Entrevista: Victor Tadashi, cantor e compositor 

Entrevista: Victor Tadashi, cantor e compositor 

1. Victor, como foi o processo de criação do seu primeiro EP? O que inspirou as letras e o conceito por trás de “Senhor do Tempo”?

A ideia de gravar meu primeiro EP começou em 2021, após eu ter recebido de presente do produtor Tony Oliveira a produção da faixa “Noves Fora” (composição da minha mãe), por ter sido finalista de seu festival LoungeFest. Houve uma química tão grande que decidimos fazer um EP juntos. Acabamos dedicando um ano à minha evolução como compositor, e ficamos lapidando as músicas para depois escolher quais entrariam no projeto. As letras abordam as diferentes maneiras como sentimos o amor, sendo um sentimento que evolui, amadurece ou enfraquece ao longo do tempo. Algumas são baseadas em experiências pessoais, outras foram inspiradas por histórias vividas por outras pessoas. O conceito do EP veio a partir da faixa-título, “Senhor do Tempo”, que foi uma das últimas que escrevi antes de gravar. Eu estava angustiado com o hiato que havia dado em minha carreira, me sentindo pressionado para terminar logo as canções e poder dar início às gravações. Acabei transformando em música esse sentimento que permeou todo o processo de composição das faixas do projeto, e, no final da canção, cheguei a uma conclusão que me tranquilizou: não adianta querer alterar o ritmo do tempo… querer que as coisas aconteçam mais rápido ou mais devagar. É importante acreditar no processo, porque tudo acontecerá exatamente no momento em que deve acontecer.

2. A música-título fala sobre a relação humana com o tempo. Como esse tema reflete sua própria jornada artística e pessoal?

Desde que me entendo como artista, eu sou obcecado pela passagem do tempo. Quando você dedica a sua vida a correr atrás de um sonho tão incerto, parece que um cronômetro é ligado e você passa a sentir a pressão de cada minuto em que ainda não chegou aonde precisa chegar. Quando comecei minha jornada autoral, eu ainda era imaturo como compositor, e tinha poucas canções. Por isso, precisei de um tempo para elevar a quantidade e o nível das minhas composições antes de tomar a decisão tão importante de gravar meu EP em Los Angeles. Só que, quanto mais tempo eu ficava sem fazer um lançamento, mais eu me cobrava, achando que minha carreira estava estagnada. Foi nesse cenário que comecei a escrever “Senhor do Tempo” e, como esse tema me acompanhou ao longo de toda a minha carreira – mas, principalmente, nesse projeto -, ficou claro que essa deveria ser a música-título do EP.

3. Sabemos que este trabalho combina vários estilos, como Pop Rock, Soul, R&B e MPB. Como você trabalhou essas influências para criar uma sonoridade única?

Eu acabo misturando as minhas influências de uma maneira inconsciente. Sou muito fã das sacadas harmônicas presentes no Soul e na MPB; sempre começo as minhas composições no violão de aço, então muitas músicas acabam tendo uma pitada de Folk também; eu tenho me apaixonado cada vez mais pelo groove do Soul/R&B (dá para perceber isso em “Minha Luz” e “Estaca Zero”); o Pop é algo que sempre tento alcançar no meu som, porque quero que ele seja acessível; e o Rock acaba vindo de elementos como o som da bateria – que é uma das especialidades do Tony – e da guitarra, que é uma das minhas marcas como artista.

Também há uma característica pouco comum no meu trabalho com o Tony: nós nunca selecionamos referências explícitas para a produção das músicas. Cada canção é uma folha em branco, e simplesmente seguimos o que ela pede. Acaba sendo um processo muito fluido e original. 

4. Quais artistas tiveram maior impacto na sua formação musical e no desenvolvimento deste EP?

Stevie Wonder, Dave Matthews, Skank, Tiago Iorc… São tantos nomes. Artistas como John Mayer e Prince me inspiram muito, pois são grandes compositores, fazem música pop, e, ao mesmo tempo, são excelentes instrumentistas, fazendo questão de exaltar isso em seus discos e shows. Meu lado guitarrista é muito forte, então artistas que também têm essa relação com o instrumento costumam ser fonte de inspiração para mim. Na música brasileira, artistas como Djavan, Jorge Vercillo e Ed Motta estão entre minhas principais referências. Também me inspiro muito em artistas da minha geração que estão inovando, como Vitor Kley, YOÙN e Tom Misch. Estou sempre ouvindo coisas novas e buscando outras fontes de inspiração, acho isso importante para a evolução do processo criativo.

5. Você mencionou o sentimento de “corrida contra o tempo” como artista independente. Como tem sido enfrentar os desafios do cenário independente no Brasil?

Eu acredito muito em mim mesmo. Acho que não tem como ser artista no Brasil se você não possui uma fé inabalável em si mesmo, e na sua capacidade de gerar conexão com o seu público. Não sei como é em outros países, imagino que ser artista independente seja desafiador em qualquer lugar do mundo, mas sei que aqui poderia ser melhor. A cultura não é valorizada como deveria ser e, a arte autoral, muito menos. Sem contar a pressão financeira, que é enorme. Apesar disso tudo, sigo firme e forte, porque de uma coisa eu tenho certeza: eu nasci para fazer música. Não posso viver de outra forma.

6. A faixa “Senhor do Tempo” reflete uma aceitação do incontrolável. Esse sentimento influenciou outras canções do EP? Como ele se conecta ao restante do projeto?

Apesar de eu falar sobre amor nas outras canções, esse sentimento que descrevo na faixa-título me afetou enquanto eu escrevia todas elas. É como uma nota para mim mesmo, dizendo “está tudo bem, não precisa se preocupar tanto. Continue dando o seu melhor nessas canções, grave-as quando tiver que gravar, e siga fazendo seu trabalho, um dia após o outro. Tudo vai dar mais certo do que você imagina.”

7. O EP traz músicas já lançadas e uma faixa inédita. O que você considera mais especial na inclusão dessa nova faixa e por que decidiu incluí-la no projeto?

Assim que eu terminei de escrever “Senhor do Tempo”, mostrei-a para o Tony e ele se emocionou com a música. Não houve dúvida de que ela precisaria estar no projeto, mas, inicialmente, a ideia era ser uma faixa bônus, pois tanto seu tema quanto sonoridade são diferentes das demais. Com o passar dos dias, refletindo sobre o conceito do EP, percebi que eu já tinha tudo numa só canção. Ela resume um sentimento que tive ao longo de todo o processo de criação do EP, não tinha como não virar a faixa-título do projeto.

8. Você participou de eventos como o Rio Montreux Jazz Festival. Como essas experiências moldaram sua perspectiva como artista?

Receber esse convite foi uma surpresa muito positiva para mim. A busca por validação é inerente ao artista, então esse tipo de coisa me dá um gás enorme para continuar fazendo meu trabalho, pois é uma confirmação de que estou no caminho certo. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade de me desafiar para entregar uma performance cada vez melhor.

9. No dia 7 de dezembro você se apresentará no Teatro Brigitte Blair. O que o público pode esperar desse show?

Uma experiência completamente diferente de tudo que já viram de mim. Afinal, será o show de lançamento do meu primeiro EP, motivo para comemorar! Estou montando o show com o maior afinco para surpreender as pessoas e mostrar o que eu e a minha banda somos capazes de fazer ao vivo.

10. Que mensagem você espera transmitir aos ouvintes com “Senhor do Tempo” e sua visão sobre o tempo e a vida?

É normal ter vontade de controlar o tempo, todos passamos por situações em que gostaríamos de acelerar, desacelerar, parar ou, até, voltar no tempo. Isso é da natureza humana. No entanto, esse sentimento não pode começar a te gerar ansiedade, te tirar o sono e te consumir por dentro. Quando isso aconteceu comigo, foi quando me obriguei a refletir e cheguei à conclusão de que toda essa preocupação não serve de nada. O ritmo do tempo é sempre o mesmo, e cabe a nós apenas vivermos as nossas vidas dando o nosso melhor. O resto está fora de nosso controle. Precisamos acreditar que, se fizermos a nossa parte, tudo acontecerá no momento certo.

11. Para você, qual é o equilíbrio ideal entre fazer músicas que sejam acessíveis, mas que também surpreendam os ouvintes mais exigentes?

Acho difícil explicar isso em palavras, é algo que você vai sentindo com cada música. Às vezes, basta um acorde diferente na parte C da canção para gerar essa intriga nos ouvidos atentos. Outras vezes, é um riff de guitarra no refrão, uma progressão harmônica interessante, ou um conjunto de diversos elementos do arranjo.

Para mim, os principais fatores que tornam uma música mais comercial e acessível são: uma estrutura que faz sentido e não é cansativa, melodias que ficam na cabeça, e uma letra que gera conexão com o ouvinte. 

12. Como foi trabalhar com Tony Oliveira na produção? Houve algum momento no estúdio que marcou especialmente esse processo de gravação?

Trabalhar com o Tony me fez entender a importância da química entre artista e produtor. Nunca tinha trabalhado com alguém que se conectou tanto com as minhas músicas, acreditou tanto em mim e abraçou tanto a minha visão quanto ele. Antes de começarmos as gravações, o Tony me ajudou com mentorias de composição, então acho que isso contribuiu para aumentar a conexão dele com as canções.

No estúdio, nossas sessões fluíam muito bem. Eu sempre fui aberto às ideias dele, e vice-versa. Como eu já tinha uma noção de arranjo e produção musical, contribuí com diversos elementos dos arranjos.

Acho que o momento que mais me marcou não foi no estúdio, mas sim, no carro. Como eu estava morando no estúdio do Tony, em Los Angeles, eu frequentemente o acompanhava em algumas tarefas, como ir ao supermercado. Lembro de uma noite em que tínhamos acabado de gravar “Minha Luz”, e ouvimos a pré-mix no carro, indo ao mercado, num volume absurdamente alto. Não sei bem explicar o porquê, mas eu quase chorei de emoção. Estava muito feliz com todo aquele processo, e o resultado que estávamos alcançando nas músicas.

13. Para finalizar, quais são seus planos futuros na música? Já podemos esperar novas composições ou colaborações para o próximo ano?

Estou com várias músicas prontas para serem gravadas, e sigo escrevendo novas! Também tenho trabalhado com a meta de fazer mais colaborações, é muito saudável abraçar outras perspectivas na hora de fazer música. 

No momento, estou focado na divulgação do EP e nos preparativos para o show de lançamento, mas meu objetivo é começar a gravar o próximo projeto ainda esse ano e começar 2025 com tudo. Estou muito ansioso para o que está por vir, mas no bom sentido!! Não posso contrariar a mensagem de “Senhor do Tempo” rsrsrs.

marramaqueadmin