Entrevista: Tatiana Dauster, cantora e compositora

1. Origami é um álbum que se dobra em múltiplas referências e ritmos. Como nasceu o conceito por trás do disco e o que esse nome representa para você?
Origami é divertido, poético vc cria diversas formas. É nome de uma das músicas do disco. E eu achei uma boa analogia pois o disco reflete exatamente isso. Nós bebemos de diversos ritmos brasileiros fizemos os arranjos coletivamente e sempre de forma extrovertida e divertida!
2. A faixa O Amor é Fatal, feita em parceria com Jorge Mautner, é apresentada como uma das mais simbólicas do trabalho. Como foi o processo criativo ao lado dele?
Eu conheci o Jorge Mautner numa festança, convidei ele para fazer uma participação no Festival Verão no Castelinho e ele topou no ato! Desde então seguimos nos falando. Na pandemia liguei para ele pedindo um poema para eu musicar para o novo trabalho ele pegou o poema intitulado “O Amor é Fatal” e foi recitando ao telefone e eu anotando tudo. Ao final da ligação veio a melodia de cabeça. Não tirei nenhuma palavra do que ele me passou. Fiz questão.
3. O clipe da faixa, dirigido por Roberto Berliner e Ícaro Gabriel Cunha, será exibido de forma exclusiva no show. O que pode nos antecipar sobre esse encontro entre imagem e som?
O Roberto escreveu um roteiro enxuto e desde o início a ideia era fazer tudo em plano sequência. A música ganhou velocidade, e eu precisei percorrer tudo em cerca de um minuto e meio. Saí do jardim, passei pelo salão de espelhos, pelo corredor, entrei no quarto… Em cada aposento, um homem. Em cada etapa, eu tirava um vestido, vestia uma capa, dançava, fumava, descia uma escadaria, corria pela rua — até chegar no bar, tomar um gole de cerveja e encerrar o plano. Era como encarnar o próprio amor. Ou o desejo. Um sonho? Talvez. Ou simplesmente um caos bonito acontecendo em tempo real.
4. Você mencionou que a apresentação terá um clima sensorial, performático, com distribuição do “veneno gostoso do amor”. Qual a proposta cênica e sensorial que espera provocar no público?
Aguçar os sentidos: o paladar, o olfato, os neurônios, a libido, a imaginação! Desde a chegada do público ao espaço onde vai acontecer o evento até o fim do show. Envolver o público e a nós mesmos! Fazer com que a experiência seja o mais potente possível!
5. O disco foi gravado com a mesma formação que sobe ao palco na Audio Rebel. Qual a importância dessa unidade criativa e afetiva na construção do som e da performance?
A gente já tem muita liga, muito afeto e muita estrada juntos. Fazer esse show com a formação original do disco é como dar vida ao que já está registrado — e mais do que isso, é a chance de ousar, experimentar e nos divertir muito!
6. Suas músicas passeiam por gêneros como samba, jazz, rock, marchinha e até reggae. Como você lida com essa liberdade estética na hora de compor?
A coisa sai como pede a canção, não me preocupo em fazer um ritmo da moda ou não..vai naturalmente.
7. O álbum tem parcerias com nomes como Magali, Jam da Silva, Wagner Pá e Jorge Mautner. Como você escolhe com quem compor? O que torna uma parceria criativamente potente?
Pra mim a parceria é aquela afinidade do momento ou então muito raramente eu escolho uma pessoa que admiro para trabalhar para experimentar, mas geralmente são amigos pessoas que já tenho uma intimidade…
8. A arte do show conta com figurino assinado por Fábio de Sousa e direção de arte de Lilian Sampaio. O visual é um elemento central da sua performance? Como dialoga com a música?
Sempre tive cuidado com a arte dos discos e agora que conheci o Fabio de Souza surgiu a possibilidade de pensar em um figurino com os conceitos Origami e O Amor é Fatal eu amei ter uma roupa especial para o show, faz toda a diferença! E a Lilian é maravilhosa ela está presente em todos os ensaios vendo pensando a luz a projeção! Uma sorte imensa tê-los comigo!
9. Você considera Origami um novo marco na sua trajetória artística? Quais os próximos passos?
Origami é um disco amoroso, meu xodó! Próximo passo é o lançamento da Cascuda que produzi com o Ricardo Dias Gomes conhecido por colaborar com o Caetano Veloso por uma década! Fazer show em SP onde vou morar daqui a um mês e levar o Origami para os outros países e estados, poder seguir fazendo o show com a turma e dobrando o tempo com poesia, música e afeto!
10. Por fim: como artista da cena alternativa carioca, o que você enxerga hoje como desafio e potência para a música independente no Brasil?
Eu ainda acho tocar na rádio fundamental precisamos de espaço nesse veículo, como teve a Maldita sinto falta de algo assim para divulgar o trabalho dos artistas independentes. E show! Acredito na potência do encontro! Temos que ter mais espaços, mais editais, mais festivais ..tem muito artista bom no mundo! Furar a bolha é fundamental!