1. O álbum For Peace carrega uma mensagem forte de serenidade e consciência. O que o motivou a explorar esse tema neste momento específico?
Logo após o final da pandemia, o mundo ficou chocado com a Guerra da Ucrânia, e eu comecei a ficar bem reflexivo sobre a humanidade, sobre o verdadeiro significado de “ser humano”. Portanto, eu já vinha desde a pandemia com esse incômodo. O COVID-19, as guerras, isso tudo me fez pensar muito.
2. A faixa For Peace, que dá nome ao disco, é central no repertório. Pode nos contar mais sobre como ela foi composta e o que ela representa para você?
Na faixa For Peace, que dá nome ao álbum, diferente das outras faixas, tem uma repetição, um ostinato na mão esquerda em praticamente a música inteira, e momentos em que cresce e desdobra. Tem também um improviso no meio e ela traz, para mim, um ar de esperança por talvez ser a faixa mais alegre do álbum.
3. O disco inclui faixas como Refugges e Hidden Face, que sugerem histórias ou reflexões profundas. Qual foi a inspiração por trás dessas músicas?
Refugges e Hidden Face me remetem à melancolia. Melancolia que está na música tanto na música brasileira, como algumas composições de Tom Jobim, Chico Buarque ou como em obras de Bach, com momentos dedilhados. A intenção era trazer essa melancolia para o álbum, um trabalho que não é música popular, não é música clássica, é um álbum de piano solo, que tem improviso, que tem composições de um músico brasileiro com influências da música erudita e do jazz.
4. Como você enxerga o papel da música instrumental em abordar temas sociais e promover a paz?
Eu acho que a música instrumental é mais introspectiva. Como ela não tem a letra, é quase como se víssemos um filme sem saber a história. E quando estamos falando de paz, ela precisa de uma sensibilidade ainda maior. A música instrumental tem o poder para isso, de provocar diferentes sensações em cada ouvinte. E a paz pode ser diferente para cada um. Definir o que é paz é muito particular e a música instrumental pode tocar cada um de maneira diferente.
5. Você trabalhou com profissionais renomados, como André Mehmari na masterização. Como foi o processo criativo e técnico na produção do álbum?
O processo criativo foi maravilhoso. O André Mehmari não estava na captação de áudio, mas deu todo suporte para a gravação no estúdio dele, que é incrível, com perfeição técnica, com a natureza da Serra da Cantareira ao redor, um piano excelente, o que me inspirou muito. Tudo isso me ajudou muito.
6. A última faixa, Where to Find It, é uma obra improvisada. Qual foi o seu estado de espírito ao gravá-la e como ela se conecta com o tema do álbum?
O nome dessa faixa já é Onde Encontrar e meu estado emocional era de dúvida: “O que eu vou fazer? O que vou tocar?”. Então, era o que sentia naquele momento e me deixei sair do óbvio e me deixar levar. Onde eu poderia encontrar a paz? Em um tema improvisado, como essa música, eu não sabia exatamente onde encontrar, já que tenho um “mar” de possibilidades. Mas no final da música há uma resolução, mas o mais importante é deixar a reflexão mesmo sobre onde encontrar a paz.
7. O videoclipe de For Peace será lançado no mesmo dia do álbum. O que o público pode esperar dessa produção visual?
O cenário do estúdio é muito bonito, a equipe é muito competente e muito sensível. Penso que o público irá gostar do resultado, como eu gostei.
8. Você realizará dois espetáculos na BibliASPA, que tem um trabalho importante com refugiados e imigrantes. Como esses eventos se conectam com o conceito do álbum?
Infelizmente, os espetáculos serão reagendados para o ano que vem, em função de questões técnicas da ONG. A apresentação nesse lugar se conecta com o tema da busca da paz, pois essas pessoas que lá estão, estão fugindo de territórios que estão em conflitos.
9. Ao longo da sua carreira, você dividiu o palco com grandes nomes da música brasileira. Alguma dessas parcerias influenciou diretamente o som de For Peace?
Não, não teve uma parceria ou inspiração específica em alguém para esse trabalho, mas sim em diversos pianistas com projetos em formato solo, como o pianista Brad Mehldau, que também fez um disco sobre a pandemia. Minha ideia era fazer um disco que pudesse contar uma história.
10. Qual é o seu sentimento ao apresentar For Peace em um período tão simbólico como o Natal?
Meu sentimento é tentar fugir um pouco do padrão, já que os artistas escolhem lançar seus discos longe das datas comemorativas. E essa mensagem de paz no Natal, me pareceu um bom convite para a reflexão.
11. Seu último álbum, É pra Jazz, foi muito bem recebido pela crítica. O que diferencia For Peace em termos de sonoridade e proposta artística?
A primeira coisa que diferencia é o formato. For Peace é um disco de piano solo. A outra é que nesse álbum, há uma história por trás, há a ideia de unir a arte às questões da nossa vida, a nossa função social no mundo. É Pra Jazz é um projeto mais artístico, sem um tema social ou político como pano de fundo.
12. A música Tears or Choro parece dialogar com a tradição brasileira e, ao mesmo tempo, com a música internacional. Como você vê essa conexão no seu trabalho?
Essa música nasceu com a ideia de unir a música brasileira com a música internacional. É unir o que tem de mais bonito na nossa música com outras vertentes.
13. Quais são suas expectativas com este álbum em termos de impacto no público e na crítica?
A minha maior (e talvez única) expectativa é que a música chegue até as pessoas, e que elas se sintam tocadas. Que traga sensibilidade, empatia, e acima de tudo, muita reflexão sobre nossa função nesse mundo.
14. Você mencionou que a paz está ligada ao propósito de vida e à ajuda ao próximo. Como a sua música tem refletido esse propósito ao longo da sua carreira?
Eu tenho mais tempo com a música do que sem ela. Minha carreira é de quase 23 anos e cada momento é um aprendizado diferente. A vida é formada por várias fases, e com a música não é diferente, ela reflete cada momento, cada forma de agir ou pensar.
15. Depois de For Peace, quais são seus próximos projetos? Podemos esperar novos shows ou colaborações?
Após o lançamento desse disco, devo me dedicar a um projeto para viajar com minha música, um trabalho de piano solo pelo mundo, possivelmente na Europa.