Entrevista com Enzo Peixoto, escritor maranhense: continuidade, poesia e esperança

Entrevista  com Enzo Peixoto, escritor maranhense: continuidade, poesia e esperança

Enzo Peixoto, jovem escritor do Maranhão, reflete sobre sua trajetória literária, marcada pela ideia de continuidade e pertencimento. Em seu livro Declaro-me: O Sopro das Rosas, ele transforma experiências pessoais em uma voz coletiva que ressoa além do local, buscando construir pontes entre o Maranhão e o Brasil. Nesta entrevista, Enzo fala sobre sua escrita, influências, novas obras e o papel da poesia para cultivar sensibilidade e amor.


1. Você define sua trajetória como uma “continuidade”. Como esse sentimento se manifesta em sua escrita?

“Num gesto de esperança, palavra a palavra. Continuar a escrever é abrir espaços para novas trajetórias, tanto minhas quanto de quem me lê. Penso nisso pela presença do meu avô, escritor por toda a vida.”


2. Em Declaro-me: O Sopro das Rosas, como você equilibra o íntimo e o coletivo?

“Talvez não haja equilíbrio exato. No poema ‘Por tudo, em tudo, ausência’ falo da interdependência do mundo e das pessoas — completos apesar das ausências. Buscamos o coletivo no personalismo, o que torna as experiências únicas em vozes mais coletivas e intensas. É uma construção pelo tempo.”


3. Como construir uma literatura “local-nacional” entre Maranhão e o Brasil?

“Não é um desafio como meta, mas uma perspectiva. Os dilemas maranhenses fazem parte do contexto maior nacional. Meus poemas e textos traçam essa ponte, sem ignorar vivências locais. É uma alegria que minhas palavras cheguem cada vez mais longe.”


4. Que legado do seu avô influencia seu fazer poético e político?

“O interesse pelo indefeso, o sutil, as forças do cotidiano e da natureza. Ele me ensinou que palavras só são sérias quando soam leves. É essa esperança amorosa e terna que busco expressar — e para isso é preciso coragem.”


5. Você diz que “escrever é mais escutar do que dizer”. Que vozes você escuta ao escrever?

“Muitas vozes: pessoas com nome ou sem nome, sentimentos medrosos e corajosos, angústias, paixões, fraternidade e até mesquinharias. Escuto os outros ouvindo a mim mesmo.”


6. Como tem sido a recepção de Declaro-me dentro e fora do Maranhão?

“É bonito ver meus livros como sementes de amor plantadas. Já recebi relatos marcantes, como uma leitora que viajava de Belém a Salvador com meu livro, e outra do Paraná que me chamou de seu escritor favorito vivo. Também um desconhecido que leu para minha mãe sem saber nosso parentesco. Cada leitor é uma experiência iluminada e única.”


7. O que esperar do seu próximo livro de contos?

“Um livro simples na estrutura e linguagem, mas intenso. Os contos capturam instantes cotidianos, suspendendo o tempo para explorar vida popular e pessoal. Há continuidade com Declaro-me, na dicotomia entre o dito e o escutado, o escrito e o falado.”


8. Como manter a leveza ao tratar temas densos como memória e política?

“Saber ouvir. Escolher palavras com honestidade, construindo pontes de diálogo nas verdades dos outros. A escrita amadurece e amplia o olhar sobre o mundo.”


9. Como você vê a cena literária jovem no Maranhão e no Brasil?

“Progressiva e diversa, com dizeres próprios. Tenho conhecido muitos autores contemporâneos, o que tem sido uma troca muito construtiva.”


10. Que impacto você espera que sua palavra tenha no leitor?

“Espero semear amor, para que mesmo num mundo cinza, as pessoas tenham esperança e coloquem cor na vida.”


Poema inédito de Enzo Peixoto

Céus e Pipas
À procura de pipas
em olhos
alheios
é que não
se achará
por certo a cor
do céu


Ps: Para reconhecer o outro, é preciso reconhecer-se.
— Enzo Peixoto, 26/02/2024

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