Entrevista: Thiago Malakai, cantor e compositor

1. O que o inspirou a nomear o álbum de “Equilíbrio”? Como essa busca por estabilidade se reflete em sua vida pessoal e artística?

O nome equilíbrio, ele vem junto com a primeira faixa, de quando eu percebi que ali existiria um álbum. E o nome equilíbrio é justamente porque me falta equilíbrio. Eu coloco o nome no disco de equilíbrio porque eu entendo que eu estou nessa busca por equilíbrio. Acho que todo ser humano busca, de uma forma, ter equilíbrio, né? E eu acho que é por essa busca mesmo de equilibrar as coisas.

2. Você mencionou que o álbum é uma reflexão sobre suas raízes pretas. Como foi o processo de reconectar-se com essa identidade durante a criação do disco?

Então, na verdade, eu não acho que é uma parada de se reconectar, sabe? Porque eu acho que isso é muito latente na minha vida, assim. Eu sempre estudei música preta e eu, como uma pessoa preta, eu nunca fugi das minhas origens, assim, sabe? Isso eu digo, depois de uma certa consciência. Já faz alguns anos que a gente tá nessa reconexão, assim. Então, a gente tá conectado, na verdade. Eu tive que, na verdade, olhar pra dentro de mim mesmo e sacar cada referência, cada assunto. E ver o que, de fato, eu queria expor, né? Porque a gente sempre escolhe trazer algo mais palatável, sabe?

3. O álbum traz um mix de estilos – hip hop, jazz, trap, reggae, entre outros. Como foi unir todas essas influências e mantê-las em harmonia?

Então, esses estilos todos que estão no álbum são coisas que eu realmente ouço, sabe? Eu cresci ouvindo reggae, eu cresci ouvindo jazz, essas são as músicas que me fizeram amar a música, sabe? Então acho que isso acaba, de alguma certa forma, se tornando muito acessível dentro do meu som, porque isso sou eu.

4. Muitos artistas colaboraram com você em “Equilíbrio”. Qual a importância dessas parcerias, como as com Tasha & Trace e Kyan, na construção do álbum?

Na verdade, essas pessoas que estão fazendo parte desse meu primeiro álbum são pessoas que a gente se apoia há muitos anos já, sabe? Tasha,Tracie, Gregory Bitrinho, DJ comum, agora de alguns anos para cá, o Kyan. São pessoas que a gente já se apoia, então essa parceria são coisas de vida mesmo, sabe? A gente sempre estava ali, a gente sempre estava falando, então é algo que já estava muito latente

5. A capa do álbum traz o símbolo “ankh”, que representa vida e transformação. Como você enxerga a relação entre esses conceitos e a mensagem que quer passar com o álbum?

Não só o símbolo da vida e transformação e também um símbolo de vida abundante, mas também um símbolo egípcio, um símbolo africano também. Então essa relação é muito louca, porque quando eu fui ver as pessoas que me cercam, ela já tem essa ankh como vida também. Então tipo assim, a Tracie tem tatuada, a Tasha tem, a Índia também tem, aí quando você vai vendo as pessoas que estão ao seu redor, elas também tem esse símbolo, e aí eu brisei que realmente isso nos une, saca?

6. A faixa “Equilíbrio” é inspirada em um amigo que faleceu. Como essa perda influenciou o desenvolvimento do disco e de que forma a música o ajuda a lidar com isso?

Quando tudo isso aconteceu, eu e esse meu amigo, a gente tava realmente falando de música, sabe? Ele tava muito feliz porque o processo criativo dele tinha destravado, tava muito feliz por onde ele tava, a gente tava combinando de fazer coisa junto, de fazer música junto. E com a perda dele, o que ficou mais limpo na minha mente, mais fixo na minha mente, foi o fato dele sempre falar o quanto era importante a gente fazer aquilo que a gente gosta, o quanto é importante a gente deixar nossas origens de fato falarem, saca? E aí quando foi equilíbrio, foi realmente o gancho pra poder fazer o disco inteiro.

7. Em “Tudo Preto”, você aborda a vivência de ser uma pessoa preta no dia a dia. Pode nos contar mais sobre o processo criativo dessa faixa e a colaboração com Gregory?

Então pra mim o Gregory é uns dos melhores Mc do Brasil, as pessoas ainda vão entender isso, tanto da nova geração, porque ele também faz parte disso, tanto da galera mais old school que ele também faz parte disso, ele está bem nesse entorno. Tudo preto a gente fala de uma vivência real, de ser preto mesmo, é que não importa o que você faça, você vai ser sempre lido como uma pessoa preta, não importa o quanto você tenha de grana, o quanto você tem de statu social, o quanto você possa frequentar restaurantes, lugares e comprar coisas, você sempre vai ser lido como uma pessoa preta, e isso é o jeito que o mundo te observa, porque você é isso, e esse mundo é um mundo que nós enxerga de uma outra maneira, então como o próprio KL Jay diz, a gente está sempre em território inimigo 

8. “Infalível” reflete a confiança de que é possível alcançar seus sonhos. O que torna essa faixa especial para você?

Infalível é muito especial, porque é a primeira faixa da minha parceria com um grande produtor, Caio Santos. A gente estava no estúdio, ele mostrou a base para mim, e realmente eu pensei nisso. Eu estava num momento bem, bem introspectivo e pensando o que eu poderia fazer para, de fato, colocar esse trabalho na rua. Nem o início é fácil. Eu lembro que eu comecei a pensar na temática e entender o quanto que é isso. A gente junta aquilo que a gente tem e faz acontecer, tá ligado? A gente junta várias formas para poder chegar no nosso sonho, sabe?

9. Em “Yin Yang”, você celebra sua amizade com Tasha e Tracie. Que papel essa conexão de longa data teve no desenvolvimento de sua carreira?

Então, eu acho que, na verdade, em Yin Yang a gente não tá só celebrando nossa amizade, não. A gente tá celebrando o quanto a gente saiu da merda, enquanto a gente saiu do fundo do poço, saca? Porque quando você tá, algumas coisas que são insalubres parecem normais, e aí quando a gente sai disso e olha pra trás e fala, caralho, pode crê

10. Falando de “Zion Drill”, que trata da busca pelos sonhos, como a filosofia rastafári e o conceito de “Zion” influenciam sua visão artística e pessoal?

Eu sempre ouvi muito Zion, assim, né? Porque lembro da Larry Hill, que tem uma música chamada Zion, se eu não me engano. A filosofia Rastafari fala sobre isso como uma terra prometida, né? E o que eu tô falando nessa música é justamente isso, o quanto a gente tá próximo a fazer e chegar perto daquilo que é nossos objetivos, daquilo que a gente tem como promessa, saca? E é muito louco também porque é o nome do produtor dessa faixa, que é o Zion, meu sobrinho. Que é um produtor novo da cena de Londres, né? Ele mora em Londres. Nasceu lá, mas os pais são brasileiros. Mãe dançarina e pai músico. Eu acho que ele traz isso muito nos beats dele, assim, saca? A gente já tem mais coisa pra lançar já.

11. O álbum foi iniciado em 2020. Como o processo de produção e as colaborações evoluíram ao longo desses anos?

Eu sou músico há muitos anos, né? Eu sempre me pegava pensando nisso. Quando foi 2021, eu já tava nessa conversa com um amigo meu há um tempo e gravando uma faixa que eu mandei pra ele, acabou nem saindo. Mas eu tô nisso há um tempo. E aí ele também me incentivou a estar fazendo as minhas paradas, tá ligado? E aí eu comecei a produzir, comecei a falar, comecei a fazer. Essas coisas foram pegando forma, sabe? O timbre que eu queria, aí eu fui montando meu estúdio ao mesmo tempo também pra não ficar na dependência de ninguém. E aí no ano de 2023, eu encontro o San, que é um grande amigo meu, parceiro produtor nosso aqui também. E eu mostro uma faixa pra ele, que foi a primeira faixa que o Caio me mandou. E aí ele falou, po que foda essa! Aí eu falei, mano, mas tem mais algumas aqui. Ele falou, não, cara, você tem que botar isso num álbum. E aí eu lembro que eu fui pro Rio de Janeiro, meio que pique pegar uma praia, assim, o final de ano, e dar uma descansada, porque eu já voltaria pensando nisso, sabe?

12. Você teve uma longa trajetória no reggae antes de iniciar a carreira solo. Como essa experiência influenciou o “Equilíbrio”?

Eu acho que todas as experiências nos trouxeram até aqui, tudo me trouxe até aqui. O reggae é a minha vida, a minha mensagem. A mensagem do reggae é uma mensagem muito de luta, de batalha, mas ao mesmo tempo também de alívio. Então, acho que tudo que eu faço, de alguma maneira, tem reggae envolvido.

13. Agora que o álbum foi lançado, quais são seus planos para divulgá-lo e o que espera que o público absorva da sua mensagem?

 Agora que tá lançado, tá no mundão, né? Agora já tá ensaiando o show, já estamos formando os arranjos pro show, né? Aquilo que vai ser o show, vai ser o espetáculo. A gente tá aí participando já da chamada de alguns festivais, tamo colocando a música em alguns veículos de imprensa, tamo divulgando e é isso, é o corre do artista independente, saca? Você vai fazendo planos e vai se adaptando e é isso. O foco você tem, o plano vai sendo mutável.