedicaria à sanfona.
7. Sua formação no Souza Lima, em São Paulo, te proporcionou um contato com diversos estilos musicais. Como isso influenciou sua abordagem no forró?
Foi muito engrandecedor ter estudado lá. Eu conheci a música brasileira, outras culturas, músicos de outros países, conheci a história da música… isso tudo me ajudou a fazer uma música, acredito eu, mais abrangente. Uma música que tem um pouco de tudo. Eu devo isso ao conservatório, ao baile, já que toquei muito em algumas bandas de baile… isso tudo me deu a possibilidade de conhecer muita coisa.
8. Mesmo tendo oportunidades de estudar fora, você escolheu voltar ao Ceará para se dedicar ao forró. O que te levou a tomar essa decisão?
Foi muito simples, eu sou ‘bairrista’, eu gosto do meu nordeste, do meu lugarzinho. Gosto muito das coisas daqui. Isso não me deu vontade de ir para outro país. A vontade que tinha no meu coração era de voltar e aprender a tocar a sanfona.
9. Suas composições já foram gravadas por grandes nomes da música brasileira. Como é ver seu trabalho sendo interpretado por artistas como Wesley Safadão e Gusttavo Lima?
É um presente duplo ter as minhas canções interpretadas pelos meus parceiros de música. O primeiro presente é quando eu escuto na voz de alguém que gosto e admiro e, o segundo presente, é quando o público canta nos shows uma música que saiu da minha cabeça.
10. Você assinou contrato com a Vybbe recentemente. O que essa parceria representa para sua carreira e quais são os próximos passos?
A Vybbe quebrou uma barreira muito legal, que foi de acreditar no meu sonho, na minha vontade de crescer, de enxergar o que ninguém enxergou, literalmente. E os nossos projetos vão muito além da música, vai também para o lado da motivação, da inclusão, de dar forças a outros artistas que tenham deficiência e se colocar à disposição até nos meus shows, para pessoas que tenham deficiência possam estar próximas a mim. Fazer com que esse nosso mundo seja mais visto.
11. Seu primeiro DVD conta com audiodescrição, algo inédito no forró. Como surgiu essa ideia e qual a importância da acessibilidade na música?
Para mim, a música já é algo acessível por si própria, né? Eu acredito que a audiodescrição é essencial para que o cego entre no mundo das imagens do nosso DVD, possam também se sentir naquele lugar.
12. A deficiência visual te trouxe desafios no mundo da música? Como você supera essas barreiras?
Desafios eu tive e tenho, acho que tenho que lidar todo dia com desinformação misturado com um pouco de descrença de algumas pessoas. Mas, eu também acredito que a música é maior do que tudo isso e o que a gente faz com amor, com carinho e com vontade, transcende todos esses obstáculos.
13. O que falta para que o cenário musical seja mais inclusivo para pessoas com deficiência?
Duas coisas muito simples: os artistas que têm deficiência saberem que são capazes e, também, o mercado precisa entender de uma vez por todas que o público não está nem aí para essa condição. O povo quer ouvir música, ser feliz e se divertir.
14. Se pudesse escolher qualquer artista para uma parceria futura, quem seria e por quê?
Eu escolheria qualquer artista que quisesse gravar comigo (risos). Que tenha a mesma alegria que eu, a mesma vibe… todos são bem vindos. Independente de estilo, para mim é uma alegria alguém ter uma música que queira compartilhar comigo.
15. Como você descreveria Guilherme Dantas para alguém que nunca ouviu sua música?
Guilherme Dantas é um cantor e sanfoneiro muito animado e feliz, que canta um bocado de música que faz bem aos ouvidos e ao coração.
16. Para encerrar, qual mensagem você gostaria de deixar para os fãs e para quem está conhecendo seu trabalho agora?
A mensagem que eu deixo é que olhem para mim e nunca se esqueçam que tudo o que você quer, você pode conseguir, basta da sua força de vontade. Nunca deixe que alguém duvide da sua capacidade, que ninguém desacredite do seu sonho, da sua vontade de vencer, seja onde for. Eu sei que é difícil, mas não é impossível. Se eu consegui, qualquer pessoa, seja na música ou em qualquer outro trabalho, pode conseguir também.