1. Beatriz, como foi para você fazer parte da primeira série melodramática brasileira da Netflix, “Pedaço de Mim”?
Acho o máximo fazer parte de um projeto com uma cara tão nova. Desde o começo, achava que a mistura de novela com streaming ia ser um sucesso e não deu outra. Fico orgulhosa de estar no meio disso com tantos profissionais ótimos.
2. Você mencionou a generosidade de atores mais experientes nos bastidores. Poderia compartilhar algum momento marcante dessa experiência?
Acho que um bom exemplo dessa troca foram as cenas gravadas com o Rui Ricardo Diaz, que interpreta o Dante, nosso professor na série. Durante os intervalos, entre os takes e mesmo nos camarins, ele se mostrava um colega disposto a dividir e jogar junto, abrindo espaço para que a gente fizesse algumas improvisações em cena e colocando alguns cacos que incluíam os alunos na narrativa dele.
3. Interpretar o Pluft em “Pluft, o Fantasminha” é uma responsabilidade e tanto. Como você se preparou para esse papel?
Construir o Pluft foi uma mistura de sentimentos. Eu queria muito respeitar a história do personagem, que já foi aos palcos em nove montagens com grandes nomes interpretando o papel, e, ao mesmo tempo, queria fazer a minha construção, colocar as minhas ferramentas. Foram muitas pesquisas até chegar nesse Pluft. Laboratórios focados na voz, no corpo, na infantilidade, no gênero, enfim, um trabalho delicado, mas muito gostoso de fazer.
4. Qual foi a maior lição que você aprendeu ao trabalhar com diretores renomados como Maurício Farias e Clara Kutner?
Acho que foi a tarefa árdua, para mim, pelo menos, de confiar de olhos fechados na escolha da equipe. Eu digo isso porque no teatro, por exemplo, além de ter mais tempo, todo mundo sabe um pouco de tudo. E no audiovisual, não. Você precisa confiar na escolha estética e na direção de ator que os diretores estão propondo e se jogar sem julgamentos. Lembro de conversar com meus amigos no set, depois de alguma cena difícil que foi encerrada sem mais ajustes com relação à nossa interpretação, a gente dizia “se ele (Maurício) não tivesse gostado, ele diria”. E é verdade! Aprendi a deixar estar e confiar no trabalho sem que ninguém tenha que apontar o menor erro ou o menor acerto, também.
5. Conte-nos um pouco sobre sua experiência no longa-metragem “Todo Mundo Ainda Tem Problemas Sexuais”. Como foi trabalhar com Gabriel Portela?
O processo da pré-produção e das rodagens em si foram muito incríveis. A Renata fez questão de que a Priscila Rozenbaum (atriz, viúva de Domingos) estivesse com a gente pensando sobre os personagens e construindo essa história. Tem algo parecido com o Pluft no sentido de ser uma obra de um autor muito conhecido e que já foi montado por outras pessoas. Queríamos resgatar esse ar clássico do Domingos, ainda que o filme seja completamente novo. Foi uma experiência que nunca vou esquecer.
6. “A Miss” ainda não tem previsão de estreia. Como foi interpretar a versão jovem de Ieda e dividir o papel com Helga Nemetik?
Apesar de não termos contracenado (logicamente kkkk), tivemos alguns dias de preparação juntas para tentar uma construção de trejeitos parecida, que era pra dar a leitura de que éramos a mesma personagem. A Helga é uma atriz que eu já admirava antes e fiquei feliz de poder vê-la trabalhando. É muito sensível e uma ótima atriz.
7. No filme “Álbum em Família”, você trabalhou com grandes nomes da dramaturgia brasileira. Como foi essa experiência de filmagem remota durante a pandemia?
De longe, a experiência mais diferente que já tive na profissão. Foi uma sorte muito grande, um oásis no meio do deserto. No meio da pandemia, louca para atuar e sem poder, me vem essa oportunidade. Foi muito legal! Eu não tinha nenhuma experiência no audiovisual, então foi tudo muito novo, não só para mim, mas para toda a equipe, já que era um filme remoto.
8. Você teve um papel importante no curta “Cojones, Marina”. Como foi interpretar uma personagem que romantiza sua vida como um musical?
A Nina foi uma personagem muito querida. Eu, pessoalmente, sou meio o contrário dela, então foi um máximo construir. Encontrar, nos detalhes, onde morava a Nina em mim. Apesar de ser um curta, o processo de filmagem foi longo, então eu fiquei bastante tempo com ela no corpo e na mente. Foi um curta gravado entre amigos, todos adolescentes, e que teve uma repercussão linda! Exibimos no cinema, foi para vários festivais, foi incrível. Até hoje guardo com muito carinho esse projeto.
9. Como foi sua transição do teatro amador para o profissional, especialmente no Tablado, que tem uma história tão rica?
Acho que foi um curso orgânico. Estudo há muitos anos e busco sempre me profissionalizar mais. Apesar de ter registro, vários anos de prática, acredito que é importante sempre se manter estudando. Então, essa transição acontecer no Tablado, especificamente, que foi onde também fiz teatro amador durante muitos anos, foi natural e muito esperado por mim. O Tablado é um curso livre, mas acho que muitos alunos que seguem a profissão sonham com a temporada na casa por uma questão de afinidade. Comigo não era diferente.
10. Você foi indicada ao Prêmio APTR de 2023 como “Jovem Talento” por sua participação na peça “O Cálice”. O que essa indicação significa para você?
– Quando vimos a indicação, ficamos todos loucos. Era a primeira peça profissional da imensa maioria do elenco e a indicação foi muito significativa para nós porque não foi um, ou dois de nós, mas o elenco como um todo. Foi uma peça feita com muita gente e sermos reconhecidos pelo nosso trabalho grupal foi muito especial.
11. Se você pudesse interpretar qualquer personagem fictício, qual seria e por quê?
– Tenho muita vontade de interpretar alguns clássicos da comédia grega, por exemplo, mas isso no caso do teatro. No audiovisual, tenho esse sonho de fazer vilã. Acho que ia me divertir muito.
12. Qual é o seu lanche favorito nos bastidores?
Bolo com café. Entre cenas, é o gás perfeito.
13. Se você não fosse atriz, o que você acha que estaria fazendo agora?
Sendo muito triste! Rs. Realmente não consigo imaginar um mundo em que eu não faça isso. Talvez seja pela sorte de ter descoberto muito cedo, então, nem tive muito tempo para pensar em outras coisas que gostasse tanto quanto atuar, apesar de ter muitos interesses. Acho que se tivesse que escolher, não sairia da área, como por exemplo seguir carreira acadêmica, pesquisar sobre o teatro e o cinema, eventualmente um diploma em teoria do teatro, quem sabe.
14. Você mencionou a romantização da profissão de artista. Acha que isso afeta a forma como o público vê os atores?
Demais! Acho que já partimos do ponto de que se o ator está sendo visto pelo grande público, ele automaticamente já se torna símbolo de uma romantização. São raras as vezes em que vemos pessoas na televisão e naturalizamos vê-las na rua, por exemplo. Acho que parte disso é algo muito legal da profissão que é o apoio do público, o consumo fiel e isso é muito engrandecedor, mas ao mesmo tempo, a ideia de que o ator é, antes de ser um profissional, uma celebridade, me incomoda. É um ramo muito difícil e cheio de altos e baixos. Até alguém que já esteve no topo, tendo toda a glamurização possível pode, depois de alguns anos, parar de ter oportunidades de trabalho e voltar para a ralação da profissão.
15. Qual é a sua opinião sobre a importância da formação acadêmica para os atores?
Considero que a formação acadêmica, especificamente, não é obrigatória. A formação, sim. E essa formação pode vir das mais diversas formas, respeitando os diversos acessos a ela, mas tem que vir. Por isso é tão importante lutar pelo acesso à cultura e à arte-educação. No caso da academia, minha opinião é que, apesar de ser um lugar que pode ser muito excludente, também pode ser um facilitador do acesso ao conhecimento. É controverso, mesmo. A gente precisa sempre lutar pela ampliação do acesso às universidades públicas e pela atualização das bases curriculares para que um dia a academia seja mais aberta, menos elitista. Uma vez que as portas da universidade estiverem de fato abertas, vai ser um lugar perfeito para o aprendizado, para o laboratório, para a pesquisa, para os projetos autorais, etc. Sou muito feliz sendo estudante de Atuação Cênica. Tenho o maior orgulho.
16. Você já enfrentou alguma situação de preconceito ou desvalorização na sua carreira por ser jovem?
Acho que não por ser jovem, mas por escolher a área com muita convicção, talvez. Já ouvi de muita gente, colegas, professores, desconhecidos ou conhecidos, familiares ou não, muitos comentários a respeito da responsabilidade de escolher uma área assim, a dificuldade de se manter, etc. Isso todo artista ouve sempre. A gente precisa aprender a ouvir por um ouvido e deixar sair pelo outro. Para desmotivar, sempre vai ter gente. Precisamos nos apegar aos incentivadores, mas sempre mantendo os
pés no chão, claro.
17. Como você vê sua carreira daqui a cinco anos?
Pretendo estar formada e cheia de boas histórias para contar sobre experiências profissionais que me engrandeceram. Mais cinema, mais televisão, mais teatro, mais desafios. Que assim seja!
18. Qual foi o momento mais desafiador da sua carreira até agora?
Talvez tenha sido negar alguns trabalhos em respeito ao que eu acredito como artista, ainda que isso gere uma ansiedade em conseguir se manter no meio depois do não.
19. Você mencionou que seu sonho é que as pessoas valorizem o ensino público de teatro. Como você acha que isso pode ser alcançado?
Começando da base: teatro nas escolas com infraestrutura necessária e centros culturais públicos por toda a cidade com programação infantil obrigatória. Acho que se nossas crianças crescerem consumindo teatro e botando a mão na massa, vão virar adultos que compreendem a importância da arte no desenvolvimento e lutar por isso na política.