1. O título do livro, “A Namoradeira”, faz uma analogia interessante entre um móvel e os aspectos dos relacionamentos. De onde surgiu essa ideia criativa e como ela ajuda a ilustrar os conceitos apresentados na obra?
Com os anos de atendimento eu sempre observei que quando correlacionamos objetos concretos para explicar é muito mais fácil as pessoas conseguirem assimilar as reflexões. Eu sempre brinco que a palavra namorar está em desuso, e é uma palavra que eu considero muito bonita já que dentro dela tem a palavra amor e a palavra orar, independente de religião. A namoradeira é um objeto que eu sempre achei muito lindo e acolhedor desde a minha infância. Então já que desejava falar de relacionamentos saudáveis e acolhedores tive a ideia de correlacionar as partes da namoradeira com os elementos imprescindíveis, na minha percepção, para um relacionamento de casal saudável. Na pandemia eu queria levar frases e textos que ajudassem as pessoas passar por aquele período tão caótico. Foi aí que eu comecei a correlacionar desenhos com reflexões, porque tudo que fica concreto é mais fácil para que a gente assimile. Fiz um post que fez muito sentido para as pessoas, e sempre gostei de estudar sobre relacionamentos então na verdade foi aí que a ideia do livro surgiu.
2. Você menciona que muitos relacionamentos falham não por falta de amor, mas pela ausência de autoconhecimento. Por que o autoconhecimento é tão essencial para um relacionamento saudável?
Sabe que por muitos anos eu também acreditava que só o amor era suficiente. Mas através da observação comecei a ver que muitas pessoas amavam, inclusive quando atendia casais separadamente tive a certeza que não faltava amor, o que faltava era diálogo e na grande maioria das vezes falta de autoconhecimento. Temos a tendência quando não nos conhecemos de julgar todas as nossas dificuldades, limitações e frustrações sem querer e perceber em nossos amores. Na verdade esse mecanismo de defesa que utilizamos para evitar entrar em contato com a dor, na verdade não evita porque muitas vezes causar problemas chama-se projeção. Tudo o que temos dentro de nós e negamos, rejeitamos e escondemos de nós mesmos, quando visualizamos no outro ficamos muito incomodados e irritados. E esse é o principal mecanismo de defesa que faz com que as pessoas briguem muito. Na verdade, também fui observando que pessoas frustradas tem muita dificuldade em se vincular de forma saudável, já que colocam muitas expectativas no companheiro ou companheira. Também comecei a observar que muitos casais separavam com existência de muito amor dentro de si, mas muitas vezes o orgulho atrapalhava nos Reencontros. E quanto mais estudava relacionamento mais observava que o amor na grande maioria das vezes está dentro de todos nós. Porém com ausência de conhecimento esse amor na grande maioria das vezes torna-se tóxico, pesado e poluído. Infelizmente ou felizmente porque assim que é é dessa forma que a maioria das pessoas se relacionam. Não só nos relacionamentos amorosos, mas em todos os tipos de vínculos. Sempre compara o amor com a água existente no mundo o mundo é cheio de água, assim como seres humanos Possuem o amor dentro de si. Porém a maior quantidade de água do mundo não é potável, assim como a maioria dos vínculos de amor também não são saudáveis.
3. Durante seus anos de estudo e observação, quais foram os principais padrões ou sinais de relacionamentos tóxicos que você identificou?
Principalmente os casais que não conversam e cada um vive na bolha ou os casais que brigam o tempo inteiro e até muitas vezes começam a demonstrar amor através das brigas.
Resumindo:
Falta de diálogo
Brigas frequentes
4. No livro, você propõe reflexões profundas e até apresenta poesias para complementar a mensagem. Como a poesia contribui para a jornada de autodescoberta do leitor?
Sempre gostei de escrever poesias desde a infância. E nesse livro tentei que as poesias deixassem a leitura um pouco mais leve, já que estudar sobre autoconhecimento muitas vezes é algo pesado.
5. Você acredita que a leitura de “A Namoradeira” pode gerar mudanças imediatas no comportamento das pessoas ou isso é algo que demanda tempo e prática?
Eu, Silmara, não acredito em mágica, acredito em trabalho árduo, duro, ou seja, muita dedicação e paciência. Dessa forma acredito que pode sim ajudar muitas pessoas. Mas é importante lembrar que não existe mágica. Mais sinceramente eu acredito nas duas possibilidades, cada uma pessoa tem um perfil então algumas pessoas pode ajudar imediatamente e outras vão precisar reler e muita prática para conseguir ajuda efetiva
6. Como o conceito de “o livro muda quando o leitor muda” se aplica na prática? Você poderia compartilhar um exemplo de como isso pode acontecer?
Eu realmente concordo muito com essa frase, mesmo dia tendo 24h00 e as estações se repitam todos os anos tudo é sempre diferente. Quanto mais o tempo vai passando o autoconhecimento ou mesmo as vivências diárias fazem com que a nossa percepção fique diferente. Dessa forma quanto mais você mudar mais a leitura do livro será vista de uma forma diferente e muitas vezes até inovadora. Por exemplo é muito interessante o meu consultório sempre teve flores e outras plantas inúmeros pacientes só conseguiam ver a presença das plantas depois de um longo período de tratamento. Parece brincadeira, mas isso já aconteceu inúmeras vezes.
7. Em sua opinião, quais são os pilares mais importantes para manter um relacionamento saudável e equilibrado?
Hoje considere esses oito elementos imprescindíveis para quem busca relacionamento de casal saudável:
1 Amor
2 Autoconhecimento
3 Sexo
4 Disponibilidade
5 Comunicação/ diálogo
6 Limites
7 Olhar juntos na mesma direção e
8 Flexibilidade
8. Além dos relacionamentos amorosos, sua obra também aborda outros tipos de conexões, como amizades e relações familiares. Quais aprendizados podem ser aplicados nesses contextos?
Na verdade, se tirarmos dois elementos que é o sexo e olhar juntos da mesma direção, todos os outros elementos trazem reflexões para os diversos tipos de vínculos inclusive o vínculo conosco.
9. Para quem está em um relacionamento atualmente, que primeiro passo você recomendaria para construir ou fortalecer a relação com base nos princípios do livro?
Sinceramente eu recomendo que as pessoas acreditem e desejem verdadeiramente estar no relacionamento e aceitem que absolutamente tudo na vida tem um preço. Inclusive a construção de relacionamentos saudáveis.
10. Sua obra também está disponível em plataformas digitais. Como você vê o impacto do acesso digital na disseminação de ideias sobre autoconhecimento e relacionamentos?
Penso ser positivo, já que mais pessoas tem acesso as diversas plataformas. O conhecimento é libertador, independente da origem do acesso. Tudo o que facilita a propagação de ideias e reflexões fidedignas considero maravilhoso.
11. Se pudesse resumir a mensagem principal de “A Namoradeira” em uma frase, qual seria?
“Os relacionamentos humanos são responsáveis por muitas tristezas, mas também pelas nossas maiores alegrias”.
12. Para aqueles que estão enfrentando dificuldades nos relacionamentos e buscando mudanças, que conselho você daria para motivá-los a iniciar essa jornada de transformação?
Sempre falo que quem passar pela vida e não amar na minha percepção não viveu simplesmente sobreviveu. E para amar de forma verdadeira profunda e principalmente saudável é imprescindível autoconhecimento. Por isso convido todos a embarcarem nessa jornada chamada busca pela qualidade de vida com amor e saudáveis. Isso não quer dizer que as pessoas não enfrentaram dificuldade porque as dificuldades são inerentes à vida, quero dizer que o autoconhecimento proporciona recursos “para quando você cair levantar mais rápido”.
13. Como foi o processo de criação do livro? Algum momento específico ou caso real inspirou você de forma marcante?
Na verdade, como falei o processo de criação é desde a pandemia, mas só consegui começar a escrever no final do ano passado. Inúmeros casos reais me instigaram a escrever já que como cito na obra muitos relacionamentos não são saudáveis e até findam não por falta de amor mas sim por falta de autoconhecimento.
14. Você planeja explorar outras temáticas em obras futuras ou continuar aprofundando o universo dos relacionamentos?
Eu adoro estudar e falar sobre relacionamentos, mas como psiquiatra tem inúmeros outros temas que ainda quero abordar sim.