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Entrevista: Nelmara Arbex, sócia-líder de ESG na KPMG

1. O que levou você a escrever Terranautas e qual foi o ponto de partida para essa obra?

A ideia do livro nasceu depois de desenvolver muitos conteúdos para iniciantes e profissionais experientes, em vários países. Essa experiência me fez entender que o que faz falta em muitas discussões não é explicar ferramentas de gestão ou compartilhar melhores práticas. O que senti falta é ter um espaço para exercitar uma forma de pensar, que entende que todas as decisões estão conectadas com redes e têm impactos muito além de onde vivemos e operamos. O livro propõe-se a trazer à luz essas conexões, que são profundas também dentro de cada um de nós.

2. Você menciona que o livro busca provocar um “reflexo cognitivo”. Como isso se traduz no conteúdo e na experiência do leitor?

O que acredito é que depois que o leitor exercita essa forma interconectada de entender o mundo, fica difícil não levar mais isso em consideração quando se tomam decisões e se olha o mundo à sua volta. À essa reação chamo “reflexo cognitivo”, uma forma de pensar que vem meio naturalmente, sem fazer força.

3. Em um mundo tão dinâmico e cheio de mudanças disruptivas, como você acredita que Terranautas pode ajudar os leitores a navegar por essas transformações?

Este é o propósito do livro! Por um lado, entender melhor onde estamos, mas também perceber como usar essa forma de pensar, com foco em soluções específicas, direcionada por uma visão de futuro, para lidar com o contexto atual.

4. Quais foram os principais desafios para transformar ideias complexas, como sustentabilidade e interdependência, em algo acessível para profissionais de diversas áreas?

O maior desafio foi, e segue sendo, falar sobre isso com exemplos cotidianos, que sejam claros para muitos, para qualquer cidadão mesmo. Porém, que também possibilite ao/a leitor/a perceber que essa forma quase obvia interconectada de pensar é também muito poderosa e o/a leve à ação. Uma ação interna, de reflexão, mas também externa, de novas formas de interação com a realidade e a decisão.

5. O título do livro, Terranautas, é instigante. Qual é o significado por trás dele e como ele reflete o conteúdo do livro?

O título era Sustentabilidade para Cérebros durante a maior parte do tempo quando ele estava sendo escrito. A primeira decisão foi lembrar o/a leitor/a que existe uma forma de entender a realidade que tem que ser acionada para não cairmos em conversas cheias de opinião e pouco conteúdo e pouco foco em soluções. Mas, durante o desenvolvimento do conteúdo, cresceu a imagem de que estamos mal preparados para “pilotar” esse planeta que, quase como um milagre, nos acolhe e mantém. Daí surgiu o título principal- Terranautas.

6. Você afirma que “nada será como antes” após a leitura do livro. Como você acredita que a obra pode transformar a percepção de realidade e decisão dos leitores?

NA- Quando uma pessoa começa a exercitar e enxergar conscientemente as interconexões por trás de cada ação do seu cotidiano – o transporte que usa, a roupa que compra, a comida que come e a que joga fora, o projeto que apoia, o filme que assiste; ou no campo profissional, o fornecedor que seleciona, o material que usa nos seus produtos etc. –, essa forma de pensar não o abandona. E quando você tenta ignorá-la, fica esse sentimento de que você está fingindo que não sabe que isso tem um impacto. Nesse sentido, quem embarca de verdade no tema do livro não pensará como antes.

7. Quais são os principais erros ou equívocos que você observa na forma como as empresas e os líderes empresariais lidam com sustentabilidade?

O livro fala disso em várias partes. Mas, de um modo resumido, há uma série de equívocos que vêm do fato de líderes (e muitas outras pessoas) acreditarem em indicadores que, ainda que evoluam positivamente, não apontam de fato que o negócio e a sociedade estão indo na direção correta. Ou ainda, achar que – como é de interesse de muitos que os negócios prosperem – podem esperar pelos incentivos certos e as regulamentações certas e assim vão sobrevivendo e se moverão na direção certa. A velocidade com que mudanças acontecem em momentos de transição como este não combina com pensamentos lineares.

8. Como profissionais que não atuam diretamente com ESG podem se beneficiar dos conceitos apresentados no livro?

O livro foi escrito para profissionais em geral, de qualquer área, que atuam especialmente nos ambientes empresariais. Mas, o conteúdo, em sua grande parte, foi escrito para a/o cidadã/o que buscar uma forma de entender a realidade atual e lidar com ela de maneira ativa, se reconectando com seu poder de agir sobre a realidade e de transformá-la.

9. Você acredita que o setor corporativo está preparado para integrar uma visão mais holística e interdependente da sustentabilidade?

A grande maioria da liderança empresarial entende essa interconexão. O problema que vejo é que ela decide cotidianamente seguir fazendo como sempre, com medo de processos disruptivos, pequenos e grandes. Preparar-se para decisões cotidianas “integradas” significa entender o tamanho do problema, levá-lo a sério e usar seu capital financeiro, intelectual e de relacionamentos para idealizar uma visão e soluções para resolver os problemas de verdade que temos. Assim, poderíamos acelerar muito essa transição e fazê-la de modo mais gentil para todos. E mais conectado com os jovens.

10. Quais mudanças estruturais você considera urgentes para que a sustentabilidade deixe de ser um “departamento” e passe a ser central nas decisões corporativas?

Os temas da sustentabilidade já se impõem nas diversas áreas da empresa, do compliance á vendas, à seleção de fornecedores, aos colaboradores, estratégia, financeiro etc. Empresas, instituições empresariais e escolas de negócio precisam entender isso e fazer com que as estruturas, os sistemas de gestão e a formação de seus profissionais reflitam isso.

11. Você trabalhou com instituições renomadas, como Natura, McKinsey e Global Reporting Initiative. Qual experiência mais impactou sua visão sobre ESG e sustentabilidade?

Cada experiência molda uma parte do seu entendimento. Difícil dizer qual foi a mais importante. No Instituto Ethos vi como era importante ter materiais para guiar as conversas e educar. Na Natura vi como lideranças de fato interessadas se comportam e às vezes erram. Na GRI aprendi a ver tudo isso de uma perspectiva global e, ao mesmo tempo, com os dilemas locais. Na McKinsey aprendi que as lideranças de negócios podem mover montanhas, literalmente, quando querem. E aprendi lá sobre o poder de dispor de uma visão. Mas, aprendi muito com muitos/as outros/as que não são instituições, claro!

12. Como foi a transição de uma carreira científica para uma atuação mais voltada ao impacto social e ambiental?

A formação científica ensina a olhar um problema de vários ângulos. Entender as forças que agem sobre ele e o que ainda não está claro e precisa ser investigado.  Isso pode ser aplicado em qualquer campo de trabalho e pessoal também.  Isso me garantiu que, quando resolvi ir trabalhar com empresas, essa forma de pensar fosse exercida em outros ambientes.

Também entendi que, diferentemente da maior parte do mundo científico, as conclusões de uma análise considerando várias perspectivas nem sempre eram bem-vindas no mundo dos negócios. Para que sejam, você tem que achar uma forma de falar sobre essas conclusões.

O mundo dos negócios tem alguns dogmas como que o lucro financeiro dos shareholder/donos não pode ser sacrificado. Para uma pessoa que pensa interconectadamente, isso é como dizer que uma planta não pode ter momentos de perdas de folhas nunca, como se os ciclos e conexão com o contexto em que vive não fossem relevantes para dar frutos, gerar descendentes e alimentar muitos seres. Não tem nada de óbvio nesse dogma.

Ou, ainda, se você pensar nas empresas listadas, é como tratar uma árvore centenária com raízes profundas como se fosse uma mosca com 24 horas de vida.

13. Que tipo de retorno ou transformação você espera receber dos leitores?

Eu adoraria que as pessoas entrassem em contato comigo via e-mail e me dissessem do que mais gostaram e do que menos gostaram no livro. E que contassem também como o livro mudou o jeito de pensarem e de tomarem decisões. info@terranautas.com.br.

14. Para quem deseja começar a explorar o tema da sustentabilidade, por onde você sugere que comecem a leitura e a reflexão?

Pelo meu livro! Claro!

15. Existe a possibilidade de Terranautas ser expandido para outros formatos, como cursos, palestras ou podcasts?

Sim! Isto já está começando! Temos um site onde as palestras, experiências e materiais serão compartilhados. www.Terranautas.com.br. E uma conta no Instagram. Fiquem de olho!