EXPOSIÇÃO FICA EM CARTAZ ATÉ 1º DE OUTUBRO
A dotART galeria abre as portas ao público para uma nova exposição. “Guirlandas para a Lua”, do artista plástico Carlos Eduardo Felix da Costa ou, simplesmente, Cadu, apresenta cerca de 15 obras que celebram a relação entre o homem e a natureza, o racional e o instintivo, o caos e o rigor. A mostra individual inédita fica disponível para visitação gratuita até 1º de outubro.
O nome da mostra intitula a série mais recente de Cadu, um ciclo de pesquisa visual iniciado em 2018 e que agora é apresentado ao público. O conjunto completo reúne trabalhos pregressos, cujos nomes pouco dialogam entre si, mas que a contemplação oferece algum sentido.
“Sinto que encerro um ciclo, que tem a ver também com o novo momento da pandemia. Estou muito otimista, confesso que ainda me surpreendo quando vejo todas as obras juntas e é um prazer mostrar isso em Belo Horizonte, obras inéditas e um conjunto nunca visto antes”, compartilha Cadu.
As séries que precederam e também fazem parte da mostra foram “Tratores da Roma x Pistões do Méier”, “Ágata” e “O Monge Pierrot e o Náufrago Nupcial”, que trazem territórios e personagens conceituais. Um arquipélago com ilhas de litorais complementares, habitados enquanto inventados, que só agora com o afastamento de quem visita nosso satélite, são compreendidos.
As “fases” desta migração carregam em comum o desejo de se estar entre a pintura e o desenho. Entre o delicado do papel – em que negociamos sua saturação ligeira com a crucialidade de gestos – e as possibilidades quase infinitas que a tinta óleo e a técnica da marmorização oferecem. Entre a precisão e a gestualidade, entre o caos e a ordem e entre a afirmação da planaridade e o truque do volume, traçaram-se mapas. Tabuleiros de gamão, labirintos e padronagens lentamente arredondaram-se, sugerindo órbitas e feminilidade.
Sloterdijk (2016) rememora que na entrada da Academia de Platão um aviso saudava os geômetras e desaconselhava o ingresso daqueles que não o fossem. É conhecida a presença de um segundo alerta. De que se afastassem os indispostos a viver casos de amor no interior do jardim dos teóricos, ou seja, aqueles que se desviam da imanência de Eros não estariam aptos ao entendimento da história das formas como um romance.
Para o artista, o caminhar por essas séries é uma trajetória que se culmina em “Guirlandas para a Lua”, por isso há obras de cada uma delas. Sobre a nova série, Cadu revela: “Lua é um lugar e alguém que partiu na pandemia. Um luto vivido no recolhimento do atelier, que aportou esféricos amuletos de adeus, lembrando que em tudo sempre há um lado luz e outro sombra. E que quando curvadas as superfícies, todo fim é um fênico recomeço. Conquistamos na proporção do abandono”.
Para ele, o ateliê, durante a pandemia, foi um local de cura, onde se manteve são e saudável. Através desses trabalhos conseguiu compreender melhor o momento que vivia, com mãos ocupadas e a cabeça vagando menos, enquanto passava pela mesma situação de luto que milhões de outras pessoas também viveram.
“Sempre trabalhei com a geometria, mas dessa vez a geometria simbólica da esfera veio de maneira inconsciente, a forma esférica feminina de acolhimento, essa força é refletida no meu trabalho”, completa.
Para Wilson Lazaro, diretor artístico da galeria, a obra de Cadu está muito presente nesse fazer como um gesto maior que o ser humano, como um criador acima de todos construindo onde existe poesia, também a realidade, mas onde se concretiza no lúdico exibido como um grande cinema, ao olhar.
“Eu vejo o Cadu como um mágico, mas não só sobre a questão da pintura, mas sobre a construção de toda a sua mágica que vem de uma pintura gestual. Que retorna a questões de uma pintura desenhada para onde vem o pensamento de uma estrutura que parte de um desenho pintura que desemboca no emocional interior de cada um. Um baú de surpresas mágicas ou até uma cartola, onde abre e se despertam encantos pendurados nas paredes”, revela.
A prática de Cadu é marcada por uma abordagem transdisciplinar. Cada projeto emerge segundo considerações conceituais não havendo uma pré-eleição de linguagens ou técnicas. e são influenciados por temas ligados à sistemas, repetição, jogos, tempo e circularidade. Recentemente, seu trabalho vem lidando com as especificidades sociais, econômicas e ambientais dos lugares em que é convidado a habitar por períodos de tempo. Esses trabalhos – muitas vezes em processos co-participativos – divergem de um olhar turístico para uma abordagem etnográfica dos fenômenos atuantes nestes contextos.
Sobre Cadu
Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Mestrado (2005) e doutorado (2013) em Linguagens Visuais pela mesma instituição. Realizou o pós-doutorado no PPGAV UFRJ na linha de pesquisa Poéticas Interdisciplinares. Artista plástico e professor pesquisador da PUC-Rio no Departamento de Artes e Design onde coordena o LINDA – Laboratório Interdisciplinar em Natureza, Design e Arte. Foi contemplado com a bolsa de residência artística Iberê Camargo no London Print Studio (2001) e foi artista visitante na Universidade de Plymouth à convite do Arts Council (Reino Unido, 2008).
Dentre as inúmeras mostras nacionais e internacionais de que participou destacam-se a 7ª Bienal do Mercosul (2009), o 32º Panorama da Arte Brasileira (2012), a 30ª Bienal de São Paulo (2012), a 13ª Bienal de Istambul (2013), a 4ª Bienal do Fim do Mundo (2014), o 35º Panorama da Arte Brasileira, 3ª Bienal de Coimbra, entre muitos outros.
Sobre a dotART
A dotART galeria foi criada pelo casal Feiz e Maria Helena Bahmed na década de 70, hoje dirigida por Leila Gontijo e Wilson Lazaro. É uma galeria de arte pioneira na divulgação e promoção da arte em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, apresentando uma arte vanguardista com grandes apostas para o cenário cultural da cidade como Volpi, Ianelli e Mabe e Tomie Ohtake.
Fez de seu espaço um lugar para ser, pensar, produzir, experimentar, celebrar e comercializar a arte de uma forma poética. Isso possibilita, ao longo de sua trajetória, uma maior eficácia na relação entre o espectador e o objeto de arte em foco.
Através da sua programação de exposições constantemente, apresentou aos mineiros um elenco de criadores com diferentes linguagens e suportes. Crê que cada objeto de arte é um canal factível com potência de irradiar cultura, e amplia o seu campo de ação ao estimular a rede de colecionadores, arquitetos, decoradores e amantes da “Arte” com a qualidade e o frescor das criações dos seus artistas de mercado primário entre artistas consagrados e novos bons grandes artistas, como Marcos Chaves, José Damasceno, Efrain Almeida, Maria Fernanda Lucena, Laura Villarosa, Elvis Almeida, entre outros.
A larga experiência e seriedade na parceria com novos valores fizeram da galeria também um posto avançado da produção mais atual da arte no Brasil e no mundo. Ao longo desses 40 anos, vários artistas já passaram pela galeria, que tem um acervo cuidadoso e especial que transita entre o acadêmico, moderno e o contemporâneo
SERVIÇO:
Exposição Guirlandas para a lua – Cadu Felix
Visitação: até 1º de outubro
Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 18h | sábado, das 10h às 13h
Local: dotART galeria (rua Bernardo Guimarães, 911, Savassi, Belo Horizonte)
Entrada gratuita
Informações: (31) 3261-3910