Entrevista: Sonia Rodrigues, escritora
1. O que a inspirou a escrever “Crimes Inevitáveis”? Como a ideia para a trama se desenvolveu?
Eu morei quatro anos em Niterói e na ocasião fiz uma pesquisa no Instituto de Física. Alguns personagens faziam parte de outros livros meus – “A rainha que atravessou o tempo” e “Os amores do meu pai” – pensei em contar o passado de uns e o futuro de outros, numa trama policial.
2. Como a influência de seu pai, Nelson Rodrigues, se reflete na sua escrita e na construção dos personagens de “Crimes Inevitáveis”?
A maior influência é a aceitação dos personagens como são, sem adotar lados. Ninguém é perfeito quando comete crimes. Nem os que combatem crimes ou tentam ajudar os desvalidos. Porque as pessoas não são perfeitas mesmo e é nesse mundo que a gente vive.
3. O livro aborda temas como roubo de pesquisa científica, tráfico de drogas e espionagem. Como você escolheu esses elementos e o que eles representam na trama?
Roubo de pesquisa científica porque duas protagonistas estão na pós-graduação da UFF; espionagem corporativa porque a outra protagonista trabalha num escritório de patentes.
4. Você menciona que os personagens do livro são pessoas que não são devidamente cuidadas pela sociedade. Pode comentar mais sobre como esses personagens são desenvolvidos e qual a importância deles na narrativa?
Alguns personagens são menores em situação de rua, outros são dependentes químicos. A desigualdade social no Brasil faz com que as pessoas que caem na vida errada não consigam ter segunda chance. Isso é desalentador.
5. Niterói é um cenário quase integral no seu romance. Como a escolha desse local influencia a história e a dinâmica dos personagens?
Na “zona sul” e no centro de Niterói os personagens transitam com rapidez, mais do que no Rio ou em São Paulo. Coloquei a trama em Niterói por conhecer um pouco a cidade.
6. Você aborda a ideia de que “a maioria dos crimes é inevitável”. Como essa perspectiva é refletida no enredo e nas motivações dos personagens?
No Brasil, quando as pessoas se desviam da Lei, em geral, consideram que essa é a melhor saída ou a única. Ou consideram muito difícil permanecer no caminho reto.
7. Em “Crimes Inevitáveis”, os crimes e as questões legais são centrais para a trama. Como você equilibra a complexidade desses temas com a narrativa e o desenvolvimento dos personagens?
Penso que o crime é a última fronteira entre a solução imediata e o caminho árido, sem guarida. O pior é que no Brasil se alguém vai pela solução imediata, só consegue escapar se tiver “costas quentes”.
8. O livro explora a ideia de que o amor pode ser mais forte do que os crimes. Como essa temática é desenvolvida e como ela afeta o desfecho da história?
Você disse bem: o amor “pode” ser maior. Em poucos casos. No livro, existe o amor que leva para o crime e o amor que caça os criminosos.
9. Como foi o processo de escrita para este romance em comparação com seus outros trabalhos, especialmente considerando que você já publicou quatro romances policiais anteriormente?
“Crimes inevitáveis” era um roteiro de longa. Transformei em romance, como já tinha feito com outro livro, “Freud em Madureira”. É um processo criativo diferente, mas muito instigante.
10. Pode nos contar um pouco mais sobre a decisão de lançar “Crimes Inevitáveis” pela Editora Batel e o que você espera alcançar com este novo livro?
Estou lançando pela Batel porque gosto muito do trabalho editorial do Carlos Barbosa.
11. Além de escrever romances, você também tem uma vasta experiência como roteirista e doutora em literatura. Como essas experiências influenciam sua abordagem na escrita de romances policiais?
O doutorado me deu experiência de pesquisa e a escrita de roteiro fortalece minha disciplina. Mas eu sou curiosa e disciplinada de nascença rsrsrs, então essas experiências influenciaram o que já sou.
12. O lançamento do livro será realizado na Livraria da Travessa do Leblon. O que você espera do evento e como ele se encaixa na sua trajetória como autora?
Espero que meus amigos e leitores apareçam porque escritor precisa dessas presenças. Eu, pelo menos, preciso.
13. Há algo que você gostaria que os leitores soubessem sobre “Crimes Inevitáveis” antes de lerem o livro?
Gostaria que soubessem que vale a pena ler sobre personagens parecidos com a gente travando a batalha entre o amor e o crime. A ficção sempre ajuda o nosso dia a dia, você não acha?