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<strong>Projeto Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu, em Niterói inaugura circuito de fotocerâmicas com imagens históricas, em mostra permanente aberta ao público no dia 31 de março (6ªf), na Vila dos Pescadores</strong>

Projeto Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu, em Niterói inaugura circuito de fotocerâmicas com imagens históricas, em mostra permanente aberta ao público no dia 31 de março (6ªf), na Vila dos Pescadores

Cerâmicas queimadas a 1000ºC eternizam mais de 60 imagens – das famílias tradicionais, do MAI – Museu

de Arqueologia de Itaipu e de célebres fotógrafos,

como Ruy Lopes e Luiz Bhering

O navio Camboinhas encalhado (original e fotocerâmica)

Para preservar a memória de Itaipu, valorizar seu patrimônio e suas comunidades tradicionais, a região oceânica de Niterói ganha mostra permanente, com o selo Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu, a partir de 31 de março, 6ªf, na Vila dos Pescadores, com mais de sessenta imagens eternizadas em circuito aberto ao publico, com acessibilidade de audiodescrição acessado por QRCode

O projeto idealizado pela produtora cultural e ceramista, Julia Botafogo, conta com fotografias do arquivo pessoal das famílias da região e do acervo do MAI – Museu de Arqueologia de Itaipu, que reúnem registros da Marinha do Brasil, do Iphan e 400 fotos de Ruy Lopes, este último retratou Itaipu nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Além de imagens do fotógrafo Luiz Bhering. 

“Os painéis de fotocerâmica estimulam o conhecimento e reconhecimento da história do lugar e sua ancestralidade. Valorizam e divulgam o patrimônio cultural e suas memórias – fundamentais na manutenção e conservação do lugar”, reflete Julia Botafogo.

Fotografias das décadas de 1940 e 1950, bem como imagens mais contemporâneas são transformadas em fotocerâmica, em processo artesanal, desde a confecção das placas, até a queima final, com a transferência feita ainda com a argila crua, com óxido de ferro e, posteriormente, levadas a queima do biscoito a mais de 1000º, quando até a lava de um vulcão não pode derreter, já que a temperatura expelida pelo vulcão é de 900º. O Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu, foi possível ser realizado a partir do patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa – SECEC, e conta com apoio do MAI – Museu de Arqueologia de Itaipu, Administração Regional da Região Oceânica de Niterói, Quintal dos Pescadores de Itaipu, Comissão de Pescadoras e Pescadores Artesanais de Itaipu e Projeto Arte em Rede RO.

“A cerâmica é resistente ao clima – sol e chuva –, e o tempo cronológico atravessará muitas gerações. Assim, perguntamos o que se quer eternizar, o que queremos compartilhar com as futuras gerações!!”, ressalta Julia Botafogo

As fotocerâmicas são distribuídas em três painéis de 1m X 1m, instalados em duas casas de moradores, de famílias tradicionais, no canto Vila dos Pescadores, na Praia de Itaipu:  casa do pescador Aureliano Mattos de Souza (Seu Cambuci); da Lanchonete da Luciane (antigo bar do Luiz Português); e no Rancho do Mestre Maurinho. Seu Cambuci é neto e filho de pescadores e acompanha a pesca desde os seus cinco anos de idade. Seu pai, Seu Caboclo, foi um dos fundadores da colônia de pescadores de Itaipu. Luciane Freitas de Abreu, é neta, filha e irmã de pescadores, nascida e criada em Itaipu, família tradicional que morou nas ruínas do Recolhimento de Santa Teresa na década de 1960 – atualmente no local está o Museu de Arqueologia de Itaipu, o MAI. E, Mauro de Souza Freitas, Mestre Arrasto de Praia e vive da pesca como uma atitude de valorização diária da cultura e tradicionalidade do território pesqueiro de Itaipu.

O circuito mostra para os visitantes que ali não é só uma lanchonete, ali tem uma família tradicional que detém o conhecimento local.”, explica Julia Botafogo

Dois artistas assinam a curadoria. São eles: Eliana Leite, com “Memórias de Itaipu nos anos 1990”: Registros afetivos do cotidiano de Itaipu nos anos 1990: antigos pescadores artesanais, comunidade tradicional do Morro das Andorinhas e da geografia do canto de Itaipu; e Ademas da Costa, o Dimas, com “Inventário de Gestualidades dos Pescadores Artesanais Tradicionais de Itaipu”: O Inventario de Gestualidades é uma referência ao cotidiano dos Pescadores de Itaipu e ilustra os saberes e os fazeres de sua arte tradicional; além dos artistas convidados: Luiz Bhering com “Território de Pesca e Poesia” – resultado de dois anos fotografado a rotina de trabalho do território; e Tainá Mie, com “Itaipu: entre a Floresta, a Lagoa e o Mar” – pesquisa sobre a história de Itaipu, os povos que habitaram essa região e sua relação com natureza. 

“O resgate da memória da pesca artesanal e aspectos da cultura local é fundamental para reafirmar o território pesqueiro de Itaipu como sobrevivente de um processo rápido de descaracterização e gentrificação”.

(Eliana Leite)

Com acessibilidade, o Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu ganha visita guiada acessível a partir do Pórtico da Vila dos Pescadores, na praça de Itaipu, com recurso de audiodescrição – que permite acesso de pessoas com deficiência visual ao trajeto, até os locais onde os painéis serão instalados. Com áudio disponibilizado através de QR Code no pórtico, os painéis fotocerâmica podem ser “tocados”.

Além do canto de Itaipu ser considerado reserva extrativista, a Pesca Artesanal de Itaipu também é Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Niterói (LEI Nº 2874, DE 13/12/2011). São muitas imagens que retratam muitas histórias vivenciadas ao longo de gerações, como a abertura “na mão” do canal que divide Itaipu e Camboinhas. Na foto original do acervo da família de José Augusto da Silva, o Zequinha,  a imagem mostra o canal antes de ser aberto definitivamente. Canal que faz a ligação da Lagoa de Itaipu com a praia, ainda sem o enrocamento de pedras, a estrutura que tornou a ligação com o mar definitiva. Quando a maré enchia muito, o nível da lagoa de Itaipu subia e alcançava o cemitério e a delegacia. Então, os pescadores se reuniam com pás e enxadas e abriam o canal para baixar o nível da lagoa.

“A ideia é criar um circuito onde o espectador possa, através da arte, fruir por diferentes informações, se reconhecer, descobrir a diversidade cultural e despertar para sensações. Como já realizamos no município de Silva Jardim”, argumenta Julia Botafogo.

“O Quintal dos Pescadores é uma evidência de que a comunidade tradicional já estava ali desde o século XVIII.” 

(Ademas das Costa – Artista e Historiador)

Serviço:

Mostra Arte Pública Cerâmica – Edição Itaipu

Abertura: 31 de março de 2023 | 6ªf | Mostra Permanente

Local: Praça da Vila dos Pescadores

Endereço: Praia de Itaipu

Horário: 17 horas

Aberta ao público

Acessibilidade: Circuito com audiodescrição

Idealização, coordenação e realização: Cerâmica Julia Botafogo

Instagram: @artepublicaceramica

SOBRE JULIA BOTAFOGO

Julia Botafogo é Produtora Cultural formada pela UFF e mestrado Universidade Carlos III de Madrid. Além da cerâmica trabalha com cinema, focada em projetos na autorrepresentação positiva de grupalidades não-hegemônicas, pensando sempre nos recortes de classe, raça, gênero, sexualidade e sócio-ambientais, através de realizações, parcerias, agenciamentos e alianças, com o compromisso com as lutas políticas de libertação e autonomia. Seus últimos trabalhos foram: a idealização do Selo Arte Pública Cerâmica com sua primeira edição realizada em Silva Jardim e a fotografia do longa “Tiriyó” de Merlane Tiriyó realizado em parceria com Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPE) com patrocínio da NIATERO. Na sua trajetória destaca os Prêmios: “Rumos Itaú Cultural” com o projeto “Imagens Expandidas” (2014) e a produção e fotografia do curta “Canta um Ponto” (2015).

SOBRE OS ARTISTAS E PESQUISADORES PREMIADOS

Sobre Eliana Leite | @elianacbleite 

Engenheira agrônoma, moradora de Itaipu desde 1987 e voluntária do Fórum das Comunidades Tradicionais de Niterói. Diretora dos filmes “Itaipu era uma praia só I” e “Itaipu era uma. praia só II”. E autora do livro “Morar lá em cima é tudo”.

Sobre Ademas | @ademasdacosta 

Nascido e criado em Itaipu, Dimas se formou em História pela UFF e vem produzindo pesquisas e publicações sobre a pesca tradicional da comunidade local e a urbanização da cidade de Niterói.

SOBRE ARTE PÚBLICA:

Tadeu Chiarelli define: “as pessoas tendem a confundir “arte pública” e “arte em espaços públicos”. Creio que “arte pública” é o conjunto de obras que deve pertencer a uma determinada comunidade, estar disponibilizada aos elementos que a constituem. Tal conjunto deve estar disponibilizado em espaços de passagem (ruas, parques etc.), não apenas por meio de sua exposição, mas também através de serviços educativos que as tornem mais efetivamente claras para o público – seu proprietário.”

SOBRE A FOTOCERÂMICA:

O projeto enxerga a fotografia como ferramentas de comunicação subjetiva, e busca trabalhar a arte como chave conceitual para transformação, estimulando a expressão da necessidade da observação, conhecimento e reconhecimento. A respeito da fotocerâmica podemos dizer que se trata de uma possibilidade de expressão que foge da homogeneidade visual repetida à exaustão. No fazer cerâmico, não temos o controle total: “Engana-se quem acha que o diálogo está somente no processo de modelar, ele estende-se na secagem, na queima, no revestimento, enfim, em todo o processo. O processo traz o inesperado, a surpresa, o que foge de nosso pseudo controle ajudam a construir uma linguagem própria e autêntica.” (Rodrigo Núñez – Laboratório de Cerâmica Artística à Distância).

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