de Walter Rodney
Como a Europa subdesenvolveu a África, do historiador e líder teórico do pan-africanismo Walter Rodney, detalha o impacto da escravidão e do colonialismo na história da África. Escrita em 1972 e publicada agora pela primeira vez em língua portuguesa, a obra, considerada uma obra-prima da economia política, argumenta que o inabalável “subdesenvolvimento” africano não é um fenômeno natural, e sim um produto da exploração imperial do continente, prática que continua até hoje. Um dos principais argumentos ao longo do livro é o de que a África desenvolveu a Europa na mesma proporção em que a Europa deliberadamente subdesenvolveu o continente africano.
Rodney detalha as formas de exploração econômica de diversos povos e regiões, primeiro como fornecedores de mão de obra escravizada e, depois, como mão de obra assalariada extremamente subvalorizada. Além disso, aborda como se deu a intervenção direta do modo de produção capitalista nas práticas econômicas típicas de cada povo e região, na divisão sexual do trabalho tradicional dos povos africanos e na educação formal durante o colonialismo.
“Se as contribuições intelectuais e militantes de Rodney desvelavam o que havia de mais necessário naquele momento histórico específico – ele foi assassinado porque acreditava na possibilidade de uma transformação política radical, inclusive na Guiana, sua terra natal –, as ideias dele são ainda mais valiosas hoje, momento em que o capitalismo impôs tão vigorosamente sua permanência e em que as forças opositoras existentes e organizadas têm sido praticamente eliminadas. As pessoas que, entre nós, recusam-se a admitir que o capitalismo global representa o melhor futuro para o planeta e que a África e o anteriormente denominado Terceiro Mundo estão destinados a permanecer para sempre assentados na pobreza do “subdesenvolvimento” estão diante desta questão crucial: como encorajar críticas radicais ao capitalismo – tão essenciais às lutas contra o racismo – e, ao mesmo tempo, avançar no reconhecimento de que não podemos vislumbrar o seu desmantelamento enquanto as estruturas racistas se mantiverem intactas? Nesse sentido, cabe a nós seguir, desenvolver e aprofundar o legado de Walter Rodney”, escreve Angela Davis na apresentação da obra.
Trecho
“Às vezes, afirma-se erroneamente que os europeus escravizaram os africanos por motivos racistas. Proprietários de terras e minas europeus escravizaram pessoas africanas por motivos econômicos, de modo que o trabalho delas pudesse ser explorado. Na verdade, teria sido impossível desbravar o Novo Mundo e usá-lo como constante produtor de riqueza não fosse a mão de obra africana. Não havia alternativa: a população das Américas (indígena) havia sido praticamente eliminada, e a população da Europa era muito pequena na época para povoamentos no exterior. Então, tendo se tornado completamente dependentes do trabalho africano dentro e fora da Europa, os europeus consideraram necessário racionalizar essa exploração também em termos racistas. A opressão decorre logicamente da exploração, a fim de garanti-la. A opressão dos povos africanos a partir de bases integralmente raciais acompanhou e fortaleceu a opressão por razões econômicas, dela se tornando indistinguível”.
Ficha técnica
Título: Como a Europa subdesenvolveu a África
Título original: How Europe Underdeveloped Africa
Autor: Walter Rodney
Tradução: Heci Regina Candiani
Apresentação: Angela Davis
Orelha: Matheus Gato
Capa: Antonio Kehl
Páginas: 352
Preço: R$ 99,00
Formato: 16 x 23 cm
ISBN: 978-65-5717-190-5
Editora: Boitempo
Encadernação: Brochura
Ano de lançamento: 2022
Disponível em: 15 de novembro de 2022
Sobre o autor
Walter Rodney (1942-1980) nasceu na Guiana, formou-se em história na Jamaica e realizou seus estudos de pós-graduação na Inglaterra. Foi professor na Tanzânia (onde apoiou o governo socialista de Julius Nyerere), além de ter colaborado com docentes de universidades nos Estados Unidos. Como ativista, fundou na Guiana a Aliança dos Trabalhadores, de oposição ao governo. Foi assassinado em sua terra natal em 1980, por causa de sua militância política.
Sobre a Boitempo
A Boitempo foi fundada em 1995, por Ivana Jinkings. Com mais de 25 anos de existência, consolidou-se produzindo livros de qualidade, com opções editoriais claras. Obras de alguns dos mais influentes pensadores nacionais e internacionais compõem um catálogo que conta com nomes como Karl Marx, Friedrich Engels, David Harvey, Angela Davis, Maria Rita Kehl, Ricardo Antunes, Leonardo Padura, György Lukács, Antonio Gramsci, Slavoj Žižek, entre muitos outros. O nome da editora – inspirado em um poema de Carlos Drummond de Andrade – é uma homenagem ao maior poeta brasileiro e também ao criador da primeira Boitempo, o dirigente comunista Raimundo Jinkings, pai de Ivana.