Entrevista: Dayana Souza, escritora e pilota
1. Dayana, o que te inspirou a escrever “Voa” e compartilhar suas experiências pessoais de voo com os leitores?
As experiências que eu vivi como piloto militar e os aprendizados que a aviação me proporcionou, tudo isso era muito valioso para guardar só pra mim. Eu queria compartilhar com o maior número de pessoas. Então, tive a ideia de transformar em livro.
2. Como foi seu primeiro voo solo aos 20 anos e o que você aprendeu com essa experiência?
Foi um momento mágico e único. Eu ainda não sabia dirigir um carro e já estava pilotando um avião sozinha. Foi algo surreal para mim. Eu aprendi que quando acreditamos em nós mesmos, quando nos dedicamos de corpo e alma a algo, alcançamos os céus.
3. Você foi a primeira mulher a pilotar sozinha um helicóptero militar na Força Aérea Brasileira. Como foi quebrar essa barreira?
Me senti muito honrada em representar as mulheres nessa conquista. Foi um longo caminho percorrido para chegar ali e me senti muito grata por esse feito.
4. No livro, você fala sobre descobrir nossas prisões antes de alcançar a liberdade. Quais foram as suas maiores prisões e como você as superou?
Minha maior prisão foi me perceber escrava daquilo que conquistei. Quando eu entendi que meu conceito de sucesso não era nada daquilo, precisei criar coragem para desapegar de tudo e ir buscar aquilo que realmente me fazia me sentir realizada.
5. “Voa” é descrito como um manual de instruções para a vida. Pode nos dar um exemplo de uma lição prática que os leitores podem aplicar em suas vidas?
Uma lição prática que ensino no livro é liberar o excesso de peso que impede seu voo. Avião pesado não decola e muitas vezes a pessoa ainda está no solo porque está carregando peso demais. Esse excesso de peso são as mágoas que ela carrega, são as pessoas que ela não perdoa. Eu digo que perdoar é desembarcar aquela pessoa que te feriu do seu avião. Enquanto você não a perdoa, ela está fazendo peso no seu avião e por isso você não decola.
6. Como suas experiências na aviação moldaram sua visão sobre a coragem e a autodeterminação?
A aviação me tornou uma pessoa mais confiante e corajosa. O piloto sabe o que fazer em caso de pane, ele se preparou para o que pode dar errado, então ele confia no que aprendeu. O preparo que antecede o voo proporciona a coragem necessária para voar. Não há espaço para medo. Só voa quem não tem medo de cair.
7. Você menciona que assumir a posição de piloto da própria vida envolve assumir a responsabilidade por suas escolhas. Como podemos começar a fazer isso em nosso dia a dia?
Assumir a posição de piloto da própria vida é parar de procurar culpados para a situação que você vive. É deixar de ser vítima das circunstâncias e entender que você sempre vai ter uma escolha: o que você vai fazer daqui para frente. Não importa o que tenha acontecido com você, mas sim como você vai reagir ao que aconteceu. Só eu posso sair da condição adversa em que me encontro, mas, para isso, eu preciso assumir o comando do avião e dizer: “Tá comigo!”.
8. Em sua opinião, qual é o maior obstáculo que impede as pessoas de decolarem em direção aos seus sonhos?
O maior obstáculo são as travas dos comandos. O avião tem seus comandos travados quando está no solo. Antes do voo, o piloto precisa remover essas travas para que consiga comandar o avião. Essas travas são as nossas crenças, a forma como enxergamos a vida, aquilo que acreditamos ser possível ou não. Adquirimos essas travas ao longo da vida e precisamos identificá-las para então removê-las.
9. O que você diria para alguém que sente medo de tomar as rédeas da própria vida?
Eu diria que o seu maior medo deveria ser viver uma vida abaixo de suas potencialidades. Você nasceu com asas, só precisa de instruções de voo para começar a voar. Não se contente em rastejar, quando você pode voar.
10. Como foi a transição de piloto militar para autora e instrutora de voo pessoal?
Foi um longo processo de descoberta. Mergulhei fundo no autoconhecimento para entender qual o caminho eu precisava seguir. Quando eu entendi que poderia ajudar outras pessoas que estavam passando pelo que eu passei, tudo fez sentido. Hoje me sinto feliz em compartilhar meus aprendizados.
11. Como você equilibra sua carreira de escritora com seu trabalho como treinadora comportamental e palestrante?
Estou sempre escrevendo quando surge um tempinho e ando sempre com um caderninho e uma caneta na bolsa. Também sempre tenho um bom livro comigo que serve de inspiração para novas ideias.
12. Qual foi o maior desafio que você enfrentou ao escrever “Voa”?
O maior desafio foi vencer o pensamento de que talvez as pessoas não estivessem tão interessadas nesse tema, mas felizmente os feedbacks estão sendo muito positivos.
13. O que você espera que os leitores levem com eles após lerem “Voa”?
Eu espero que eles encontrem a coragem para buscar seu próprio voo.
14. Você acredita que todos têm a capacidade de voar alto em suas vidas? Por quê?
Sim, quando assumimos o lugar de piloto da nossa própria vida, somos capazes de voar alto, seja lá qual significado isso tenha para nós. O voo é algo particular e único de cada indivíduo, mas principalmente é viver uma vida com significado e propósito.
15. Pode compartilhar conosco uma história inspiradora de alguém que foi impactado por seu livro?
Sim. Tenho uma amiga que leu o livro num momento em que estava passando por um processo de muitas mudanças, inclusive indo morar em outro país com a família e ela gravou um vídeo emocionada dizendo que o livro estava descrevendo muitos sentimentos que ela estava vivenciando naquele período.
16. Como você vê o papel das mulheres na aviação hoje em dia comparado ao início de sua carreira?
No início da minha carreira ainda não existiam mulheres aviadoras militares, então abrimos o caminho para que hoje mais mulheres pudessem escolher essa profissão. No meio civil já existiam mulheres aviadoras, ainda que poucas. Hoje temos mais mulheres buscando essa profissão que antes, tanto no meio civil quanto militar.
17. Quais são seus próximos projetos literários ou profissionais?
Estou escrevendo um livro sobre feminilidade, sobre o papel da mulher na sociedade.
18. Como você acha que sua formação militar influenciou sua escrita e abordagem à vida?
O militarismo me deu muita disciplina e senso de responsabilidade. Me ensinou a começar algo e ir até o fim. Aprendi a amar desafios e fazer coisas novas. Também aprendi a dar valor a coisas simples, como uma cama quentinha, um banho, uma comida na mesa, família reunida.
19. Se pudesse dar um conselho a alguém que está começando agora na aviação, qual seria?
O caminho pode parecer longo e algumas vezes inatingível, mas mantenha o foco no objetivo final e não deixe as dificuldades te paralisarem. Quando estiver cansado, descanse, reabasteça e continue seguindo sempre em frente. De fato não é um caminho fácil, mas certamente vai valer a pena cada sacrifício.
20. Há alguma mensagem especial que gostaria de deixar para os leitores de “Voa”?
“MACTE ANIMO! GENEROSE PUER, SIC ITUR AD ASTRA” (“Coragem jovem! É assim que se alcança os céus.”)