https://abacus-market-onion.top Entrevista: Siamese, cantora e compositora - Marramaque

Entrevista: Siamese, cantora e compositora

1. Siamese, você escolheu dar ao seu álbum de estreia o mesmo nome artístico. O que levou você a tomar essa decisão e como isso reflete sua identidade e trajetória?

Siamese além de ser meu nome artístico é meu nome civil, como o álbum é bem sincero e traz muito da minha identidade, personalidade, inquietações, sentimentos e versatilidade sonora então fez sentido dar o meu nome para meu primeiro álbum.

2. O álbum explora uma variedade impressionante de gêneros, desde pop e rock até afrobeat e bossa nova. Como você trabalhou para unir essas influências diversas em um projeto coeso? 

Queria trazer sonoridades que marcaram minha juventude e agora consciente de quem sou poderia trazer a minha própria narrativa, mostrar minha poesia e jeito de cantar sem perder minha identidade. Toda tracklist foi pensada para  que quando o ouvinte terminasse de ouvir o álbum tivesse a sensação de experimentar meu canto em ritmos diferentes que se conectam com a minha poética. 

3. Cada faixa terá um videoclipe e o projeto audiovisual parece ser central na apresentação do álbum. Como foi o processo criativo para desenvolver essa experiência visual? 

Em paralelo com a concepção sonora, estive sempre junta da Aurora construindo como iríamos apresentar imageticamente todo esse trabalho, foram alguns meses ouvindo diversas vezes as demos e guias do álbum, conversando e rabiscando ideias sobre como eu quero que as pessoas me vejam a partir deste lançamento. Cada visual foi pensado em propostas diferentes do audiovisual que fosse de encontro com as músicas e pudessem ilustrar imageticamente as canções trazendo novas possibilidades de interpretação das músicas.

4. A música “Minha Vez” é descrita como um rock com uma pegada dos anos 2000. Você poderia nos contar mais sobre o significado dessa faixa e como ela representa o início dessa nova fase?

A Faixa Minha Vez tem uma letra empoderada, uma mensagem de seguir seus sonhos e conquistar seu espaço no mundo, é um discurso transgressor e sentia que a letra merecia ter uma pegada sonora que fosse de encontro, então revisitei memórias e sabia que o rock seria uma boa linguagem para experimentar,  quando finalizei a demo tinha certeza que era a música certa para abrir o disco, por ser um estilo novo no meu repertório e trazer um discurso pessoal, mas, que atravessa muitas pessoas pela mensagem.

5. Em ‘Iphone’, você aborda a questão das redes sociais e das relações superficiais. Como essa realidade impacta sua vida pessoal e artística?

Ser uma artista independente hoje é quase impossível você ficar fora das redes sociais, eu enxergo ela como a possibilidade de divulgar meu trabalho e me conectar com meus fãs, procuro estar presente nela no meu dia a dia, de uma maneira espontânea, mas não como uma obrigatoriedade. Estamos sempre sendo observadas e sob o olhar superficial do outro. Em Iphone queria mostrar isso, a importância de estarmos bem com o nosso ser e valorizar as relações reais. É sobre as pessoas que ficam stalkeando, reagindo aos stories, não te  seguem, ficam nesse “flerte” virtual, mas não tem coragem de assumir seus desejos, e nós  não podemos dispostas a vivenciar relações fúteis.

6. Algumas faixas, como ‘Vulcão’ e ‘Se Mova’, falam de amor e de empoderamento pessoal. Qual é o papel desses temas no álbum e como eles se conectam com sua história pessoal?

Essas músicas falam de amor e superação, sentimentos humanos que todo mundo pode sentir, queria que o álbum SIAMESE abraçasse esses sentimentos humanos e com isso humanizar minha obra para além do meu recorte de raça e gênero.

Em SE MOVA falo sobre superar o fim de uma relação, seja amorosa, familiar ou de amizade, sobre aproveitar a vida, se mover pelas possibilidades da vida e se libertar. VULCÃO foi escrita num dia que acordei feliz de estar ao lado da Aurora, minha namorada e musa inspiradora, estamos construindo nossa vida juntas, trabalhamos juntas, estamos à mais de 10 anos juntas, e sinto que é importante mostrar essa paixão de duas pessoas trans no país que mais mata pessoas como nós, e é uma forma de eternizar e celebrar o amor. 

7. Ao longo de sua carreira, você tem explorado diferentes estilos e colaborações. Como foi trabalhar novamente com produtores como Tirado e Badzilla, e o que esses colaboradores trouxeram de novo para o álbum?

Eu adoro as possibilidades de fazer música e experimentar minha voz e poesia em estilos diferentes, no álbum SIAMESE estou mais confiante e me permitindo cantar em outros estilos musicais, que sempre fizeram parte da minha concepção artística, mas que antes eu não me sentia pronta para apresentar minhas composições nesses ritmos ao público. Foi ótimo trabalhar com o Tirado, já havíamos trabalhamos em outras músicas juntos, mas agora para produção do disco tivemos um tempo maior de convivência, eu apresentei as ideias que tinha das canções e ele trazia a interpretação dele para produção musical, a dinâmica fluiu bem, tivemos várias reuniões onlines para chegar no resultado final.O Tirado foi responsável por 8 das 10 faixas do disco, é uma excelente profissional e recentemente ganhou um grammy latino.

Foi a primeira vez que trabalhei com duo Badzilla,  o Lan e o Tutti  abraçaram a ideia de produzir uma música para o disco e começamos a desenvolver IPHONE, conseguimos criar a estrutura da música em uma tarde no estúdio, foi muito legal acompanhar a criação da produção musical do início, eu apresentei a ideia da faixa e eles começaram a criar a partir disso, já adicionando arranjos de guitarras de forma orgânica. Quando fui gravar os vocais finais de IPHONE comentei com o Lan que estava trabalhando com a Clementaum na faixa VULCÃO um dia antes, e ele se interessou para que o Badzilla entrasse na produção musical da faixa o que agregou na construção harmônica da música.

8. A faixa “Desabafo” traz uma pegada de rap que remete ao início de sua carreira. Como foi revisitar o hip hop neste momento e como essa faixa se diferencia de seus primeiros trabalhos?

O rap sempre esteve presente na minha forma de escrever, quis trazer um “desabafo” no disco e queria fazer em cima de um boom bap. Sinto que minha escrita amadureceu, aprendi outras formas de contar histórias, apresentar pontos de vista e usar a minha voz. Acredito que o rap tem esse poder de identificação e transformação, é uma cultura que nasce para dar voz às mazelas sociais  e não poderia ficar de fora do meu primeiro álbum, trazer a minha forma de fazer rap sendo travesti preta no Brasil. 

9. Como a estética minimalista do videoclipe de ‘Minha Vez’, dirigido por Aurora Willian, contrasta ou complementa a energia da música?

Acredito que complementa a energia da música, o clipe tem um linguagem minimalista todo em estúdio branco, com stylis apresentando minha personalidade rockstar assinado pelo BRABO e segue a identidade visual da capa e contracapa do álbum. O clipe traz uma  dinâmica pop, é  inspirado nos  videoclipes de rock dos anos 2000, com movimentos de câmeras mais livres, variações de planos e efeitos de edição pelo olhar da Aurora. Apresento minha personalidade rockstar na performance do vídeo, misturando coreografia, movimentos livres, e posturas não convencionais, para trazer força e autoconfiança.

10. O álbum também é uma celebração da diversidade sonora, indo além do seu recorte de raça e gênero. Como você gostaria que seu trabalho fosse acolhido e interpretado pelo público?

Nas músicas presentes no meu álbum eu busco trazer sentimentos humanos como: amores, saudades, decepção, raiva, felicidade, tristeza, amor próprio e autoestima. Quero que minha obra seja acolhida como uma expressão humana, que meu trabalho seja humanizado. O álbum traz uma sensação nostálgica, mas que se conecta com o hoje.

11. Sua trajetória inclui apresentações em festivais e colaborações com artistas renomados. Qual foi o impacto dessas experiências na sua evolução como artista e na produção deste álbum?

Cada experiência na minha carreira contribuiu para a construção da artista que sou hoje.  

Agora me vejo segura para enfrentar situações que no início da minha carreira não estava pronta. Estar no palco e trocar com artistas que admiro me trouxeram novas visões. Consigo entender o que faz sentido e o que não quero para o meu caminho, e isso se refletiu na forma com que abordei cada música do meu disco.

12. Você tem shows marcados para o lançamento do álbum em Curitiba. O que o público pode esperar dessas apresentações ao vivo? Alguma surpresa preparada?

Sim, tenho show de lançamento do álbum SIAMESE dia 13 e 14 de dezembro às 20hrs no Teatro Paiol em Curitiba, vocês podem esperar um show inédito com a presença do meu balé e de uma banda, estou preparando um setlist e performance especial para apresentar o álbum. O show contará com o ato de abertura pela Bixarte, além de fazermos uma música juntas.

13. Por fim, como você espera que o público se conecte com SIAMESE, tanto no aspecto musical quanto visual?

O álbum marca um momento onde encontrei a minha voz, a maneira como quero me comunicar com o público. Hoje me sinto confiante e ousada em apresentar esse projeto. É um projeto que fala muito sobre mim, minhas vivências, mas que pode se conectar com o público de forma diversa. Ter a possibilidade de trazer visuais para todas as músicas faz que o público entre no universo SIAMESE e se aproxime da minha obra e personalidade.