1. A banda Peyote surgiu em 2002, mas passou por um hiato significativo. O que motivou esse retorno e como vocês decidiram que era o momento certo para lançar novas músicas?
Andrea: a gente nunca pensa que parou, de fato. Vamos adiando as coisas, adiando, e quando percebemos, ficaram para trás. Na verdade, Peyote teve alguns breves retornos, um ou outro show, mas não retornou de fato. No início da pandemia, nos falamos, como sempre fazíamos – prometíamos um revival que nunca rolava de fato. Até q a pandemia nos assustou – não sabíamos se a humanidade sobreviveria – então veio aquela urgência de fazer tudo como se fosse o último dia! Chegamos a nos reencontrar para levar som de máscara! Pouco tempo depois, soubemos da morte repentina do segundo guitarrista e arranjador da formação original, Eurico. Que foi meu braço direito em muita criação de canções do 1o álbum. Ele era uma pessoa saudavel, atleta, sua partida pegou todos de surpresa. Ali vimos de fato que a vida era agora e que não éramos o que nascemos para ser, que éramos frustradas por não estar tocando e sendo coadjuvantes das nossas vidas. Voltamos “pra ontem”, a vida e agora! É isso mesmo nos inspirou para as novas músicas!
2. Como foi o processo de voltar a criar e tocar juntas depois de tanto tempo? Quais foram os maiores desafios enfrentados nessa nova fase?
Andrea: Ha 20 anos atrás, quando o 1o álbum foi composto, a maioria das músicas eram minhas, mas o Alessandro baterista e o Eurico guitarrista, me blindavam, colocavam minhas ideias no papel, entendia as referências que eu dava de arranjo, tornavam tudo possível e hoje não teria mais eles. Por outro lado, Isabella e Adriana, também da formação original, se tornaram compositoras também, a Isabella teve muitas inspirações junto comigo nesse retorno, fizemos muitas canções juntas, uma enxurrada, sentimos juntas essa ânsia de não estarmos nos realizando na música, e a Dri que tinha 16 anos naquela época, virou uma super arranjadora. Tivemos que, sem os meninos, tomar esse protagonismo para a gente. E nos sentimos muito mais prontas e corajosas hoje! Tinha que ser assim, a gente pela gente mesmo!
3. Vocês mencionam que, apesar das mudanças de vida e desafios, ainda havia um sonho pulsante. Qual foi o impacto pessoal e coletivo dessa retomada?
Andrea: A pandemia e a partida inesperada do Eurico. Eu e ele falávamos em levar som do Peyote também, tínhamos falado sobre um retorno pouco antes. Isso deu um sacode na gente: “Ei, você não está sendo quem gostaria de ser! Vai esperar o que?”
4. O título do EP é poderoso e inspirador. O que ele representa para vocês, tanto como artistas quanto como mulheres?
Andrea: A quebra de muitos paradigmas. Eu sinto machismo em tudo. Nas mulheres a minha volta, nas mulheres até que mais me amaram da minha família! Você não pode ser artista porque tem filho, você não pode isso porque foi mãe, porque tem essa idade, esse tempo passou, etc etc etc. Isso foi sempre. O triste é que com certeza, elas castraram a elas mesmas. E sinto até nas pessoas mais jovens que lutam contra essas barreiras, elas ainda tem um ranço de machismo, de achar que eu não posso algo, de achar que elas não podem algo. E meus filhos acham o máximo eu ter coragem de subir num palco e cantar ou realizar meus sonhos, sei que encorajo eles e sei que minha saúde mental é saude para a minha família! Falo eu, mas sei que a Isabella hj é uma Isabella vivendo uma versão muito mais feliz que a do mercado financeiro que só tocava guitarra em casa e quando dava tempo, é assim a Dri, e a Letícia, falou de todas nós. Queremos inspirar as mulheres e as pessoas através da nossa música, essa é a mensagem da banda. Problemas você vai ter na vida, mas tenha problemas sendo quem você gostaria de ser! Sobre as minhas antepassadas que abriram mão dos seus sonhos – eu quero ser a vitória delas! Meu sucesso também é a libertação delas!
5. Como vocês escolheram as músicas que compõem o EP? A inclusão de “Mares de Java” como inédita traz algum significado especial?
Andrea: Mares de Java é um descanso, uma baladinha com sabor de lual e mar pequeno de verão. Mas não deixa de carregar a mensagem de todo o álbum que podemos chegar até “onde nosso pensamento for capaz de ir”. Nosso poder de pensar não tem limites.
6. O EP aborda temas como coragem, sonhos e desafios. Como esses temas refletem suas experiências pessoais e artísticas?
Andrea: É isso, se vivermos uma vida secundária, um plano B, C, aquilo que “sobrou” pra gente, que os outros fizeram ou sugeriram e que não tem a ver com nossos sonhos, também teremos problemas, também teremos decepções e apurrinhacoes. Que seja então no caminho das nossas maiores realizações pessoais! Que os obstáculos estejam no caminho de um objetivo grande! A gente muda o mundo mudando a gente. Precisamos sonhar grande e ser o que nascemos para ser é cumprir uma missão divina!
7. A faixa-título tem uma mensagem de empoderamento e reflexão. O que vocês esperam que os ouvintes levem dessa música?
Andrea: Espero que queiram saber quem são essas garotas hahaha. E vejam que eu tenho 4 filhos mas tô ali dando a cara a tapa fazendo meu som, fazendo música barulhenta e me levando a sério! Quero ser uma inspiração de coragem! Quero que vejam que a Isabella passou anos no mercado financeiro e tá ali quebrando tudo na guitarra e se realizando, a Adriana com dois empregos do professora, também, a Letícia também, a gente quer inspirar as pessoas a ter coragem e não é da boca pra fora!
8. “Preciso Voltar Pra Casa” tem uma história impactante por trás. Como foi transformar uma experiência tão marcante em arte?
Andrea: Ou eu transformava em arte ou eu morria rs. Eu sou isso, não tem como não ver minha vida como um filme cheio de plot twits e viradas emocionantes. Quando fui sequestrada e tive que jogar um verdadeiro jogo de xadrez com três bandidos armados para salvar minha própria pele e não deixar meus filhos sem mãe, eu assistia um filme, alguns momentos em 1a pessoa e as vezes, mesmo dentro da situação em 3a pessoa! Colo se tivesse vendo um filme e muito segura que o fim daria certo. Vou lançar um livro sobre isso pelo Peyote, mais para frente vocês saberão mais sobre! Aguardem! Rsrsrs (mas há machismo até na mãe solo não poder nem morrer ou ser sequestrada pois tem uma dever de voltar para os filhos)
9. A colaboração com Luís Carlinhos em “Fé na Vida” trouxe uma nova dimensão ao álbum. Como foi trabalhar com ele?
Andrea: Sou fã do Luís Carlinhos! Gravar com ele foi mais uma prova de que quando estamos no caminho de ser o que nascemos para ser de fato, as coisas se encaixam. O universo vem com seus presentes. Foi uma honra e um aprendizado. Aprendi muito com ele!
10. O reggae “Mares de Java” celebra a conexão com o mar e o surf. Como essa faixa se relaciona com o tema de buscar sua essência?
Andrea: Fui ter contato com o surf com 38. Nunca, jamais, imaginaria. Isso quer dizer que: podemos ser qualquer coisa.
11. Peyote é uma banda feminina, feminista e ousada. Como vocês percebem a evolução do espaço para mulheres na música desde o início da banda até agora?
Andrea: Ah, as coisas vão tomando forma. Voltar com o Peyote e agora com uma formação 100% feminina, nos fez conhecer outras mulheres artistas maravilhosas e tem até feats com elas vindo por aí rs. Não só cantoras mas também câmeras woman, editoras, arranjadoras, técnicas de som, fotografas. As mulheres estão escrevendo uma história nova. Me sinto muito grata e muito foda por fazer parte disso!
12. Vocês enfrentaram críticas e preconceitos, especialmente relacionados à maternidade e à idade. Como lidaram com esses desafios e os transformaram em força criativa?
Andrea: A gente se inspira e faz música. Te digo que hoje AMO descobrir um novo preconceito rsrs Adoro contradizer ele, estamos muito unidas e inspiradas!
13. O que o público pode esperar do lançamento do EP, tanto nas plataformas digitais quanto nos shows ao vivo?
Andrea: Peyote sempre foi uma banda eclética em termos de influências e arranjos. Isso continua mas hoje estamos carregadas de inspiração e convidamos o público a conhecer seus sonhos mais ousados e a viver isso!
14. Com essa nova fase da banda, quais são seus objetivos daqui para frente? Há planos para um álbum completo ou turnê?
Andrea: Vai vir aí a Parte 2 do 2o álbum! Com ela, feats, show de lançamento da turnê e muitas surpresas!
15. A banda teve uma trajetória marcante e deixou saudade nos fãs. Como vocês gostariam que essa nova fase de Peyote fosse lembrada?
Andrea: A gente venceu.
Somos quem a gente gostaria de ser.