Entrevista: Rafael Saraiva, ator e roteirista

1. Rafael, você começou sua carreira no teatro com apenas 22 anos e agora faz parte do renomado Porta dos Fundos. Como você descreveria essa jornada incrível até aqui?
Tem sido um caminho de muita entrega. Vivo minha vida para produzir arte e levar alegria e riso para as pessoas. Tenho 22 anos, sou muito jovem, mas já me sinto recompensado com tudo que tenho vivido. Desde os 11 anos faço aulas de teatro, justamente quando o Porta dos Fundos começou. Eram minhas referências, e agora trabalhar com esses caras é a realização de um sonho. Não poderia estar num lugar melhor e onde me sentisse mais feliz.
2. Integrar o Porta dos Fundos é um grande marco na sua carreira. Pode nos contar como foi receber o convite e como tem sido trabalhar com esse grupo de comediantes tão talentosos?
Até a entrada para o elenco fixo, já tinha trabalhado com alguns dos integrantes. O diretor Ian SBF é um ponto divisor na minha vida. Fui fazer um esquete para o Porta (num evento para fãs), ele me curtiu e me trouxe pra perto dele. Fiz um filme dele, fui colocado para escrever um projeto no Porta, e chamado para um programa na Internet. Também, novinho, fiz um filme com Gregório. Por fim, o Antônio Tabet (a quem também sou eternamente grato) me assistiu no teatro e, como meus vídeos começaram a fazer sucesso na internet, começamos a conversar sobre essa possibilidade. São referências e pessoas muito generosas.
3. Muitos comediantes enfrentam desafios lidando com cenas improvisadas. Você está acostumado a improvisar há mais de 10 anos. Como isso influenciou sua habilidade de atuação e comédia?
Acho que a matéria prima do improviso e da comédia é a mesma: a surpresa. O improvisador surpreende o público o tempo inteiro com a capacidade de criar um universo, assim como o comediante, para produzir o riso, precisa puxar o tapete da plateia. Então, acredito que essas duas formas se retroalimentam. Por isso, tantos improvisadores são tão hilários e tantos comediantes improvisam bem.
4. Durante a pandemia, você criou conteúdo engraçado em casa para o Instagram, o que impulsionou seu número de seguidores. Como você encontrou inspiração para continuar sendo criativo em um momento tão desafiador?
A inspiração veio do desespero. Sou cria do teatro e, durante a pandemia, não tínhamos a mínima perspectiva. Isso começou a me afetar e precisei dar vazão de alguma forma. E o humor foi a forma natural que encontrei, porque está ligado a minha personalidade. Fiquei muito feliz e surpreso com o sucesso dos vídeos, não esperava que fosse tão rápido.
5. Você é não apenas um ator, mas também um roteirista. Como é equilibrar essas duas funções e como uma influencia a outra em seu trabalho?
Dedico meu tempo para minha função de ator. Mas acho importante que o artista tenha essa capacidade de dialogar com outras etapas da criação. E estudar roteiro me faz ter uma nova percepção sobre os textos que interpreto, porque entendo melhor os objetivos da cena que foi escrita. Da mesma forma, escrevo já pensando na forma que visualizo aquele texto sendo interpretado, até porque geralmente eu interpreto meus textos.
6. Rafael, você estudou Comunicação – novas mídias – cinema na PUC Rio. Como sua formação acadêmica influenciou sua abordagem para o mundo do entretenimento?
A comunicação tem mudado muito. Quando entrei na faculdade, em 2019, era outro curso. Estar ali na faculdade me faz ter contato direto com essas mudanças, que são objeto de estudo tanto dos alunos quanto dos professores, que estão se modernizando. Isso me faz ter contato e estar sempre atualizado das novidades.
7. Além do Porta dos Fundos, você está envolvido em vários projetos, incluindo o programa “Na Tela da Glô”. Pode nos contar mais sobre esse projeto e como ele se encaixa em sua carreira?
O Na Tela da GLÔ foi o projeto que escrevi com meu melhor amigo Samuel Valladares para o YouTube da TV Globo. Foi um projeto muito divertido, em que abordávamos a programação cinematográfica da televisão com humor. Além disso, conheci muitas pessoas bacanas nesse projeto. Gostei da experiência de escrever um programa que fosse de humor, mas acima de tudo, de informação. Acho essa mistura interessante.
8. Você tem uma vasta experiência no teatro, incluindo peças premiadas e trabalhos inspirados em grupos de comédia internacionais. Como essas experiências teatrais moldaram sua visão artística?
O teatro é um quintal de casa. É o lugar que me sinto seguro, confiante, o lugar que me traz paz pra ser quem eu sou. O teatro foi fundamental pra eu me curar de medos e ansiedades, e me ajudou a aceitar quem eu sou, com o que tenho pra oferecer pro mundo. Todo espetáculo é um universo novo, mas o encontro, a presença, a troca, e a sensação de estar pulsando são sempre o que me trazem de volta para o teatro.
9. Nos últimos anos, seus vídeos online alcançaram milhões de visualizações. O que você acha que torna seu conteúdo tão cativante para o público online?
Realmente não sei. Fiquei surpreso. Mas diria que meus vídeos trazem um componente de um humor mais irônico que a internet não produz tanto. Numa geração de memes e piadas mais instantâneas, busquei um conteúdo que priorizasse o texto. Acho que isso pode ter sido um diferencial, mas não sei.
10. Para os aspirantes a comediantes e artistas, quais conselhos você daria sobre como criar oportunidades e se destacar na indústria do entretenimento?
Coragem. O artista precisa ter coragem. Não deixe o medo de exposição te paralisar. O que a vida quer da gente é coragem.