Confirmada na FLIS, em Saquarema, escritora Eliana Alves Cruz defende regulação de IA para a literatura

Autora de “Meridiana”, romance sobre ascensão social de uma família negra, participa da Feira Literária Internacional de Saquarema nesta quarta (12)
📸 Crédito: Tomaz Silva / Agência Brasil
Um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea, Eliana Alves Cruz confirma presença na Feira Literária Internacional de Saquarema (FLIS), que acontece até o dia 20 de novembro, na Região dos Lagos (RJ). A autora participa nesta quarta-feira (12) de um bate-papo aberto ao público, ao lado de outros importantes nomes da cultura, como Conceição Evaristo, José Eduardo Agualusa e MV Bill, em uma programação que ainda inclui shows de Lenine e Tiago Iorc.
Vencedora do Prêmio Jabuti 2022, na categoria Contos, com A Vestida, Eliana é também roteirista indicada ao International Emmy Awards 2024 pela minissérie Anderson Spider Silva e coautora de Milena e o Enigma do Pássaro Antigo, parceria com Maurício de Sousa lançada neste ano. Seu mais recente livro, “Meridiana”, acompanha a trajetória de uma família negra ao longo de três gerações, abordando conquistas, dilemas e as sutilezas da ascensão social no Brasil.
💬 IA e literatura: “Máquina nenhuma copia o propósito humano de escrever”
Em entrevista concedida durante o evento, Eliana reforça a necessidade de regulação no uso da Inteligência Artificial no campo literário e cultural:
“Acho que em breve precisaremos de alguma regulação, selos indicando o que foi e o que não foi feito com I.A. É curioso que o mercado não considere que há quem escreva porque gosta, porque ama e tem prazer com isso, sem sentir necessidade de delegar tal atividade para uma ferramenta fora de si. Como podemos reagir? Resgatando em nós os propósitos que nos compelem a escrever. Isso máquina nenhuma copia.”
Segundo a autora, a IA já tem impacto real na criação artística, trazendo avanços e dilemas éticos que precisam ser debatidos de forma responsável.
🌱 Literatura como consciência ambiental
Com a COP30 acontecendo no Brasil, Eliana também destacou o papel transformador da literatura frente às crises ambientais:
“A maior contribuição da literatura ao planeta é servir como uma espécie de academia para treino das consciências. Ler é um exercício poderoso de pensamento, de letramento sobre temas variados, e isso nos leva a questionar as insanidades que nos cercam.”
Ela cita autores como Ailton Krenak, Daniel Munduruku, David Kopenawa e Sérgio Abranches como exemplos de vozes literárias que têm refletido sobre o colapso ambiental e a relação do ser humano com a natureza.
👧🏽 Da literatura infantil ao romance adulto
Autora de livros tanto para o público infantil quanto adulto, Eliana ressalta que a principal diferença está na forma de comunicar — e não no conteúdo:
“O conteúdo pode até ser o mesmo, mas para a criança é preciso respeitá-la em suas fases, sua forma de apreensão do mundo e, principalmente, preservar essa fase irrecuperável da vida.”
📍 Debate sobre mobilidade social em Saquarema
Ao lançar Meridiana, Eliana leva para a FLIS uma reflexão sobre mobilidade social e os desafios da ascensão em um país ainda desigual. Para ela, discutir o tema em uma cidade de 90 mil habitantes, como Saquarema, é essencial:
“É legítimo pensar em mudar para um grande centro, mas essa mudança será menos traumática se vier acompanhada de consciência das questões que afligem a nossa sociedade. Existem abismos históricos, culturais e sociais que não se superam apenas com a vontade de crescer.”
📚 Serviço – FLIS 2025
Evento: Feira Literária Internacional de Saquarema (FLIS)
Data: Quarta-feira, 12 de novembro
Local: Saquarema, RJ
Participação: Eliana Alves Cruz – autora de Meridiana
